Londres – Depois de uma década preso na Arábia Saudita por criticar a classe dominante religiosa do país, o blogueiro e ativista Raif Badawi foi libertado nesta sexta-feira (11), mas a família não recebeu informações sobre se ele poderá viajar para o Canadá, onde vivem sua mulher e três filhos, ou se terá que cumprir algum outro tipo de sentença. 

Badawi foi preso em 2012 e condenado em 2014 a 10 anos de prisão, 1.000 chicotadas e uma multa de um milhão de riais sauditas (R$ 1,35 milhão) por criticar os clérigos do país em suas postagens.

A crueldade da sentença aplicada a Badawi atraiu ampla condenação internacional, e várias organizações, governos e grupos de defesa pediram sua libertação ao longo dos anos.

Vídeo mostra blogueiro preso sendo açoitado diante do público 

As imagens de Badawi recebendo chicotadas em janeiro de 2015 em uma flagelação pública foram compartilhadas nas redes sociais, e mostram uma plateia de sauditas aplaudindo ao final. 

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A libertação foi confirmada pela mulher do blogueiro preso, Ensaf Haidar, que mora com os filhos do casal em Quebec e em 2018 ganhou cidadania canadense. Ela disse à mídia do Canadá que ficou emocionada com a notícia e confirmou ter falado com Badawi por telefone.

Irwin Cotler, advogado de direitos humanos que representa Badawi internacionalmente, disse que a libertação da prisão já era esperada para este mês de março. O prazo da sentença encerrou-se em 28 de fevereiro. 

Ex-ministro da Justiça Federal do Canadá e fundador do Raoul Wallenberg Center for Human Rights, Cotler alertou que Badawi estaria em uma espécie de “prisão sem muros”. O blogueiro ainda enfrenta uma proibição de viagem de 10 anos, uma proibição de mídia e uma multa que foi proferida no momento da sentença.

“Enquanto aguardamos mais informações sobre as condições de sua libertação, esperamos que as autoridades sauditas permitam  seu reencontro com a esposa e filhos pequenos no Canadá, que foram privados de seu marido e pai por 10 anos”, disse Cotler em um comunicado. 

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A porta-voz da família também cobrou do governo do Canadá maior engajamento para tirar Badawi da Arábia Saudita.

“Cabe agora ao governo canadense conseguir trânsito seguro ou um documento de viagem para que ele possa se juntar à sua família em Quebec.”

O primeiro-ministro Justin Trudeau disse estar aliviado por Badawi finalmente ter sido libertado.

“Meus pensamentos estão com sua família e amigos que o defenderam incansavelmente por quase uma década”, disse Trudeau no Twitter. “Nossos funcionários agora estão trabalhando para esclarecer as condições de sua libertação.”

O advogado Irwin Cotler revelou ter escrito para o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, pedindo pela autorização de viagem para seu cliente.

“Badawi foi condenado por fundar um site para diálogo pacífico e aberto”, escreveu Cotler. “Ele não representa nenhuma ameaça à  segurança. Seu único desejo é se reunir com a família que está a mais de 10 mil quilômetros de distância, para que possa viver seus dias como um marido e pai dedicado”.

Depois da libertação, entidades internacionais de defesa da liberdade de imprensa e dos direitos humanos como a Repórteres Sem Fronteiras se manifestaram em favor da autorização para Badwin deixar a Arábia Saudita e seguir para o Canadá.

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