Londres – A Federação Internacional de Jornalistas(IFJ) aproveitou o Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, para cobrar das empresas jornalísticas e também de sindicatos e associações de classe mais empenho no combate ao abuso online a mulheres jornalistas.
Duas pesquisas realizadas pela organização sediada em Genebra no início de 2022 mostram que há um longo caminho a percorrer: 79% dos sindicatos e associações de vários países admitiram ter conhecimento de casos de abuso entre seus membros.
No entanto, apenas 1 a cada cinco entrevistados disse que a empresa jornalística em que trabalha oferece mecanismos para mulheres jornalistas e profissionais de mídia denunciarem abusos online e serem apoiadas e protegidas.
Abuso a jornalistas dentro e fora das redações
De acordo com uma investigação da IFJ feita em 2021, quase dois terços das profissionais de mídia sofreram intimidação, ameaças ou abuso em reação ao seu trabalho, seja offline ou online.
O abuso pode vir de todas as direções: colegas e superiores, fontes, autoridades governamentais ou anônimos nas redes sociais.
Apenas metade das mulheres atacadas online denunciou os atos à sua empresa, ao sindicato ou à polícia. E em dois terços dos casos nada foi feito, diz a Federação.
Em maio do ano passado, uma pesquisa da Unesco mostrou que nunca tantas mulheres jornalistas foram vítimas de assédio pela internet, com mais de sete em cada 10 entrevistadas relatando ter sofrido violência online.
A pesquisa The Chilling: global trends in online violence against women journalists, que entrevistou 901 profissionais de 125 países, mostra que a violência online tornou-se a mais importante forma de intimidar o trabalho da imprensa, principalmente das mulheres.
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No entanto, o perigo não se restringe à internet. As entrevistadas revelaram que o abuso online envolve com frequência em ameaças de violência sexual ou física, muitas das quais acabam se tornando realidade.
Uma em cada cinco das jornalistas ouvidas disse ter sofrido ataques ou abusos no âmbito off-line decorrentes das ameaças online.
Poucos acordos coletivos para proteger jornalistas de abuso
Para atualizar a situação, a IFJ fez duas novas pesquisas. Uma delas ouviu 56 sindicatos e associações afiliados, e apurou que 75% fizeram do abuso de mulheres jornalistas uma questão prioritária em sua agenda.
Entre as medidas mais adotadas pelas entidades de classe para apoiar profissionais vítimas de abuso estão assistência jurídica, declarações públicas condenando os agressores, treinamentos sobre segurança digital e diretrizes para prevenir assédio.
Algumas organizações foram além e criaram comitês nacionais para a segurança de jornalistas e plataformas para denunciar ataques ou linhas de ajuda jurídica gratuitas .
No entanto, apenas 16% conseguiram ratificar acordos coletivos relacionados ao abuso online.
O secretário-geral da FIJ, Anthony Bellanger, manifestou preocupação com a situação:
“Como profissionais de mídia, não podemos simplesmente sentar e assistir.
A falta de acordos coletivos que abordem o abuso online é uma preocupação real.
Nossas pesquisas mostram como os sindicatos e associações de jornalistas estão prontos para agir, mas precisamos de organizações de mídia engajadas, e devemos agir juntos para erradicar o abuso online em nome da liberdade de imprensa ”.
Pouca prioridade para o abuso nas redações
Ao analisar as iniciativas lançadas por organizações de mídia para combater o abuso online, os resultados da segunda pesquisa confirmaram que há muito a fazer, segundo a IFJ.
Foram ouvidos 161 jornalistas, profissionais de mídia e gestores de 37 países. Além de apenas um quinto confirmar que sua organização dispõe de algum protocolo para reportar abuso, dois terços dos entrevistados afirmaram que o assédio online não era uma prioridade para sua empresa de mídia , e 44% disseram que o assunto nem foi discutido internamente.
A presidente do Conselho de Gênero da IFJ, Maria Angeles Samperio, chamou a atenção para a situação ainda mais vulnerável das freelancers.
“ Muitas mulheres jornalistas, em particular freelancers, são afetadas por abuso online e deixam as mídias sociais para evitar mais assédio.
As pesquisas mostram que muito trabalho precisa ser feito pelas organizações de mídia para tornar as redações mais seguras e protocolos concretos para erradicar o problema.
É hora de introduzir mecanismos claros na mídia para mostrar uma tolerância zero contra o abuso de mulheres jornalistas”.
Na Índia, mulheres jornalistas foram colocadas “à venda”
Um dos casos mais emblemáticos dos riscos de abuso a que mulheres jornalistas estão submetidas aconteceu na Índia, envolvendo figuras conhecidas do jornalismo local.
Elas estavam entre cerca de 100 mulheres muçulmanas oferecidas em falsos leilões por meio de um aplicativo de celular, retirado do ar no dia 3/1 depois que o caso ganhou visibilidade internacional.
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As punições para abuso são raras, mas acontecem. Em dezembro passado, uma jornalista belga e uma britânica conseguiram vitórias judiciais sobre homens que praticaram abuso online contra elas.
Na Bélgica, um homem que assediou a jornalista e escritora Myriam Leroy por nove anos foi condenado à prisão e ao pagamento de uma indenização no dia 21 de dezembro.
No Reino Unido, a ex-apresentadora da BBC Louise Minchin, cujo perseguidor ameaçou estuprar sua filha adolescente, recebeu a notícia da condenação dele em 22 de dezembro. O homem pegou dois anos e oito meses de prisão.
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