Londres – Tirar fotos do céu é uma tentação na era do smartphone, mas não é fácil capturar cenas nítidas como fazem cientistas, fotógrafos profissionais e também amadores que se dedicam à fotografia astronômica usando telescópios e câmeras poderosas, como mostra o concurso do Observatório de Greenwich, em Londres. 

O prêmio anunciou esta semana os trabalhos finalistas de seu concurso anual de fotografia astronômica, e entre eles está o de um brasileiro.

Flávio Fortunato, que começou como amador, capturou uma imagem incrível do planeta Saturno com os anéis e as luas, destacadas no céu escuro de João Pessoa, em Alagoas. 

O melhor da fotografia astronômica 

Ele vai concorrer com outras 46 fotos espetaculares que retrataram o brilho da Via Láctea, galáxias colidindo, as luzes dançantes da aurora boreal, o vermelho infernal da superfície solar e cores da lua invisíveis a olho nu. 

Considerado o mais importante prêmio de fotografia astronômica do mundo, o concurso é organizado pelo Observatório Real de Greenwich, que reúne quatro museus.

Fundado em 1675, é o “lar” da hora média mundial, sob a sigla GMT (Greenwich Median Time) e um dos locais científicos históricos mais importantes do mundo. 

Mais de 3 mil fotógrafos amadores e profissionais de 67 países participaram da 14ª edição da competição. Os vencedores de cada uma das nove categorias e o ganhador geral serão anunciados em setembro. Os trabalhos serão expostos em um dos museus do complexo. 

Duelo com Júpiter e cometa no concurso de fotografia astronômica 

Flávio Fortunato é finalista na categoria Planetas, Cometas e Asteróides do concurso. Ele se dedica à fotografia astronômica há vários anos, dando dicas para quem quer seguir o mesmo caminho e publicando imagens do céu em suas redes sociais. 

A imagem produzida por ele foi elogiada pelo júri por mostrar as luas do planeta distribuídas quase simetricamente, criando um equilíbrio na composição.

Ele contou que teve sorte, e que a captura da imagem foi “emocionante”, porque naquela noite percebeu que o ambiente estava calmo e  teria chances de registrar o planeta com mais precisão. 

©Flávio Fortunato

O brasileiro vai disputar o primeiro lugar com outra imagem que mostra luas em torno de um planeta. Só que o retratado é Júpiter, sem anéis mas com linhas tão perfeitas que parecem ter sido desenhadas por um artista. 

A Família Jupteriana, por Damian Peach

Em Rio Hurtado, no Chile, Júpiter teve sua imagem capturada junto com três de suas maiores luas. A famosa Grande Mancha Vermelha é visível no próprio Júpiter, junto com muitas outras manchas e tempestades.

Detalhes semelhantes também são visíveis em todas as três luas jupiterianas. A cratera de raios brilhantes Osíris pode ser vista claramente em Ganimedes no canto superior esquerdo.

© Damian Peach
Cometa C/2021 A1 (Leonard), por Lionel Majzik

Mas o terceiro concorrente na categoria é forte: um cometa que despontou em 2021 como celebridade instantânea do ano e desbancou muitos velhos conhecidos dos astrônomos.

Leonard foi descoberto por G.J. Leonard em 3 de janeiro de 2021, e fez sua passagem mais próxima da Terra em 12 de dezembro de 2021.

Quase um quarto das inscrições para a categoria Planetas, Cometas e Asteróides do concurso de fotografia astronômica do Observatório Real de Greenwich este ano focaram neste único cometa, incluindo esta imagem capturada na Namíbia por Lionel Majzik, considerada “espetacular” pelos organizadores do concurso.

© Lionel Majzik

O fotógrafo conseguiu registrar o cometa com um telescópio robótico nos Observatórios  Skygems na Namíbia em 27 de dezembro. É uma rara visão de um cometa deixando o Sistema Solar, e que não será visto novamente.

Majzik disse: “a fotografia foi prejudicada pelas condições meteorológicas nubladas, mas fiquei encantado ao capturar o incrivelmente espetacular Cometa Leonard com sua cauda”.

Os outros finalistas do concurso de fotografia 

Parece difícil competir com três imagens tão impressionantes. Mas nem o céu é limite para a sensibilidade e técnica de fotógrafos profissionais e amadores, manejando câmera e telescópios para revelar o que nossos olhos não enxergam.

