Londres – A estreia da adaptação para os cinemas de “O Poderoso Chefão” completa 50 anos e será homenageada na cerimônia do Oscar 2022, neste domingo. 

Considerado um dos grandes clássicos do cinema americano, o filme inspirado no livro de Mario Puzo elevou o nível dos filmes de máfia ao estabelecer um alto padrão para as histórias que retratam gângsteres.

É o que aponta Gill Jamieson, professora sênior em Cinema, Televisão e Estudos Culturais da University of the West of Scotland, que analisou os elementos de sucesso da franquia. 

‘O Poderoso Chefão’ e valorização da família

Lançado em 1972, o aclamado filme dirigido por Francis Ford Coppola levou 11 estatuetas douradas na edição do ano seguinte da premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

No Oscar deste ano, “O Poderoso Chefão” será homenageado ao lado de outra grande franquia do cinema: “007”.

O lançamento do primeiro filme de James Bond, “007 Contra o Satânico Dr. No”, completa 60 anos em 2022. Os tributos da Academia para os clássicos aniversariantes acontecem na cerimônia marcada para o dia 27 de março.

Assim como as histórias de James Bond, “O Poderoso Chefão” deixou  um legado para no cinema e na cultura pop, segundo a análise da professora, publicada no portal acadêmico The Conversation. 

Além de construir a visão moderna das máfias, a trilogia de Coppola garantiu legiões de fãs obcecados pelo submundo obscuro do crime organizado comandado por famílias com laços de sangue.

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Para Gill Jamieson, o elemento essencial da história que faz todos os públicos se relacionarem com a trama de “O Poderoso Chefão” é justamente este: a família.

“Essa é uma forte unidade étnica que, como observou o crítico de cinema Todd Gitlins, contrariava a ‘família da televisão americana branca’ do início dos anos 1970.”

O crítico citado pela autora, assim como outros, sentiu que o apelo do filme se devia em grande parte ao fato de fornecer “nostalgia nacional primordial” para uma versão idealizada do passado.

Em “O Poderoso Chefão”, os vilões têm valores — e a dureza do inesquecível solo de trompete do compositor Nino Rota deixa explícito que naquele mundo todos estão abaixo da unidade familiar.

Também citada por Jamieson, a crítica de cinema Pauline Kael descreveu Don Vito Corleone, interpretado por Marlon Brando, como um “monstro sagrado primitivo” que aprovava os jogos de azar, mas achava que a prostituição e o tráfico de drogas eram atos vis e moralmente errados.

Batizado em ‘O Poderoso Chefão’ faz referência a outro clássico do cinema

Segundo a professora, a trilogia “O Poderoso Chefão” fez pelos gângsteres italianos o que o cineasta soviético Sergei Eisenstein – diretor de “O Encouraçado Potemkin” (1925) – fez pelos revolucionários russos: emprestar à história uma seriedade e grandeza épica que desmentiam a brutalidade das lutas de poder envolvidas.

No livro “The Annotated Godfather”, a roteirista Jenny M. Jones descreve a cena do batismo do sobrinho de Michael Corleone intercalada com os assassinatos dos rivais da família como uma homenagem à icônica sequência da escadaria de Odessa em “O Encouraçado Potemkin” – filme amplamente considerado uma obra-prima do cinema do século XX.

“Coppola criou um desfecho operístico, cruzando a calma da igreja e a violência das execuções com acenos deliberados à célebre sequência de montagem de Eisenstein, encenando a ação em degraus e escadas.”

Como apontado por Gill Jamieson, a cena do “Poderoso Chefão” envolve ação simultânea em vários locais – igreja, spa, subúrbio, barbearia, hotel, tribunal – e introduz ousadamente participantes maiores e menores na ação que se desenrola, por isso, é notável por seu escopo e escala.

“Cada assassino é revelado na construção de sua execução: um está fazendo o trabalho pesado em um lance de escadas enquanto dois preparam suas armas e outro faz a barba.

O corte transversal dá uma complexidade à ação que gira em torno de Michael Corleone, interpretado de forma memorável por Al Pacino, realizando os ritos do batismo: longe de rejeitar Satanás, Michael está abraçando os males da vida de gângster.”

O escritor e comentarista cultural Umberto Eco definiu que um filme cult deve oferecer um “mundo totalmente mobiliado” ao qual os fãs possam retornar várias vezes.

O aniversário da trilogia “O Poderoso Chefão” oferece uma oportunidade para os fãs conhecerem ou explorarem mais a fundo este clássico do cinema que inspirou dramas mafiosos modernos, como os filmes “Os Intocáveis”, “O Irlandês” e a série da HBO “The Sopranos”.

A professora Gill Jamieson explica por que assistir ao filme de Francis Ford Coppola:

“Há algo estranhamente reconfortante em entrar para este mundo obscuro e familiar de lealdade e vingança.

Um mundo de homens, armas e molho de macarrão. Um mundo onde a melhor vitela da cidade é servida com uma bala na garganta.”

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