Londres – Jornalistas e profissionais que trabalham na mídia estatal tunisiana anunciaram uma greve de um dia, em 2 de abril, em protesto contra a diminuição das liberdades de imprensa e supostas tentativas do presidente Kaïs Saied e de seu governo de controlar a linha editorial do jornalismo público. 

Trabalhadores das quatro organizações de mídia pública participarão da greve, reunindo jornalistas da TV nacional, da rádio nacional, da agência de notícias Tunis África (TAP) e da editora La Press.

Eles consideram a situação no país cada vez mais difícil para o livre exercício de seu trabalho.

Greve de jornalistas tem apoio internacional 

A greve conta com o apoio da Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) e é coordenada pelo sindicato nacional de jornalistas da Tunísia, que condenou as tentativas do presidente tunisino de controlar a mídia estatal.

A iniciativa também é um protesto contra a prisão do jornalista Khalifa Al-Qasimi por se recusar a revelar suas fontes às autoridades. Sua prisão provocou manifestações de grande parte do setor de mídia da Tunísia.

“A Tunísia se tornou um estado autoritário que prende e intimida jornalistas”, disse Mohamed Yassine Jelassi, presidente da SNJT.

O sindicato acusa o governo de usar a TV estatal como uma “trompete de propaganda” para o presidente e denunciou que a emissora está proibida de apresentar representantes da oposição em debates políticos.

Há um ano, a polícia invadiu a sede da agência de notícias para tentar conter a reação dos jornalistas à nomeação de um político como diretor-geral. 

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As demandas dos jornalistas em greve

Entre as demandas dos grevistas, destacam-se a exigência de acabar com a pressão do governo sobre a linha editorial da TV nacional e a apresentação de um plano para salvar a La Press, que está ameaçada de um fechamento.

A greve também busca que o governo se comprometa a alocar recursos que permitam à mídia estatal produzir conteúdo de qualidade a serviço do interesse público e a nomear diretores de acordo com o decreto 116 de 2011, que garante a independência da mídia pública do controle político.

O secretário-geral da IFJ, Anthony Bellanger, disse:

“A liberdade de imprensa foi um ganho fundamental para os tunisianos após 2011. Hoje, infelizmente, vemos esse direito em sério risco.

Somos solidários com a greve dos jornalistas e apoiamos suas demandas por uma mídia estatal independente e orientada para o serviço público na Tunísia.”

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