Veja alguns dos concorrentes no concurso. 

NGC 6888 – A Nebulosa Crescente, por Bray Falls

Uma visão profunda da Nebulosa Crescente em Cygnus, a partir de Auberry, na Califórnia, resultado de ondas de choque originárias da estrela Wolf – Rayet WR 134.

© Bray Falls

Subúrbios da Nebulosa Carina, por Ignacio Diaz Bobillo

A imagem mostra a nebulosa catalogada como RCW 53c e raramente capturada por astrofotógrafos. A foto foi feita em General Pacheco, Província de Buenos Aires, Argentina. 

© Ignacio Diaz Bobillo

As Ondulações de Vela, por Paul Milvain

Esta imagem captura uma região na borda da constelação de Vela capturada a partir de Victoria, na Austrália. O remanescente de supernova de Vela é uma região com imagens muito pesadas, mas esta seção não é comumente associada ao remanescente de supernova. Ele mostra cores de estrelas ricas e a forte presença de emissões de H-alfa e SII.

© Paul Milvain

Arp 271: Colisão Cósmica, por Mark Hanson e Mike Selby

NGC 5426 e NGC 5427 são duas galáxias espirais de tamanho semelhante, envolvidas em uma grande interação. Elas são conhecida como Arp 27. Acredita-se que a interação continue por dezenas de milhões de anos. A foto foi feita com telescópio no Observatório El Sauce, em Río Hurtado, no Chile.

© Mark Hanson, Mike Selby

Catavento da Hidra, por Peter Ward

Nicolas-Louis de Lacaille observou pela primeira vez o que mais tarde ficou conhecido como Galáxia Catavento do Sul em 23 de fevereiro de 1752, no Cabo da Boa Esperança, na África do Sul.

Esta imagem, capturada exatamente 270 anos depois a partir de Barden Ridge, na Austrália, combina um conjunto profundo de exposições H-alfa junto com dados de cores para destacar as regiões de formação de estrelas desta bela galáxia espiral.

© Peter Ward

Interação de Galáxias em Eridanus, por  Terry Robison

Este par de galáxias em interação está na constelação do sul de Eridanus. Elas fazem parte do aglomerado de galáxias Fornax. Estão tão próximas que as forças gravitacionais distorceram um dos braços espirais da galáxia maior, NGC 1532.

Essas forças desencadearam explosões de formação de estrelas em ambas as galáxias, mas mais ainda em NGC 1532, onde uma nova geração de estrelas massivas estrelas foi criada. A foto foi feita em Carrapoee, na Austrália. 

© Peter Ward

Na fotografia astronômica, o astro rei divide espaço com a lua 

Voando sobre o Pólo Sul, por Andrea Vanoni

Esta imagem finalista na categoria Nossa Lua do concurso de fotografia astronômica mostra crateras e montanhas no pólo sul lunar, incluindo a cratera Bailly à direita. Sob Bailly estão as crateras Bettinus, Kircher e Wilson. Os Montes Leibnitz são visíveis na borda.

A foto foi feita em Porto Mantovano, Lombardia, Itália.   

© Andrea Vanoni

Minerais Invertidos, por Noah Kujawski

Embora pareça cinza e monocromático, o solo da superfície lunar tem cores ocultas, causadas por diferentes minerais. As cores são muito fracas para serem vista a olho nu, mas as imagens digitais permitem que os astrofotógrafos as aprimorem e revelem uma lua diferente.

Esta imagem capturada em Lakeville, Minesotta (EUA) é a visão invertida dessas cores, uma perspectiva única.  

©Noah Kujawski

Acima do Pólo Sul Lunar, por Tom Glenn

A foto é uma composição de imagens do pólo sul lunar capturadas em San Diego (EUA) duas datas diferentes, fornecendo diferentes vistas da região.

É um dos mapas mais detalhados produzidos por amadores desta parte da lua, que é muito difícil de observar da Terra, mostrando que não apenas profissionais ou cientistas conseguem disputar espaço na fotografia astronômica.

Astronomy Photographer of the Year 2022 Shortlist
© Tom Glenn

Inferno Solar, por Stuart Green

O sol parece diferente toda vez que os astrofotógrafos capturam uma imagem, pois durante todo o tempo  novas manchas solares se formam, crescem e desaparecem.

