O caso do jornalista saudita Jamal Khashoggi ganhou um novo capítulo que pode acabar com a investigação sobre o assassinato do profissional na Turquia e tornar quase impossível a condenação dos responsáveis. Ele foi morto dentro do consulado da Arábia Saudita no país, em 2018.
Um promotor turco pediu à Justiça na quinta-feira (31) para encerrar o caso e transferir as diligências para a Arábia Saudita, encerrando as investigações no país em que o crime ocorreu.
“Durante a audiência de hoje do caso de homicídio de Jamal, o promotor pediu, de acordo com a demanda saudita, a transferência do processo para a Árabia Saudita e a finalização do mesmo na Turquia”, publicou a noiva de Khashoggi, Hatice Cengiz, no Twitter.
“A corte pedirá a opinião do Ministério da Justiça turco. #Khashoggi #JusticeForJamal”, acrescentou Cengiz na rede social.
During today’s hearing of Cemal’s murder case, the prosecutor asked, accordingly to the Saudi demand, for the transfer of the file to #SaudiArabia and the finalisation of it in #Turkey. The court will ask the view of Turkish Justice Ministry.#Khashoggi #JusticeForJamal
— Hatice Cengiz خديجة (@mercan_resifi) March 31, 2022
Caso Khashoggi pode ser encerrado na Turquia
O promotor afirmou que a investigação do caso demora na Turquia “porque as ordens do tribunal não podem ser aplicadas, pois os suspeitos são estrangeiros”, segundo a agência de notícias DHA citada pela AFP.
O pedido do promotor acontece no momento em que a Turquia busca melhorar o relacionamento com a Arábia Saudita, que piorou após o assassinato do jornalista dentro do consulado saudita em Istambul.
Em 2 de outubro de 2018, Khashoggi, colaborador do jornal americano Washington Post, entrou no consulado para iniciar os trâmites do casamento com Cengiz, que é turca.
Eram 13h e ela ficou do lado de fora. Continuou aguardando por 12 horas, sem que ele deixasse o prédio.
Segundo autoridades americanas e turcas, um esquadrão saudita esperava pelo jornalista lá dentro. Ele teria sido estrangulado e seu corpo desmembrado para ser ocultado.
O assassinato gerou indignação internacional e agências de inteligência ocidentais afirmaram que o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, autorizou o crime.
O príncipe, de acordo com a agência AFP, afirma que aceita a responsabilidade da Arábia Saudita no caso, mas rejeita qualquer vínculo pessoal.
Autoridades da capital do país, Riade, afirmam que o homicídio foi cometido por agentes que atuaram por conta própria.
Embora tenham inicialmente negado qualquer papel em sua morte, mais tarde responsabilizaram funcionários no que chamou de “operação de captura mal sucedida”. Vinte foram condenados, mas as penas foram amenizadas.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou na ocasião que a ordem para a morte do jornalista “veio dos níveis mais elevados” do governo saudita.
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Em declaração à agência AFP, Erol Onderoglu, representante da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) na Turquia, chamou o pedido do promotor de “notícia terrível”.
“O caso Khashoggi parece que será vítima de uma aproximação diplomática entre Turquia e o reino saudita”, afirmou à AFP.
A próxima audiência que decidirá o futuro do caso está programada para 7 de abril.
No início do ano, a noiva de Khashoggi disse em uma entrevista à AFP que a Turquia “deve insistir em fazer justiça por Khashoggi, inclusive se melhorar as relações” com a Arábia Saudita.
“Não acredito que seja o melhor para ninguém encerrar completamente o caso”, disse Cengiz.
No aniversário de três anos do assassinato de Jamal Khashoggi, em outubro de 2021, a noiva do jornalista cobrou duramente do presidente Joe Biden a responsabilização do príncipe herdeiro do país, Mohammed bin Salman.
O Washington Post, jornal para o qual ele escrevia, publicou um editorial para marcar a data, igualmente recriminando a postura do governo Biden e lamentando que as esperanças de liberdade trazidas pela Primavera Árabe não tenham se confirmado.
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