Londres – Famosas ou anônimas, a maioria das mulheres que recebem mensagens diretas (DMs) com conteúdo misógino ou algum tipo de assédio têm suas denúncias simplesmente ignoradas pelo Instagram, revelou um novo estudo da ONG britânica Center for Countering Digital Hate (CCDH).
A pesquisa descobriu uma verdadeira “epidemia de abuso misógino”em mensagens recebidas de forma privada por cinco mulheres famosas, incluindo uma estrela de Hollywood com mais de 4 milhões de seguidores na rede social.
Quase 90% das mensagens de cunho sexual, ofensivas e ataques de ódios reportadas para o Instagram foram ignoradas e, em muitos casos, os abusadores continuaram com suas contas ativas.
Instagram ignora denúncias de assédio feitas por mulheres na plataforma
Para reverter esse cenário, a ONG britânica criou um abaixo-assinado que cobra ações da plataforma controlada pela Meta.
O Instagram afirma em seus termos de uso que veta publicações com discurso de ódio, incluindo misoginia, homofobia e racismo; nudez ou atividade sexual; violência gráfica e ameaças de violência.
No entanto, a pesquisa do CCDH descobriu que a plataforma falha de forma sistemática em aplicar sanções apropriadas e remover aqueles que violam suas regras, principalmente quando isso ocorre nas DMs — seção de mensagens privadas do aplicativo.
O relatório coloca em evidência um lado do Instagram que mulheres usuárias de outras mídias sociais já conhecem bem, como o assédio, ameaças violentas e abuso sexual baseado em imagens (como o envio de fotos de partes íntimas).
Nas DMs, a situação é agravada já que as mensagens podem ser enviadas por estranhos, a qualquer momento e em grande quantidade, sem consentimento da mulher. A plataforma da Meta pouco faz para impedir isso mesmo quando o conteúdo é denunciado por pessoas conhecidas e com influência, segundo a ONG.
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Isso pode acontecer tanto com mulheres anônimas quanto famosas: a atriz Amber Heard, conhecida pelos filmes “Aquaman”, “Liga da Justiça” e outros blockbusters, tem mais de 4 milhões de seguidores no Instagram e foi uma das que abriu suas conta para os pesquisadores do estudo.
Além dela, a radialista Rachel Riley, a ativista Jamie Klingler e as jornalistas Bryony Gordon e Sharan Dhaliwal também compartilharam suas DMs para os pesquisadores analisarem 253 contas que enviaram mensagens abusivas para as cinco mulheres.
Todos esses usuários foram denunciados pelo aplicativo ou site do Instagram. Dos 253 perfis, 227 permaneceram ativos pelo menos um mês depois das notificações serem feitas à plataforma — representando a falha do Instagram em agir em 89,5% das denúncias enviadas a seus moderadores.
Essa descoberta é particularmente preocupante, uma vez que a pesquisa da CCDH indica que metade dos usuários agressores enviam mais mensagens abusivas quando as plataformas não conseguem removê-las.
O estudo também cita que o Instagram também permitiu que 9 em cada 10 agressores que enviaram ameaças violentas às participantes do estudo permanecessem online, mesmo depois de serem denunciados ao Instagram usando as próprias ferramentas da plataforma.
Imran Ahmed, executiva-chefe do CDH diz que, enquanto espaços digitais são essenciais na vida moderna, para as mulheres “o custo de acesso às mídias sociais é o abuso misógino e as ameaças enviadas pelos agressores impunemente.”
“O Instagram escolheu ficar do lado dos agressores ao criar negligentemente uma cultura na qual não esperam-se consequências – negando às mulheres a dignidade e sua capacidade de usar espaços digitais sem assédio.
“Há uma epidemia de abuso misógino ocorrendo em DMs de mulheres. Meta e Instagram devem colocar os direitos das mulheres antes do lucro.”
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Falhas da plataforma favorecem assédio a mulheres no Instagram
Além da atitude agressiva de usuários que culmina em mensagens de assédio às mulheres participantes da pesquisa, o estudo da ONG britânica também constatou problemas do próprio Instagram que prejudicam a segurança e favorece o abuso online na plataforma.
Uma delas é que usuários não conseguem denunciar mensagens de voz abusivas recebidas por DM. E mensagens enviadas no “modo de desaparecimento” só podem ser reportadas após a visualização — ou seja, apenas quando a mulher interagir com o conteúdo nocivo poderá denunciá-lo.
O recurso “palavras ocultas” do Instagram também tem falhas, sendo ineficaz para ocultar abusos dos usuários, aponta a ONG. E usuários vítimas de agressão na plataforma podem enfrentar dificuldades para baixar as evidências necessárias para processos judiciais.
O Instagram reconheceu anteriormente que a caixa de entrada de “pedidos” reservada para DMs de estranhos “é onde as pessoas geralmente recebem mensagens abusivas”.
Além de prometer filtrar essas mensagens, a plataforma prometeu agir sobre denúncias de abuso. Em fevereiro de 2021, o Instagram anunciou novas medidas destinadas a “remover as contas de pessoas que enviam mensagens abusivas”.
No entanto, a análise realizada pelo CCDH revela que pouca coisa mudou desde então.
Em recorte separado, a instituição avaliou 8.717 DMs das contas das cinco mulheres públicas que participaram do estudo.
Desse total, uma em cada 15 mensagens (6,67%) quebrou as regras do Instagram sobre abuso e assédio:
- Foram registraram 125 exemplos de abuso sexual baseado em imagens;
- O Instagram falhou em agir em todos os exemplos de abuso sexual baseado em imagem 48 horas após o abuso ter sido denunciado à plataforma;
- Uma em cada sete mensagem de voz enviadas para mulheres era abusiva;
- O Instagram permite que estranhos façam chamadas de voz para mulheres que não conhecem.
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