Londres – O fotógrafo brasileiro Lalo de Almeida conquistou o primeiro lugar na categoria Projetos de Longo Prazo do World Press Photo Award, principal prêmio de fotojornalismo do mundo. O resultado foi anunciado no dia 7/4 Amsterdã.
É primeira vez que o concurso premia séries fotográficas contando uma história ao longo de um período de tempo maior, e em torno de uma questão específica.
Em Distopia Amazônica, que havia sido premiada na etapa regional do concurso, Lalo de Almeida documentou ao longo de 12 anos os efeitos sociais, políticos e ambientais do desmatamento, mineração e exploração de recursos na Amazônia brasileira.
Prêmio de fotojornalismo salientou crise da Amazônia
Os jurados da 65ª edição do prêmio escolheram os vencedores entre quase 65 mil trabalhos enviados por mais de quatro mil profissionais de fotojornalismo de 130 países.
Almeida disputou o prêmio global na categoria Projetos de Longo Prazo com séries da África, Ásia, Europa, Oceania e Américas (Norte e Central), abordando temas como roubo e ameaça de extinção de animais, a origem da guerra na Ucrânia, a era Trump e incêndios na Indonésia.
Ao anunciar os vencedores, a organização do World Press Photo destacou a crise que afeta a Amazônia como justificativa para a escolha do trabalho do fotojornalista brasileiro como o melhor projeto de longo prazo do ano.
“Desde 2019, a devastação da Amazônia brasileira vem ocorrendo em seu ritmo mais rápido.
A exploração não só tem efeitos devastadores no ecossistema da Amazônia, com sua extraordinária biodiversidade, mas também tem uma série de impactos sociais, particularmente nas comunidades indígenas orçadas a lidar com a degradação significativa de seu meio ambiente, bem como com seu modo de vida.”
Lalo de Almeida acredita que não se pode separar as questões ambientais e sociais como se fossem duas coisas diferentes.
“A maioria das cidades que têm altos níveis de desmatamento também apresentam os mais altos níveis de pobreza. São elementos completamente conectados: pobreza, violência, degradação ambiental e desmatamento.”
A organização do prêmio de fotojornalismo criticou a política ambiental do governo brasileiro.
“A regulamentação e a aplicação da conservação foram corroídas sob o governo do presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
O presidente incentiva a agricultura e a mineração em áreas protegidas, argumentando que isso combaterá a pobreza.
Além disso, grandes esquemas de infraestrutura foram construídos. Bolsonaro frequentemente se manifesta contra as medidas de proteção ambiental e faz comentários minando as tentativas dos tribunais brasileiros de punir os infratores. Ambientalistas dizem que isso está incentivando o desmatamento e criando um clima de impunidade.”
Diretora do júri do prêmio: ‘série mostra impacto de decisões míopes’
Rena Effendi, diretora do júri do prêmio de fotojornalismo, explicou o motivo da escolha do trabalho de Lalo de Almeida:
“Distopia Amazônica revela uma infinidade de resultados desastrosos da exploração da terra e dos recursos naturais – o impacto de decisões míopes impulsionadas pela ganância e aplicadas por aqueles que estão no poder sem qualquer consideração pelo futuro do planeta.”
Lalo de Almeida trabalha para a Folha de São Paulo há 27 anos e desenvolve outros projetos de fotografia documental, incluindo sobre as populações tradicionais brasileiras e sua relação com o meio ambiente.
Almeida já recebeu prêmios no mesmo concurso de fotojornalismo
Almeida é um veterano premiado no World Press Photo Awards. Em 2021 ele ganhou na categoria Série Meio Ambiente com uma foto dos incêndios no Pantanale em 2017 na categoria Questões Contemporâneas.
Veja o vídeo e algumas imagens da série premiada no World Press Photo e o relato de Lalo de Almeida
No vídeo, Lalo de Almeida fala de sua paixão pelo fotojornalismo e de sua decisão de fotografar o Brasil. Ele fala também de sua visão sobre a situação da Amazônia.
“Mulheres e crianças da comunidade Pirahã, ao lado de seu acampamento às margens do rio Maici, observam os motoristas que passam na rodovia Transamazônica esperando receber lanches ou refrigerantes.”
Humaitá, Amazonas, Brasil, em 21 de setembro de 2016 .
“Vista aérea da construção da Barragem de Belo Monte no Rio Xingu. Mais de 80% da água do rio foi desviada de seu curso natural para construir o projeto hidrelétrico.
A redução drástica no fluxo de água tem um impacto adverso tanto sobre meio ambiente quanto nos meios de subsistência das comunidades tradicionais.”
Altamira, Pará, Brasil, em 3 de setembro de 2013.
“Membros da comunidade Munduruku fazem fila para embarcar em avião no Aeroporto de Altamira. Após protestarem no local da construção da barragem de Belo Monte, no rio Xingu, eles viajaram para Brasília a fim de apresentar suas demandas ao governo.
A comunidade Munduruku habita as margens de outro afluente do Amazonas, o rio Tapajós, a várias centenas de quilômetros de distância, onde o governo tem planos de construir mais projetos hidrelétricos.
Apesar da pressão de indígenas, ambientalistas e organizações não governamentais, o projeto de Belo Monte foi construído e concluído em 2019.”
Pará, Brasil, em 14 de junho de 2013.
“Menino descansa em tronco de árvore morta no Rio Xingu em Paratizão, comunidade localizada próxima à hidrelétrica de Belo Monte.. Ele é cercado por restos de árvores mortas, dizimadas após a inundação do reservatório.”
Pará, Brasil, em 28 de agosto de 2018.
“Vira-latas observam carne pendurada em um açougue na Vila da Ressaca, uma área anteriormente explorada por ouro, mas agora quase completamente abandonada, em Altamira, Pará, Brasil, em 2 de setembro de 2013.”
“Um outdoor com uma mensagem de apoio ao presidente Bolsonaro ao lado da Rodovia Transamazônica. Foi financiado por agricultores locais.”
Altamira, Pará, Brasil, em 20 de julho de 2020.
“O desmatamento maciço é evidente em Apuí, município ao longo da Rodovia Transamazônica, sul da Amazônia. O local é um dos municípios mais desmatados da região.”
Brasil, em 24 de agosto de 2020.
“Um integrante de comunidade afro-brasileira composta por negros, alguns descendentes de povos escravizados do continente africano – está desmaiado bêbado em um banco, em Pedras Negras, São Francisco do Guaporé.
O processo de concessão de títulos de terra para comunidades iniciado por ex-escravizados já era lento antes da eleição de Jair Bolsonaro. Agora parou completamente, como resultado da decisão do presidente de não demarcar mais terras para essas comunidades quilombolas na Amazônia. “
Rondônia, Brasil, em 29 de janeiro de 2021.
Concurso World Press Photo Contest 2022
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