Londres – Em sua primeira aparição pública ao vivo após várias semanas reclusa devido a problemas de saúde, a Rainha Elizabeth usou a cerimônia religiosa para marcar o primeiro ano da morte do príncipe Philip para mandar um recado aos que especulavam sobre o destino familiar do príncipe Andrew, escolhendo-o para acompanhá-la no caminho até seu assento na igreja. 

Envolvido em um escândalo de abuso sexual que lhe custou uma indenização que pode ter chegado a R$ 83 milhões para encerrar o processo movido por uma americana que o acusou de manter relações sexuais quando ela era menor de idade, ele tinha sido dado como banido de vez de qualquer atividade pública da família real, mas a monarca de 95 anos sinalizou que o futuro dele pode ser diferente, pelo menos em ocasiões familiares. 

O memorial aconteceu na Abadia de Westminster na terça-feira (29). O príncipe Philip morreu no dia 9 de abril de 2021, aos 99 anos, depois de um casamento de mais de 70 anos com Elizabeth II. 

Dúvidas sobre presença da rainha Elizabeth no memorial a Philip 

Nos últimos dias, o Palácio de Buckingham manteve o suspense sobre se a rainha participaria da cerimônia. Desde outubro do ano passado ela vem cancelando atividades públicas, incluindo a participação na conferência do clima COP26, em Glasgow.

Há um mês ela testou positivo para o coronavírus, depois de seu filho Charles e a mulher dele, Camilla, terem tido covid.

A cerimônia em memória do príncipe Philip reuniu membros da realeza de outros países europeus, como o rei e a rainha da Espanha e os monarcas da Bélgica, que não puderam comparecer ao funeral devido às restrições em vigor no país há um ano para controlar a pandemia. 

Todos os integrantes da família real britânica estavam lá, menos o príncipe Harry, que decidiu não viajar dos EUA, onde mora, depois de uma controvérsia envolvendo um pedido de segurança para a sua família. 

Harry alegou que a segurança deveria ser feita por forças oficiais, propondo-se a pagar pelo serviço, sob a justificativa de que uma empresa de segurança americana privada não teria acesso a dados oficiais sobre possíveis ataques e isso aumentaria seus riscos. 

A ausência dele foi motivo de críticas, considerada uma insensibilidade.

Alguns comentaristas especializados em assuntos da monarquia lembraram que ele tem uma viagem marcada para a Holanda em algumas semanas, e que a segurança não foi vista como um obstáculo. 

Já a presença de Andrew e a escolha dele para acompanhar a rainha, um privilégio que poderia ter sido concedido a um dos outros três filhos, surpreendeu os que achavam que sua vida pública estava totalmente encerrada. 

Em fevereiro, ele perdeu todos os títulos militares e posições em organizações beneficentes, e o Palácio de Buckingham anunciou que ele não mais participaria de atividades oficiais. 

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Príncipe Andrew (Foto: Divulgação/The Royal Family)

A cerimônia em homenagem ao pai não foi exatamente um compromisso oficial de representação, e sim uma situação familiar.

Mas Andrew não tinha sido visto nem em ocasiões familiares recentemente, sugerindo que a rainha pode ter encontrado agora um meio-termo para não isolá-lo totalmente. 

Mas os anti-monarquistas não perdoaram o sinal de apoio de Elizabeth II ao filho, com críticas nas redes sociais à sua atitude. Após o fim da missa, a hashtag #AbolishTheMonarchy estava entre os trending topics do Twitter. 

Entre os comentários estava a suspeita de ajuda dada pela mãe ao filho para pagar a indenização que colocou fim ao processo judicial a que Andrew respondia em Nova York. 

https://twitter.com/Gary36623569/status/1508763847301214213?s=20&t=A0Lbc6x28iaACr4g6N1bHA

Aparição da rainha Elizabeth em boa hora 

Apesar da reação dos anti-monarquistas, a presença da rainha Elizabeth na cerimônia em homenagem ao príncipe Philip veio em boa hora, depois de uma semana em que a imagem da realeza sofreu novos abalos. 

Só que desta vez o problema não envolveu nenhum dos integrantes que costumam criar constrangimentos, como Harry e Andrew. 

A controvérsia aconteceu em uma visita do príncipe William e de sua mulher, Kate Middleton, a países do Caribe que fazem parte da Comunidade Britânica das Nações (Commonwealth) e têm a rainha Elizabeth como chefe de estado desde a época em que eram colônias. 

O tour real a Belize, Jamaica e Bahamas era para funcionar como uma “ofensiva de charme” a fim de conter movimentos republicanos, como aconteceu com Barbados, que virou república no início deste ano. 

No entanto, a viagem foi considerada um deslastre de relações públicas. William e Kate sofreram críticas pelo passado colonial do país, e chegaram a ter que cancelar um compromisso em Belize por reação da comunidade local. 

Kate é segunda integrante da realeza mais popular, perdendo apenas para a própria rainha, segundo pesquisa recente, mas isso não impediu que fosse vista, junto com o marido William, como representante de um tempo que muitos nesses países querem ver superado. 

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Jubileu da rainha Elizabeth, sem o príncipe Philip 

A rainha Elizabeth comemorou oficialmente 70 anos no trono em fevereiro. Há dois anos as festividades para comemorar a data vinham sendo preparadas, e tiveram que ser alteradas devido à morte do príncipe Philip, que pela primeira vez não estará ao lado dela em uma grande comemoração. 

No dia do Jubileu de Platina, ela fez uma mensagem à nação sinalizando que seu sucessor será mesmo o filho mais velho, Charles, colocando fim a especulações sobre se o príncipe William furaria a fila por ser mais jovem e capaz de neutralizar melhor os movimentos contra o fim da monarquia no Reino Unido, um tema que ganha mais força com o avanço de idade da rainha. 

O Palácio de Buckingham ainda não anunciou novas mudanças no roteiro de festas devido ao estado de saúde mais delicado de Elizabeth II, que chegou a reclamar de problemas de locomoção em uma audiência com diplomatas estrangeiros há algumas semanas, mas é possível que elas ocorram diante dos sinais de fragilidade que ela mesma não faz mais questão de esconder. 

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