Lançado no dia 29 de março, o serviço de streaming da rede americana CNN, o CNN+, nem completou um mês e já enfrenta problemas, com rumores que já vinham circulando no mercado confirmados nesta terça-feira (20) pelo site Axios.
A baixa aceitação do CNN+, que conta com apenas 150 mil assinantes até o momento, movimentou as cadeiras na empresa e os investimentos de marketing externo foram suspensos.
Os movimentos foram interpretados como parte de um esforço da Warner Bros. Discovery para avaliar o que fazer com o serviço de streaming por assinatura sem impactar o carro-chefe da casa, o HBO Max.
Problemas com CNN+ incomodam executivos da Discovery
A primeira vítima da crise foi o diretor financeiro da CNN, Brad Ferrer, substituído por Neil Chugani, atual CFO da Discovery para streaming e internacional.
O lançamento da CNN+ teria desagradado os executivos da Warner Bros. Discovery (WBD), novo nome da empresa após a fusão da WarnerMedia e Discovery Inc., concluída em 8 de abril, segundo apuração da jornalista Sara Fischer para o Axios.
Dentro da CNN, os executivos acham que a plataforma foi lançada no momento certo e, até então, tudo corria bem. No entanto, os chefes da Discovery discordam.
Na semana passada, Fischer já tinha reportado que a CNN+ estava com problemas e corria riscos de “grandes cortes”.
Ela citou a emissora CNBC que indicou que “menos de 10 mil pessoas estão usando a CNN+ diariamente duas semanas após sua existência, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto”.
Com a demissão do diretor financeiro da CNN, as projeções foram certeiras. De acordo com o Axios, ainda é possível que outros cargos de alto nível na WarnerMedia em diferentes áreas sejam eliminados para reduzir custos e otimizar a liderança nas próximas semanas.
Na CNN, o sentimento é de frustração com a nova gestão, que “está se movendo rapidamente para desmantelar o que eles veem como uma eventual salvação para a rede a cabo”, afirma o Axios.
O plano original da CNN era que a CNN+ se tornasse lucrativa em quatro anos, com investimento de US$ 1 bilhão no serviço.
Apesar da CNN+ agora estar disponível na plataforma Roku, uma das mais populares nos EUA, “com o marketing em torno do serviço suspenso, há preocupações de que o crescimento seja de curta duração”, diz Fischer.
E enquanto os executivos da CNN miravam em rivalizar com grandes concorrentes do jornalismo impresso em número de assinaturas no streaming, dados internos mostram que os programas que se saem bem são aqueles que reproduzem os do canal de TV ao vivo, como “5 coisas com Kate Bolduan” e “Reliable Sources Daily”, de Brian Stelter.
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CNN+ não pode ofuscar HBO Max
Do lado da Discovery, a percepção é de que a CNN deveria ter adiado o lançamento da plataforma de streaming até depois da fusão, pois seria “mais fácil direcionar os esforços da empresa para algo mais alinhado com os objetivos da Discovery.”
A nova gestão quer se concentrar em uma oferta de entretenimento geral em torno do HBO Max, em vez de mais serviços nichados que precisam competir com outros grandes aplicativos pelo dinheiro do assinante.
“[A Discovery] vê potencial em alavancar o alcance já massivo da CNN.com e do aplicativo principal da CNN para impulsionar seu crescimento digital a longo prazo, em oposição a outra assinatura fora da TV linear.”
O objetivo principal dos executivos da Discovery que agora operam na CNN é devolver a empresa ao seu núcleo jornalístico, ou seja, nada de conteúdo leve e variedades na plataforma de streaming — o que, infelizmente para a CNN+, é a maior aposta de seu catálogo atual.
Dentro desse verdadeiro cabo de guerra, a falta de comunicação entre as empresas que estavam em processo de fusão também é citada pela jornalista do Axios.
O novo CEO da CNN, Chris Licht, começa oficialmente a trabalhar no dia 2 de maio, mas já conversa com executivos para resolver as diferenças numa tentativa de arrumar o que o antigo ocupante do cargo, Jeff Zucker, não conseguiu.
Para Fischer, o desastre da CNN+ é culpa do momento ruim e das comunicações limitadas que deixaram CNN e Discovery “estrategicamente desalinhadas para o lançamento de um produto tão grande”.
Em outra face dos problemas da CNN, o Axios reportou que o horário das 21h na emissora ao vivo, antes exclusivo a Chris Cuomo até ele ser demitido em dezembro por aconselhar seu irmão, o ex-governador de Nova York Andrew Cuomo, a lidar com alegações de má conduta sexual, pode ser um noticiário em vez de um programa de opinião.
Apenas mais uma indicação do direcionamento que a Discovery quer manter para a emissora de notícias.
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