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Sob vigilância: Musk usa Twitter para criticar equipe, mas segue sem liberdade de tuitar sobre Tesla

Elon Musk é um empresário atípico e, em sua aquisição do Twitter, agiu como tal. Não houve boas-vindas formais nem mensagens de esperança para o futuro da empresa, funcionários e usuários da rede social.

Em vez disso, o bilionário passou a semana fazendo críticas públicas à equipe da plataforma, o que viola o acordo em andamento para a compra. E alarmou muita gente com a sinalização de que o Twitter deve se tornar “politicamente neutro”, interpretada como “liberou geral” para posições extremas. 

Apesar de emitir suas opiniões diariamente na rede social, a verdade é que nem o homem mais rico do mundo consegue a liberdade de expressão total para si próprio, já que perdeu na semana passada  (27 de abril) uma tentativa de revogar a ordem judicial que o impede de tuitar livremente sobre a Tesla.  

Sob gestão de Elon Musk, Twitter deve ter mudanças na liberdade de expressão

Elon Musk se autointitula um “absolutista da liberdade de expressão”. Mas o próprio está impedido de postar sobre sua empresa de veículos elétricos, desde 2018, quando foi processado pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, em inglês) após publicações polêmicas que impactaram a bolsa de valores.

Na ocasião, Musk disse que tinha um “financiamento garantido” para potencialmente tornar a Tesla privada — o que não era verdade. Suas mensagens fizeram o preço das ações da empresa flutuarem e a Justiça fez uma intervenção. 

Desde então, ele precisa da aprovação dos advogados de Tesla para tweets e outras declarações públicas sobre a empresa.

O bilionário tentou encerrar essa “tutela” agora. Porém teve o recurso negado e segue sem autorização para falar da Tesla livremente.

Apesar disso, Musk segue com publicações ácidas no Twitter e diz repetidamente que quer fazer da plataforma um “bastião da liberdade de expressão.”

Nas semanas que antecederam o anúncio da compra, ele já acenou para mudanças que gostaria de fazer nas políticas de moderação da rede social, que ele vê como uma ameaça à livre exposição de ideias.

Na quarta-feira (27), ele tuitou: “Para que o Twitter mereça a confiança do público, ele deve ser politicamente neutro, o que efetivamente significa perturbar a extrema direita e a extrema esquerda igualmente”.

A mensagem veio na sequência de comentários controversos sobre a equipe do próprio Twitter — contrariando o compromisso firmado de que ele não “depreciaria” a empresa ou seus representantes enquanto conclui o acordo para adquirir a plataforma de mídia social.

No entanto, um dia após a assinatura do acordo, que foi publicado no site SEC, Musk respondeu a tweets de dois comentaristas políticos que criticavam a equipe do Twitter.

Elon Musk critica funcionários do Twitter em posts na plataforma

Uma das maiores controvérsias do momento envolve a chefe jurídica do Twitter, Vijaya Gadde.

Elon Musk respondeu na noite de terça-feira (26) a um post no Twitter do apresentador de podcast Saagar Enjeti que alegou, citando uma reportagem, que Gadde teria ficado “emotiva” durante uma reunião para discutir o acordo com o bilionário.

No post, Enjeti se referiu a Gadde como a “principal defensora da censura” do Twitter, em referência à decisão da empresa em 2020 de bloquear o compartilhamento de uma matéria do New York Post sobre o filho do presidente Joe Biden, Hunter.

Durante a campanha presidencial de 2020, o jornal publicou reportagem, que acabou classificada como não verificada, alegando que Hunter Biden tentou apresentar a seu pai, então vice-presidente dos Estados Unidos, um executivo da empresa ucraniana para a qual trabalhava.

O Twitter afirmou que havia bloqueado a reportagem por conter imagens de material hackeado, com informações pessoais e privadas.

