A ONG internacional Human Rights Watch está cobrando das autoridades brasileiras o uso de “todos os recursos disponíveis e necessários” para localizar o jornalista britânico Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, desaparecido na Amazônia desde domingo (5) junto com o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira. 

Phillips e Pereira, um ex-funcionário da Funai, foram vistos pela última vez na região do Vale do Javari, no Amazonas. O desaparecimento foi comunicado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) na segunda-feira (6).

“A Human Rights Watch está muito preocupada com a notícia do desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira”, publicou no Twitter a diretora da ONG no Brasil, Maria Laura Canineau. “É urgente que as autoridades dediquem todos os recursos necessários para a realização imediata das buscas a fim de garantir sua segurança.”

Jornalista britânico desaparecido na Amazônia mora no Brasil

Em nota, a Univaja disse que Dom Phillips e Bruno Pereira desapareceram no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalia no Norte, no Amazonas, no domingo de manhã.

Segundo o Guardian, o jornalista britânico, que mora há mais de 15 anos no Brasil e vive atualmente em Salvador, trabalha em um livro sobre o meio ambiente com apoio da Fundação Alicia Patterson.

Pereira acompanhou Phillips em uma incursão na Amazônia para que o jornalista fizesse entrevistas com indígenas. Após dois dias em campo, eles deveriam retornar à cidade no domingo de manhã, mas não foram mais vistos.

A Univaja disse que enviou duas equipes de resgate no mesmo dia, porém “nenhum vestígio” deles foi encontrado pela região.

A organização destaca que Bruno Pereira é um “experiente e profundo conhecedor da região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos”. O barco era novo e tinha gasolina suficiente para o retorno seguro da viagem, acrescentou.

O ex-funcionário da Funai, no entanto, já vinha recebendo ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores. Em carta divulgada pelo jornal O Globo, pescadores ilegais ameaçaram Pereira e Beto Marumbo, coordenador da Univaja.

“Sei quem são vocês e vamos achar para acertar as contas”, diz trecho divulgado pelo jornal. “Se querem dar prejuízo, melhor se aprontarem. Está avisado”, afirma outra parte da carta.

A Polícia Federal, a Polícia Civil do Amazonas, a Guarda Nacional e a Marinha foram acionadas para ajudar nas buscas.

Em comunicado à imprensa assinado pela diretora brasileira Maria Laura Caninea e compartilhado por ela no Twitter, a ONG Human Rights Watch pediu empenho total das autoridades brasileiras para que os homens sejam localizados.

“É de extrema importância que as autoridades brasileiras dediquem todos os recursos disponíveis e necessários para a realização imediata das buscas, a fim de garantir, o quanto antes, a segurança dos dois homens.”

Família de jornalista britânico desaparecido na Amazônia pede ajuda

Além do Guardian, Dom Phillips também colaborou para os jornais Washington Post, New York Times e o Financial Times.

Segundo a agência Associated Press, ele recebeu uma bolsa de um ano para reportagens ambientais da Fundação Alicia Patterson que durou até janeiro.

“Ele é um jornalista cauteloso, com um conhecimento impressionante das complexidades da crise ambiental brasileira”, escreveu Margaret Engel, diretora executiva da Fundação Alicia Patterson, em um e-mail para a agência de notícias. “E ele é um belo escritor e uma pessoa adorável. O melhor do nosso ramo.”

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Nas redes sociais, familiares do jornalista britânico desaparecido também pediram às autoridades brasileiras que ajudem nas buscas na Amazônia, região de difícil acesso que precisa de apoios aéreos e náuticos especializados.

“Imploramos às autoridades brasileiras que enviem a Guarda Nacional, a Polícia Federal e todos os poderes à sua disposição para encontrar nosso querido Dom”, tuitou Paul Sherwood, companheiro da irmã do jornalista.

“Ele ama o Brasil e dedicou sua carreira à cobertura da floresta amazônica. Entendemos que o tempo é essencial, então, por favor, encontre nosso Dom o mais rápido possível.”

A irmã de Dom, Sian Phillips, compartilhou um vídeo apelando para que o jornalista e o indigenista sejam localizados rapidamente pelas autoridades do país. Ela falou sobre a paixão do irmão pela Amazônia e o trabalho que desenvolvia:

“Meu irmão vive no Brasil com a sua mulher brasileira, amo o país e se importa profundamente com a Amazônia e os que vivem na região

Nós sabíamos que era um lugar perigoso, mas Dom acreditava que era possível salvar a natureza e os povos indígenas.”

“Aqui no Reino Unido, eu e meu outro irmão estamos extremamente preocupados. Nós amamos nosso irmão e queremos ele e seu guia brasileiro, Bruno Pereira, seja encontrados. Cada minuto importa.”

A esposa do jornalista britânico, a brasileira Alessandra Sampaio, divulgou um comunicado cobrando “ações urgentes” para que Dom Phillips seja localizado com Bruno.

“Quero implorar às autoridades brasileiras que busquem meu marido, Dom Phillips, e seu parceiro de expedição, Bruno Pereira, com urgência. No momento em que faço este apelo, eles já estão desaparecidos há mais de 30 horas no Vale do Javari, uma das regiões mais conflagradas da Amazônia.

Na floresta, cada segundo conta, cada segundo pode ser vida ou morte. Sabemos que, depois que anoitece, se torna muito difícil se mover, quase impossível encontrar pessoas desaparecidas. Uma manhã perdida é um dia perdido, um dia perdido é uma noite perdida.”

“Quero dizer a vocês que Dom Phillips, meu marido, ama o Brasil e ama a Amazônia. Ele poderia viver em qualquer lugar do mundo, mas escolheu viver aqui.

Quinze anos atrás, Dom deixou seu país, a Inglaterra, para viver no Brasil. Autoridades brasileiras, nossas famílias estão desesperadas. Por favor, respondam à urgência do momento com ações urgentes. Governo do Brasil, onde estão Dom Phillips e Bruno Pereira?”

Um porta-voz do Guardian News & Media disse que a empresa está “muito preocupada” com a situação do colaborador.

“Buscamos urgentemente informações sobre o paradeiro e a condição de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível.”

O Twitter do jornalista britânico é aberto e frequentemente usado por ele para divulgação de seus materiais publicados.

Reportagens sobre o meio ambiente, a política do Brasil e a situação da Amazônia foram algumas da últimas compartilhadas por ele na rede social.

O perfil de Dom Philipps no Instagram é fechado ao público, mas, segundo o Guardian, ele publicou um vídeo na semana passada de um barco navegando em um rio na floresta: “Amazônia sua linda”, ele escreveu na legenda.

Em 2018, o jornalista viajou à mesma região onde desapareceu agora também acompanhado de Bruno Pereira para realizar uma matéria para o jornal The Guardian.