Londres – Em um novo movimento de censura contra jornalistas estrangeiros no país e contra o Reino Unido, a Rússia proibiu a entrada de 29 profissionais dos principais veículos de comunicação britânicos e de outras 20 pessoas acusadas de ligações com o “complexo de defesa” do país. 

Chefes de redação, editores, repórteres e correspondentes da BBC, The Independent, The Times, The Guardian e outras empresas jornalísticas estão a partir de agora impedidos de entrarem e trabalharem no país, informou o Ministério das Relações Exteriores na terça-feira (14).

Ao anunciar a lista, o Ministério justificou a medida como resposta às “ações anti-russas do governo britânico”. 

Censura da Rússia a jornalistas britânicos com viés político 

Desde o início da guerra na Ucrânia, o Reino Unido se posicionou fortemente a favor do país invadido, atraindo a ira de Vladimir Putin. 

A medida não tem efeito prático sobre a cobertura da imprensa, uma vez que muitos dos vetados são chefes ou altos executivos que não iriam ao país a trabalho, mas tem efeito político. 

Entre os 29 jornalistas estão o editor-chefe do jornal The Times, John Witherow; o correspondente chefe da Sky News, Stuart Ramsay; o editor-chefe do Daily Telegraph, Chris Evans; o CEO da BBC Television, Tim Davie; a editora-chefe do The Guardian, Katharine Viner; o editor-chefe do Daily Mail, Edward Verity; e o editor-chefe do The Independent, Christian Broughton.

Ramsey virou notícia depois de sobreviver a um ataque ao veículo em que trafegava junto com outros jornalistas por forças russas, em março. Ele foi baleado e agora está de volta à Ucrânia cobrindo a guerra. 

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Mas há também correspondentes, repórteres e colunistas britânicos da BBC, Channel 4, ITV, Financial Times, The Sunday Times, Daily Telegraph, The Guardian e Sky News.

Segundo as autoridades russas, os jornalistas banidos “estão envolvidos na disseminação deliberada de informações falsas e unilaterais sobre a Rússia e os eventos na Ucrânia e em Donbas.”

“Com suas avaliações tendenciosas, eles também contribuem para alimentar a russofobia na sociedade britânica”, diz a nota do ministério.

Já a inclusão dos nomes de militares, políticos e demais “pessoas associadas ao complexo de defesa” da Grã-Bretanha foi por envolvimento na “tomada de decisões sobre o fornecimento de armas à Ucrânia”, informou o governo russo.

Entre os nomes estão integrantes do Ministério de Defesa britânico, parlamentares, militares da Marinha e executivos de empresas privadas.

Em lista anterior, o primeiro-ministro Boris Johnson e outros integrantes do governo do Reino Unido já tinham sido vetados de entrarem na Rússia.

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Veto a jornalistas acontece após sanções do Reino Unido

O veto da Rússia a jornalistas e militares britânicos pode ter ligação com o fim da transmissão da emissora estatal RT (Russia Today) no Reino Unido.

Um dos braços da propaganda russa teve sua licença para transmitir no território da rainha revogada em março por causa da invasão à Ucrânia.

Em atitude semelhante, o escritório da emissora CBC/Radio-Canada em Moscou foi fechado, em maio, em retaliação ao banimento da TV estatal russa no Canadá. Os profissionais canadenses foram “convidados” a deixar o país em até três semanas após a ordem.

Além disso, o Reino Unido, assim como outras nações ocidentais, impôs uma série de sanções ao governo russo.

Recentemente, o primeiro-ministro Boris Johnson compartilhou que foi atualizado sobre os combates na Ucrânia em ligação com o presidente Volodymyr Zelensky.

“Está claro que o povo ucraniano não se curvará à brutalidade russa”, publicou Johnson no Twitter. “Somos inabaláveis em nossa missão de garantir que a Ucrânia seja defendida e apoiada a longo prazo.”

‘Lista de proibidos’ provoca reações

A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) se manifestou sobre a “lista de proibidos” do Kremlin, e se disse “altamente alarmada com a escalada da censura que é a proibição de 29 jornalistas do Reino Unido” de entrarem na Rússia.

“O Kremlin explicou sua decisão pelos ‘falsos [relatos]’ sobre a guerra na Ucrânia e ‘ações hostis’ do país”, publicou a ONG no Twitter.

“Durante a guerra, o Parlamento propôs uma série de leis destinadas a controlar a mídia e a informação.

Um projeto de lei que permite que um promotor revogue rapidamente os credenciamentos de jornalistas sem julgamento está prestes a ser assinado por Putin e ameaça os jornalistas que ainda estão no país.”

Um porta-voz do The Guardian chamou o movimento do governo russo de “decepcionante” e disse ser um dia ruim para a liberdade de imprensa.

“O jornalismo confiável e preciso é mais importante agora do que nunca e, apesar dessa decisão, continuaremos com reportagens sobre a Rússia e sua invasão da Ucrânia”.

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