Em seguida, esclareceu que a discussão ou comentários sobre os materiais hackeados não deve ser banida, e inclusive mudou sua política de moderação a respeito, se restringindo a banir material postado diretamente por hackers na plataforma.

A comissão eleitoral americana concluiu em decisão unânime que o Twitter havia tomado decisões válidas com base em razões comerciais.

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Em resposta a esse comentário crítico à advogada do Twitter, Musk escreveu:

“Suspender a conta do Twitter de uma grande organização de notícias por publicar uma história verdadeira foi obviamente incrivelmente inapropriado”.

Sua manifestação desencadeou tweets negativos de usuários sobre Gadde, incluindo afirmações de que ela “ficaria na história como uma pessoa terrível”, enquanto outras postagens pediam que ela perdesse o emprego.

O ex-CEO do Twitter Dick Costolo criticou a conduta do novo dono da plataforma por trazer “assédio e ameaças” à uma funcionária da empresa, acrescentando: “Bullying não é liderança”.

https://twitter.com/dickc/status/1519389188503875584

O atual CEO do Twitter, Parag Agrawal, tuitou logo depois: “Aceitei esse trabalho para mudar o Twitter para melhor, corrigir o curso onde precisamos e fortalecer o serviço.

Orgulhoso de nosso pessoal que continua fazendo o trabalho com foco e urgência, apesar do barulho.”

Horas depois, Musk voltou a provocar e criticar a rede social. Compartilhando um print da App Store, ele disse que a Truth Social, plataforma de mídia social rival de Donald Trump, estava superando o Twitter e o TikTok em número de downloads para iPhone.

O empresário ainda acrescentou que a Truth Social só existe porque o “Twitter censurou a liberdade de expressão” — em mais uma indicação de que as regras de moderação para os usuários devem mudar sob sua gestão.

Como o atual e ex-CEO da rede social indicaram, a atitude de Musk de criticar decisões e funcionários não é típica de líderes empresariais e tem o potencial de causar insegurança ou até saída de profissionais estratégicos, o que no final não é bom para o Twitter como empresa e para os usuários.

Funcionários do Twitter viram novo dono com desconfiança desde o início

A repercussão interna da compra do Twitter por Elon Musk foi relatada pelo jornalista Casey Newton em sua newsletter, a Platformer.

Nas primeiras horas da manhã de segunda-feira antes de a venda ser confirmada, em 25/4,, havia muita ansiedade, apreensão e incerteza, já que fazia dias que os chefes da rede social não compartilhavam nada com eles sobre a negociação com o bilionário sul-africano.

No Slack da empresa, um funcionário fez piada questionando se alguém estava animado com a perspectiva de trabalhar para Musk; as respostas não foram tão bem humoradas, afirmou Newton.

Pouco antes do fechamento dos mercados, chegou a notícia: Elon Musk era confirmado como novo dono do Twitter. As reações foram diversas.

“O sentimento nos canais públicos do Slack foi bastante preocupado e negativo, disseram os funcionários a ele.

‘Fiquei meio surpreso com o quanto as pessoas pareciam estar desistindo’, me disse um. ‘Grande chatice’, falou outro.”

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Mas conversando individualmente com as pessoas, Newton relatou que as respostas foram mais moderadas.

“Alguns funcionários com quem conversei estão abertos à ideia de que um Twitter privado administrado por Musk tem uma chance maior de melhorar o serviço do que uma empresa pública em dívida com seus acionistas.”

“Eles gostam do fato de que ele quer eliminar bots prejudiciais e trazer mais clareza sobre como os algoritmos de recomendação funcionam.”

Uma verdadeira preocupação geral, porém, é que muitos funcionários do Twitter recebem metade ou mais de sua remuneração em ações. Com Musk dono da plataforma, a empresa não negociará mais na bolsa, pois será de capital fechado.

“Uma pessoa me disse que ‘os bate-papos em grupo estão discutindo sobre se trabalhar no Twitter faz sentido econômico em primeiro lugar’.”

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