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Vigilância da mídia com spyware ameaça liberdade de imprensa, diz federação internacional

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(Foto: Pexels/cottonbro)

Aproveitando o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (terça-feira, dia 3 de maio), a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), fez um alerta sobre a necessidade de combater a espionagem cibernética de jornalistas, que segundo a entidade virou uma das maiores ameaças à liberdade de imprensa.

Nos últimos anos, o mundo viu crescer de forma aterradora o número de relatos sobre espionagem de governos sobre jornalistas, revelando a amplitude e extensão do uso de softwares destinados a combater o crime organizado contra a imprensa e jornalistas independentes.

Para a FIJ, a falta de regulamentação e controle sobre o uso dos sistemas ‘spyware’ é uma das causas que permite a utilização por governos e agentes interessados em monitorar de perto o trabalho de profissionais de mídia, com o claro objetivo de deter a divulgação de informações à sociedade.

Spyware é uma das ameaças à liberdade de imprensa

Relatos de espionagem de jornalistas na Ásia, Europa, Oriente Médico e na América Latina preocupam a FIJ, pois, segundo a entidade, muitas vezes ela é praticada por governos ou autoridades ligadas a eles.

A espionagem digital é feita com o uso de spyware, programas de computadores originalmente projetados para combater o crime e o terrorismo. E

sses softwares, porém, permitem um uso malicioso contra jornalistas, políticos, defensores dos direitos humanos e líderes da sociedade civil, afirma a federação.

“No caso de jornalistas e profissionais de imprensa,  o spyware tem sido amplamente utilizado para espionar os dispositivos de trabalho dos jornalistas.”

Jornalistas e profissionais de mídia são monitorados digitalmente sem saber.

Mecanismos de spyware são instalados em computadores ou celulares quando se clica em um link aparentemente inocente, momento em que o dispositivo é infectado e permite aos invasores acesso total a senhas, contas, chamadas, e-mails e até comunicações criptografadas.

Alguns desses spyware podem também gravar vídeos, áudios e lerem mensagens sem que os usuários saibam ou percebam algo acontecendo.

A FIJ alerta que, uma vez com acesso total às principais ferramentas de trabalho dos jornalistas, governos podem “descobrir fontes, minar pesquisas, intimidar trabalhadores da mídia e, em alguns casos, interromper suas reportagens.”

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Relatos de espionagem pelo mundo se multiplicam, diz entidade

Nos últimos meses, organizações de mídia e órgãos internacionais relataram vários casos de espionagem contra profissionais da mídia, segundo a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ).

Em julho de 2021, por exemplo, o projeto Forbidden Stories revelou que os smartphones de 180 jornalistas estavam infectados com o spyware Pegasus em todo o mundo, uma ferramenta desenvolvida pela empresa israelense de vigilância cibernética NSO.

O software infectou celulares para permitir que os operadores da ferramenta extraíssem mensagens, fotos e e-mails, além da gravação de chamadas e ativação dos microfones secretamente.

A ferramenta é usada por governos, e o levantamento sobre espionagem aponta para pessoas que seriam alvos de Arábia Saudita, Índia, Hungria, Emirados Árabes e Marrocos, entre outros.

Roula Khalaf, editora do jornal Financial Times (FT), foi uma das jornalistas hackeadas, revelou o jornal The Guardian.

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Mas eles não foram os únicos. Em El Salvador, uma investigação realizada pelo The Citizen Lab provou que pelo menos 31 profissionais de mídia também foram espionados pelo Pegasus entre junho de 2020 e novembro de 2021.

Muitos dos jornalistas espionados (22) trabalhavam para o jornal digital El Faro, veículo fundamental para presidente Nayib Bukele, destaca a FIJ.

A mesma organização revelou que o jornalista grego Thanasis Koukakis foi supostamente espionado por um novo software de vigilância chamado Predator por pelo menos três meses, entre 12 de julho e 24 de setembro de 2021.

Outra investigação reportada pela federação expôs recentemente uma suposta espionagem a jornalistas catalães na Espanha.

Na Jordânia, o smartphone do jornalista freelance Suhair Jaradat foi hackeado com o spyware Pegasus entre agosto de 2019 e dezembro de 2021.

“Estes são apenas alguns dos casos confirmados; o número real de espionagens pode ser maior”, sugere a entidade.

Legislação precisa deter ameaças à liberdade de imprensa, cobra FIJ

São esses relatos que embasam o pedido da FIJ para que leis em todo o mundo coibiam a espionagem de jornalistas e garantam a proteção da liberdade de imprensa.

O presidente da federação, Younes Mjahed, destaca que a vigilância não traz segurança aos jornalistas, muito pelo contrário, por isso não deve acontecer:

“Todos os dias um novo caso de espionagem de jornalista é descoberto. A

espionagem digital de jornalistas está crescendo e ações globais e nacionais são urgentemente necessárias para contê-la.”

Diante disso, a FIJ pede que jornalistas redobrem os esforços para proteger seus próprios dados, dispositivos pessoais e das organizações de mídia.

As empresas também devem promover treinamento em segurança digital para os profissionais de imprensa.

Governos devem regulamentar a inviolabilidade das comunicações dos jornalistas, tanto com a criação de leis quanto no cumprimento delas, destaca a entidade.

“A comunidade internacional [precisa] construir um regime regulatório que permita a fiscalização e regulação de todas as organizações fornecedoras de produtos que tenham a capacidade de minar os direitos e liberdades fundamentais dos jornalistas”, insta a federação.

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