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Jornalistas políticas são principal alvo de ataques no Brasil, mostra estudo apoiado pela Unesco

Brazilian Journalism

Credit: Alexandru Zdrobău/Unsplash

Um estudo derivado do monitoramento de ataques a jornalistas conduzido pela rede Voces del Sur, que reúne 14 organizações latino-americanas, revelou que 127 profissionais e meios de comunicação foram alvo de 119 atos de violência de gênero e ataques contra mulheres jornalistas no Brasil em 2021, voltados sobretudo para as que cobrem política. 

O trabalho foi realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), com apoio do Global Media Defence Fund da Unesco, e mostrou que mulheres jornalistas (cis e trans) representam 91,3% das vítimas. 

O projeto da Abraji inspirou a Voces Del Sur a incorporar ataques com viés de gênero ao monitoramento dos demais países, consolidado anualmente no Relatório Sombra. 

Jornalistas políticas alvo de violência 

Os resultados do Brasil foram apresentados na conferência de Liberdade de Imprensa promovida pela Unesco na Estônia em fevereiro por Cristina Zahar, secretária-executiva da Abraji.

Cristina Zahar, Secretária-Executiva da Abraji (foto: LinkedIn)

A jornalista destacou os ataques políticos 

“Apesar da pandemia e da cobertura de saúde ao longo do ano, a maior parte das agressões desencadeadas pela cobertura jornalística está ligada a agendas políticas e tentativas de impedir o jornalismo de investigar e fiscalizar o Estado.

Mulheres jornalistas que cobrem política foram o alvo principal, como Daniela Lima, âncora da CNN Brasil, que sofreu oito ataques, e Patricia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, que sofreu cinco.”

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Segundo o levantamento da Abraji, profissionais da imprensa e veículos receberam 45 ataques utilizando gênero, sexualidade ou orientação sexual como argumentos para a agressão.

“Discursos estigmatizantes”, narrativas que utilizam agressões verbais com o intuito de hostilizar e descredibilizar jornalistas responderam por 75% dos episódios identificados pela Abraji. 

Outro dado revela que 71,4% dos insultos tiveram origem ou foram repercutidos em ambientes virtuais, como a rede social Twitter.

Os principais agressores identificáveis foram homens, correspondendo a 95% dos abusos dentro e fora da internet. 

O relatório da Abraji monitorou redes sociais como propagadoras de agressões a profissionais de imprensa e registrou 57 ataques sistemáticos envolvendo usuários.

Dentro da análise, constatou-se que 59,9% dos casos de discursos estigmatizantes foram iniciados por publicações de autoridades de Estado e outras figuras proeminentes na política brasileira. Como reflexo, em 60% dos alertas, a vítima cobria ou comentava temas políticos. 

Repórteres e comentaristas políticas são as jornalistas mais afetadas

O levantamento também apurou o perfil das vítimas e sua atuação na imprensa. Do total de casos registrados, as hostilidades são predominantemente direcionadas a repórteres e analistas (85,7%) de meios de comunicação.

Os profissionais mais atacados atuam na televisão (47%); jornais nativos impressos (20,1%); e jornais nativos digitais (14,3%), como aponta a plataforma on-line do projeto.

A região Sudeste lidera o número de ocorrências, com 66,4% dos ataques, seguida por Nordeste (12,6%) e Centro-Oeste (11,7%). 

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“Os constantes ataques de violência de gênero contra jornalistas no país refletem o delicado momento que estamos vivendo. O nosso relatório dá visibilidade ao problema que acompanhamos diariamente. Nossa missão é unir forças e, com base nesses dados e indicadores, buscar soluções”, afirmou Leticia Kleim, assistente jurídica da Abraji e coordenadora do relatório.

Para Kleim, a naturalização dos ataques dificulta traçar um retrato desse tipo de violência. “O relatório vem para dizer que esses episódios são uma forma de violência que soma a censura à liberdade de imprensa a ataques machistas ou LGBTfóbicos e não devem ser aceitos como normais”, completou.

O relatório completo pode ser lido aqui. 

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