Londres – Mais pressionadas por mobilizações sociais como Black Lives Matter e #MeToo, surgidos nos EUA, as organizações jornalísticas do país estão fazendo progressos em diversidade, equidade e inclusão (DEI). Ou pelo menos tentando, aos olhos dos jornalistas do país.
Essa percepção foi constatada por uma pesquisa feita pela Medill School of Journalism da Northwestern University, publicada em fevereiro de 2021.
Questionados se suas organizações de mídia – jornais, rádios/podcasts, veículos digitais e TVs – valorizam diversidade, equidade, inclusão e defesa de minorias, 71% dos entrevistados concordaram.
Mudança da linguagem por respeito à diversidade no jornalismo dos EUA
A amostra do estudo, no entanto, revela o quanto a desigualdade ainda persiste nas redações – e pode ter influenciado o resultado. Dos 1,5 mil que responderam aos 25 mil questionários enviados a redações de todo o país, 86,9% se declararam brancos.
Uma das autoras, a professora de jornalismo e DEI da Universidade de Minnesota, Danielle Brown, admite que as pessoas não brancas tendem a ficar mais insatisfeitas com os esforços para aumentar a diversidade de suas organizações, e a percepção delas não foi refletida na mesma proporção nesse estudo.
Descontando-se o desequilíbrio da amostra, contudo, a pesquisa identificou progressos concretos: em média, 56,3% dos entrevistados disseram que suas empresas têm cargos formais dedicados a promover a DEI e conduzir melhorias na abordagem editorial de temas associados a minorias.
Políticas de linguagem para se referir a comunidades não brancas e treinamentos sobre igualdade e inclusão foram apontadas como as principais ações.
Dois terços não viram aprimoramento do RH para aumentar inclusão
Mas tem sempre um “mas”: apenas 30% dos profissionais disseram que suas empresas aperfeiçoaram processos de RH destinados a aumentar retenção e inclusão de grupos sub-representados nas equipes. Para pouco mais da metade, nada mudou no modelo de contratação para encorajar a diversidade.
Se faltam ações concretas para reduzir a desigualdade nas redações, sobra consciência da importância da DEI para a indústria de mídia. Quase quatro em cada cinco entrevistados disseram que ações destinadas a aumentar diversidade, equidade e inclusão afetam positivamente o jornalismo.
TVs caminhando mais rápido rumo a uma maior diversidade no jornalismo dos EUA
Na comparação entre tipos de mídia, o estudo da Medill sugere que as TVs estão fazendo um trabalho melhor em DEI, a julgar pela percepção dos jornalistas que nelas trabalham.
Entre os que responderam ao questionário, 61,6% se disseram satisfeitos com o conjunto de atividades de suas emissoras. Já os colegas de jornais e revistas não foram tão favoráveis: o percentual cai para pouco mais de 40%.
Os jornalistas de TV também foram mais positivos do que colegas de outros tipos de mídia quanto ao valor dado pela empresa à DEI e à eficiência e extensão dos programas implantados.
Na apresentação do estudo, Dorothy Tucker, uma veterana jornalista investigativa da CBS 2 Chicago que presidiu a Associação Nacional de Jornalistas Negros dos EUA, sugere que executivos de televisão enxergam na cobertura de temas ligados à diversidade uma oportunidade de aumentar audiência. E isso pode estar ajudando.
Mesmo com avanços, a estrada é longa. Os autores do trabalho avaliam que a diversidade na imprensa dos EUA “está atrasada há gerações”. A proporção de profissionais do sexo masculino e brancos nas redações é maior do que a dos trabalhadores do país.