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Casamento de Julian Assange na prisão é marcado para 23 de março, com apenas 2 convidados e sem fotógrafo
Luciana Gurgel
Londres – Poderia ser o casamento do ano em Londres, mas apenas quatro pessoas – dois convidados e dois guardas prisionais – assistirão ao enlace entre o fundador do Wikileaks, Julian Assange, e sua companheira Stella Moris, finalmente marcado para o dia 23 de março depois de uma batalha judicial.
Embora o direito de se casar na prisão seja assegurado no Reino Unido por uma lei de 1983, o casal teve que recorrer à justiça em outubro passado para receber a autorização de realizar a cerimônia na prisão de segurança de Belmarsh, onde ele está há quase três anos aguardando o resultado final do processo de extradição movido pelos EUA a fim de julgá-lo em solo americano pelo vazamento de informações militares confidenciais.
Mesmo com poucos convidados, os noivos se apresentarão em grande estilo, com trajes desenhados pela estilista britânica Vivienne Westwood, uma das celebridades que defende a libertação do fundador do Wikileaks. Ele usará um ‘kilt’, para lembrar sua ascendência escocesa.
Casamento de Assange tinha sido pedido em maio
A autorização para o casamento, que vinha sendo tentada desde maio passado, foi confirmada pela companheira de Assange, Stella Moris, com quem ele tem dois filhos de três e quatro anos, Max e Gabriel,
Wedding update: Belmarsh has scheduled our wedding!!
Stella Morris é advogada e conheceu Assange durante seu asilo na embaixada do Equador, que durou quase sete anos. Os filhos nasceram enquanto ele estava na representação diplomática.
O casamento vai acontecer durante o horário de visitas e será rápido, segundo a companheira do fundador do Wikileaks, com os convidados tendo que sair imediatamente após a celebração.
Sem fotos do casamento de Assange
Entre os privilegiados que assistirão à união de Julian Assange estão os guardas prisionais. Por enquanto, as imagens serão capturadas pelas câmeras de segurança da cadeia, o que não agradou aos noivos.
Moris tenta obter autorização para um fotógrafo documentar a cerimônia, o que ainda não foi confirmado pela administração de Belmarsh. Em entrevista ao jornal Daily Mail, ela reclamou da dificuldade:
‘Tudo o que queremos é ter um fotógrafo em quem confiamos para tirar fotos nossas no dia do casamento, como qualquer outro casal.
“Acho que o Ministério da Justiça e Belmarsh estão extremamente nervosos com imagens fortes que mostrem Julian como um homem normal se casando, apenas sendo um humano.
“Sinto como se eles estivessem tentando fazer Julian desaparecer dos olhos do público. Se as pessoas o virem em seu próprio casamento, elas serão lembradas de que ele ainda está em prisão preventiva e que o que está sendo feito com ele não pode ser considerado justo ou humano.“
Vivienne Westwood assina kilt e vestido do casamento
Uma das mais célebres estilistas britânicas, Vivienne Westwood, foi a escolhida para desenhar as roupas usadas pelo casal. Ela tem sido uma firme defensora do fundador do Wikileaks.
No aniversário de 50 anos de Assange, protagonizou um ato de protesto destruindo o bolo em sinal de protesto pelos atos do Estado contra ele.
A ideia de usar o saiote escocês pode ser interpretada como uma sinalização ao Reino Unido de que ele tem ligações com o país, embora seja australiano.
À agência de notícias PA, a noiva de Julian Assange disse que estavam animados, apesar das restrições.
“Julian está ansioso pelo casamento porque finalmente está acontecendo, muitos meses depois de fazermos o pedido”.
O casal espera ter uma recepção de casamento quando Assange for um homem livre. Quanto a uma lua de mel? “Estar juntos em casa um dia é o destino mais exótico que podemos imaginar”, disse Stella.
