Londres – A complexa relaรงรฃo entre jornalistas e assessorias de imprensa, marcada por visรตes nem sempre alinhadas sobre o que รฉ uma boa pauta e qual o melhor horรกrio para oferecรช-la, estรก ganhando novas รกreas de atenรงรฃo.

Um estudo da plataforma de distribuiรงรฃo de comunicados para a imprensa Cision revelou que a avaliaรงรฃo sobre o que รฉ sugerido pelas assessorias leva cada vez mais em conta o potencial de cliques, compartilhamentos e curtidas da matรฉria resultante da sugestรฃo.

A empresa entrevistou mais de 3,8 mil jornalistas de 2.160 veรญculos em 17 mercados (o Brasil nรฃo รฉ um deles).

Credibilidade รฉ a maior preocupaรงรฃo no jornalismo

A pesquisa constatou que o declรญnio das receitas de publicidade e da circulaรงรฃo estรก levando muitos editores a acompanharem os dados de audiรชncia mais de perto.

E 59% dos entrevistados concordam que o acesso a mรฉtricas de audiรชncia faz repensar a forma como avaliam as sugestรตes trazidas pelos assessores em nome das empresas ou organizaรงรตes que representam.

Apenas 4% nรฃo estรฃo ligando para as mรฉtricas, aves raras nos novos tempos de mรญdia digital.

O estudo mostrou tambรฉm que as dores atuais dos jornalistas que trabalham em redaรงรตes de vรกrios paรญses vรฃo alรฉm do incรดmodo com reduรงรฃo salarial ou enxugamento.

Manter a credibilidade diante do avanรงo das fake news รฉ a principal preocupaรงรฃo para 32% dos jornalistas entrevistados.

Em seguida aparecem a diminuiรงรฃo de recursos e a queda de circulaรงรฃo e faturamento, empatadas com 16%. E logo depois, com 14%, as redes sociais e influenciadores, ocupando o lugar da mรญdia tradicional.

Mesmo em um cenรกrio de ameaรงas crescentes ร  liberdade de imprensa atรฉ em paรญses democrรกticos, essa รฉ uma preocupaรงรฃo para apenas 8% dos respondentes. Antes dela figura o limite pouco claro entre conteรบdo editorial e publicitรกrio, com 10%.

As impressรตes sobre o risco das fake news para a credibilidade no jornalismo variam de acordo com as regiรตes.

Nos EUA pรณs-Trump 61% dos jornalistas ouvidos pela Cision acham que o pรบblico perdeu a confianรงa na imprensa. Na Europa a taxa cai para 55%. Na regiรฃo รsia-Pacรญfico รฉ de 32%. Lรก, 14% acham atรฉ que a situaรงรฃo melhorou.

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Ruรญdos na relaรงรฃo entre jornalistas e assessores de imprensa

Com base nas respostas, a Cision enumera sete โ€œgafesโ€, nas palavras da empresa, capazes de fazer os jornalistas pensarem duas vezes antes de interagirem com um assessor ou atรฉ bloqueรก-lo para sempre.

A primeira dica รฉ โ€œnรฃo oferecer maรงรฃs a um repรณrter que cobre laranjasโ€. Isso รฉ motivo de bloqueio para 73% dos profissionais de redaรงรฃo.

Em seguida aparece o abominado follow up, o contato feito pelo assessor para confirmar se o jornalista recebeu a sugestรฃo e o que achou dela. 

Segundo o estudo, profissionais de RP que insistem com vรกrias tentativas sรฃo os piores.

O medo de ser enganado vem em seguida. Mais da metade dos entrevistados considera uma โ€œofensa imperdoรกvelโ€ receber informaรงรตes imprecisas ou sem fontes indicadas.

Conteรบdo percebido como sendo โ€œparecido com um folheto de marketingโ€ pode ter um efeito maior do que ser desprezado pelo jornalista que o recebe.

Segundo o estudo da Cision, a metade dos profissionais afirmou que essas pautas podem fechar as portas para aquele assessor eternamente. 

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“Nรฃo desaparecer” รฉ mais um conselho. Esquivar-se de perguntas ou nรฃo ser transparente รฉ outro motivo para portas se fecharem no futuro, assim como nรฃo levar em conta os prazos apertados dos jornalistas, demandando respostas rรกpidas.

Por รบltimo, a Cision lembra que os jornalistas precisam de um parceiro de RP com quem possam contar.

Cancelar uma entrevista no รบltimo minuto ou quebrar um acordo de exclusividade รฉ razรฃo para um a cada quatro profissionais de redaรงรฃo dizerem โ€œatรฉ nunca maisโ€.

Hรก tambรฉm dicas para que as sugestรตes tenham mais chances de serem aceitas. A principal รฉ a inclusรฃo de conteรบdo multimรญdia, apreciado por um em cada cinco jornalistas.

Mais da metade dos entrevistados pela Cision disseram estar mais propensos a cobrir uma pauta enriquecida com fotos (81%), vรญdeos (47%) e infogrรกficos (41%). E tudo de alta qualidade, em alta definiรงรฃo.

Diante de tantas exigรชncias, pode parecer quase impossรญvel agradar.

Nรฃo รฉ o que mostra a pesquisa. Para 65% dos entrevistados pela Cision, a qualidade da relaรงรฃo de jornalistas com os assessores de imprensa nรฃo mudou em um ano. Para 14% piorou, e para 18% melhorou, mostrando que tem mais gente acertando do que errando pelo mundo.

Leia mais sobre o estudo e veja o relatรณrio completo 

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