O tradicional Prêmio Gabo de jornalismo abriu as inscrições para a edição de 2022, a 10ª realizada pela Fundação Gabo.

A instituição foi criada em 1995 pelo jornalista escritor colombiano Gabriel García Márquez, que há 40 anos recebeu o Nobel de Literatura. 

“O bom jornalismo vê o que realmente importa” é o slogan do prêmio este ano, salientando  a intenção de reconhecer a contribuição do jornalismo como um bem de serviço público e a favor da democracia na região.

Inscrições para prêmio de jornalismo 2022 vão até 15 de junho

Neste ano, o prêmio adicionou novas categoria para reconhecer as habilidades do jornalismo em áudio, formato difundido em reportagens feitas para podcasts, e também em fotografia.

Agora, são cinco categorias disponíveis para que jornalistas e profissionais de mídia da América Ibérica inscreverem seus trabalhos: texto, fotografia, áudio, imagem e cobertura.

Para concorrer ao Prêmio Gabo, é preciso que as reportagens tenham sido veiculadas pela primeira vez entre 1º de julho de 2021 e 7 de junho de 2022.

As inscrições devem ser feitas na plataforma do prêmio até o dia 15 de junho. Jornalistas da América Ibérica, incluindo do Brasil, podem participar, além de profissionais da Espanha e de Portugal. 

A categoria de imagem contempla trabalhos jornalísticos em audiovisual, vídeo, animação ou outras formas de visualização digital.

E a de cobertura aceita trabalhos factuais, investigações e temas da atualidade em qualquer tipo de formato ou linguagem.

Sobre as duas novas categorias, a Fundação Gabo explica:

“A inclusão da categoria Áudio premia os melhores trabalhos de rádio e podcast, e da Fotografia como categoria independente, separada da categoria Imagem.

Assim, o Prêmio mantém as portas abertas a todo tipo de formatos, linguagens, enfoques e formas do fazer jornalístico.”

A edição deste ano também fará parte das comemorações do aniversário de 40 anos do Nobel de Literatura de García Márquez.

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Todos os trabalhos que se inscrevam e cumpram com as regras da premiação serão submetidos a um processo de avaliação por um júri composto por mais de 50 jornalistas.

Depois das rodadas de avaliação, serão escolhidos 10 finalistas em cada categoria e, entre eles, os vencedores de cada uma.

“Serão levados em conta aspectos como inovação e originalidade na forma de contar histórias e se aproximar do público, a qualidade narrativa e o rigor no tratamento dos fatos, a investigação própria para desvendar fatos ocultos ou compreender processos complexos, e a independência e os valores éticos refletidos nos trabalhos, assim como o impacto obtido depois da publicação do trabalho.”

Os vencedores das cinco categorias serão convidados com todas as despesas pagas para participar do Festival Gabo, que voltará a ser realizado de maneira presencial depois de dois anos de pandemia.

Também vão receber 35 milhões de pesos colombianos (cerca de R$ 45 mil), um certificado e um exemplar da escultura “Gabriel”, criada pelo artista colombiano Antonio Caro.

Os vencedores do prêmio em 2021

Em 2021, o prêmio de jornalismo recebeu 1.585 trabalhos veiculados na América Latina, Espanha e Portugal.  

O El País foi o vencedor da categoria Mídia, com a reportagem La masacre de Tamaulipas: O sonho americano morre no México, sobre16 migrantes guatemaltecos que investiram tudo para buscar um futuro melhor nos Estados Unidos, e acabaram assassinados e calcinados no México.

Em Imagem o prêmio foi para o El Faro, de El Salvador, em reconhecimento ao documentário Imperdonable, retratando  um integrante de uma gangue e assassino que está cumprindo pena em uma prisão salvadorenha por seus crimes e por ser gay. 

A melhor cobertura também foi do espanhol El País. Más allá del muelle, crise migratória nas Ilhas Canárias  acompanhou a chegada de mais de 23.000 migrantes às Ilhas Canárias, uma das fronteiras ao sul da Europa.

O La Silla Vacía, da Colômbia, levou o prêmio Gabo de jornalismo em inovação, com uma reconstrução daforma como policiais mataram três jovens em Verbenal.

A investigação comprovou que os policiais que atiraram durante as manifestações do 9S em 2020 na cidade de Bogotá foram os mesmos que mataram três jovens manifestantes.

Prêmio em reconhecimento a cartunista 

Além dos trabalhos jornalísticos, o ilustrador nicaraguense Pedro Xavier Molina Blandón (conhecido como PxMolina) foi o vencedor do Prêmio Gabo de Excelência 2021, em reconhecimento a uma obra que trata de corrupção, autoritarismo crescente, retrocesso das liberdades civis e abusos dos direitos humanos.

Para a Fundação Gabo, “o trabalho de Pedro Molina exemplifica o jornalismo que usa o humor para desafiar governantes despóticos e tiranias, e é um exemplo extraordinário de mordacidade e beleza combinadas que demonstra um sentido muito verdadeiro e profundo dos principais problemas do seu país e da América Latina”.

O conselho da fundação destacou também que a obra de Molina “tornou-se um modelo para o gênero da sátira que valoriza a profissão do jornalismo e desempenha uma importante tarefa de fiscalização e crítica do poder”.

(Reprodução/Twitter/PxMolina)

Ao ser escolhido pela Fundação Gabo, Molina se tornou o primeiro cartunista a receber o prêmio de excelência, instituído em 2013, e o segundo a receber um prêmio da fundação, após do argentino Hermenegildo “Menchi” Sábat (1933-2018), homenageado em 2005.

O artista foi premiado como reconhecimento à sua carreira e para destacar o valor social do jornalismo “que resiste aos abusos de poder político em nosso continente”, afirmou o conselho da fundação.

Por causa da instabilidade política da Nicarágua, ele viveu em exílio por duas ocasiões. O primeiro exílio do cartunista ocorreu ainda na década de 1980, aos dez anos, quando o pai tomou decidiu deixar a Nicarágua, desapontado com a corrupção que viu no setor público, onde trabalhava.

Seu segundo exílio começou por volta do Natal de 2018, quando uma grande crise atingiu a Nicarágua e o jornal Confidencial foi invadido. Ele morava em sua cidade natal, Estelí, um reduto político sandinista, o histórico movimento anti-imperialista do país.

Molina é ainda hoje um alvo do regime de Daniel Ortega devido às suas charges, que o colocam entre as vozes mais destacadas contra violações dos direitos humanos.

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