Ela voltou a criticar o Reino Unido por manter Assange preso:
“Ele está sendo mantido em nome de uma potência estrangeira e não foi acusado de nada, o que é completamente vergonhoso.”
Entenda o caso de Julian Assange
Assange, um cidadão australiano, foi preso em Londres depois de passar mais de seis anos na embaixada equatoriana como forma de evitar a extradição para a Suécia, onde respondia a um processo por agressão sexual, e depois para os EUA, por crimes contra a segurança nacional.
O fundador do Wikileaks é processado pelos Estados Unidos sob alegação de uma conspiração para obter e divulgar informações de defesa nacional após a publicação de centenas de milhares de documentos vazados relacionados às guerras do Afeganistão e do Iraque no site.
Ele pode ser condenado a até 175 anos de prisão por 18 acusações. Em janeiro de 2021, a juíza distrital Vanessa Baraister acatou a tese da defesa de Assange e impediu a extradição, sob a justificativa de que ele corria risco de cometer suicídio se fosse para uma prisão de segurança máxima nos EUA.
Os EUA passaram o ano tentando mudar a decisão. Em fevereiro, a justiça britânica concedeu ao país o direito de recorrer apenas em três aspectos processuais que não envolviam o laudo médico apontando risco de suicídio, e segundo analistas tinham pouca chance de mudar o veredito.
No entanto, os advogados do Departamento de Estado americano apresentaram à corte uma série de garantias com o objetivo de atenuar o suposto risco de suicídio, entre elas a de que ele não ficaria submetido a regime especial de isolamento em uma prisão de segurança máxima.
Um dos advogados de Assange, Edward Fitzgerald , disse na época que as “garantias qualificadas e condicionais” foram apresentadas “tarde demais para serem devidamente testadas” e “não prejudicam as principais conclusões” do juiz distrital que aplicou a lei “estrita e inteiramente de forma adequada”.
Em nova audiência em outubro, o advogado sustentou que a juíza Vanessa Baraister produziu em janeiro um “julgamento cuidadosamente considerado e totalmente fundamentado”, acrescentando que estava “claro” que ela “aplicou corretamente o teste de opressão em casos de transtorno mental”.
E disse ao tribunal: “É perfeitamente razoável considerar opressor extraditar uma pessoa com transtorno mental porque sua extradição pode resultar em sua morte”, acrescentando que um tribunal deve ser capaz de usar seu poder para “proteger as pessoas da extradição para um estado estrangeiro onde não temos controle sobre o que será feito a eles ”.
Planos para matar Assange
Outro fundamento da defesa de Julian Assange na sessão de outubro foram as revelações feitas pelo site de notícias Yahoo em setembroa respeito de planos dos EUA para sequestrar e matar o fundador do Wikileaks em 2007, quando ele estava asilado na Embaixada do Equador.
Na época, Assange entrava em seu quinto ano asilado na embaixada do Equador em Londres, e, segundo o Yahoo, funcionários do governo Trump debatiam a legalidade e a viabilidade de uma operação para retirar o ativista do local, segundo a apuração.
Altos funcionários da CIA e da administração Trump teriam solicitado “esboços” de como assassiná-lo. As discussões sobre o sequestro e possível assassinato de Assange ocorreram “nos escalões mais altos” do governo Trump, disse um ex-oficial da contra-espionagem ao Yahoo.
A defesa de Assange tentou convencer a Suprema Corte de que ele não poderia ser extraditado para um país que tentou matá-lo.
Mas não teve sucesso. O Departamento de Estado dos EUA conseguiu revogar a decisão em dezembro de 2021, abrindo caminho para a extradição, mas a defesa do ativista anunciou que continuaria tentando evitar a transferência.
Em janeiro deste ano, o Supremo Tribunal decidiu que o fundador do Wikileaks pode solicitar uma audiência ao mais alto tribunal do Reino Unido para apelar da decisão de dezembro, mas não há garantias de que a audiência será concedida.