Em Preston, no Reino Unido, Stuart Green filtrou seletivamente todos os comprimentos de onda da luz, exceto uma estreita faixa vermelha (conhecida como H-alfalina) para revelar uma região ativa de mudança do sol.

© Stuart Green

Eclipse Parcial do Sol em H-alpha, por Alessandro Ravagnin

Um eclipse parcial do sol foi visto na região de Veneto, na Itália, atingindo seu máximo em 10 de junho de 2021. Foi um dia de baixa atividade solar, o que permitiu essa imagem nítida da lua passando na frente do sol.

© Alessandro Ravagnin

Nuvens de gás hidrogênio, por Simon Tang

Nuvens de gás hidrogênio são liberadas quando as linhas do campo magnético do sol se chocam. Essa exibição da natureza cria características surpreendentes, conhecidas como proeminências, no limbo do sol. A imagem foi feita em Los Angeles, nos EUA.

©Simon Tang

Visões terrenas do céu 

Enquanto algumas imagens finalistas do concurso de fotografia astronômica do Observatório de Greenwich destacam ângulos invisíveis a olho nu, outras retratam o céu combinado a pessoas ou elementos da natureza, que por vezes funcionam como molduras para as luzes do universo como a Via Láctea, o sol poente, o brilho das estrelas e a mágica aurora boreal. 

Círculos e Curvas © Sean Goebel

Vistas sob um arco quádruplo, as estrelas circulam em torno de Polaris. A cordilheira de Sierra Nevada da Califórnia preenche o horizonte e o Monte Whitney, o pico mais alto dos Estados Unidos continentais, está na extrema esquerda.

© Sean Goebel

Costa do Oregon, por Marcin Zajac

A Via Láctea acima da costa sul do Oregon, EUA. Este local é notoriamente nebuloso durante o verão, o que torna difícil fotografar a Via Láctea. 

© Marcin Zajac

Atravessando o Madison, por Jake Mosher

Os arcos da Via Láctea sobre a ponte Three Dolars, em Montana, foto feita em abril de 2021. O fotógrafo dirigiu 160 quilômetros para ver o núcleo da Via Láctea subir acima do horizonte acompanhando a curva da ponte sobre rio Madison algumas horas antes do amanhecer.

© Jake Mosher

Escada para as Estrelas, por Mihail Minkov

A imagem é o resultado da combinação de 15 cliques únicos, feitos em maio de 2021 na represa Shiroka Polyana, um dos locais mais sombrios da Bulgária.

© Mihail Minkov

Chidiya Tapu, por Vikas Chander

A reserva natural de Chidiya Tapu, na Índia, com sua rica e diversificada flora e fauna, é um destino ideal para fotografia astronômica de campo amplo, pois fica longe das luzes da cidade. Na foto, a Via Láctea parece espelhar a água em seu curso.

© Vikas Chander

Diagonal, por Gen Kiryu

A Via Láctea se eleva acima do píer do Instituto de Pesquisa Marinha no Japão, em Ibaraki. 

© Gen Kiryu

Pilhas de pedras, por Dereck Horlock 

O empilhamento de pedras tem um uso prático desde os tempos pré-históricos, como instrumento de navegação para marcar trilhas ou para sinalizar limites territoriais.

As pilhas são comuns nas praias de St Agnes, nas Ilhas Scilly (Reino Unido) e fornecem uma referência visual para a Via Láctea cortando o céu noturno nesta imagem.

© Derek Horlock

Equinox Moon e Glastonbury Tor, por Hannah Rochford

A imagem retrata pessoas admirando a lua cheia surgindo atrás de Glastonbury Tor, no Reino Unido, em setembro de 2021.

© Hannah Rochford

O céu estrelado sobre a estrada nacional mais alta do mundo, por Yang Sutie

A iluminada Estrada Nacional 219, a estrada nacional mais alta do mundo, em Shannan, na fronteira entre Tibete, serpenteia em primeiro plano, quase espelhando a imagem majestosa da Via Láctea acima. Os dois países são separados pela montanha Kula Kangri, localizada na província de Shannan. 

© Yang Sutie

Espectro, por Stefan Liebermann

A aurora boreal sobre a famosa montanha islandesa Vestrahorn.

© Stefan Liebermann

Uma saga islandesa, por Carl Gallagher

O fotógrafo fez uma viagem de nove dias e 2.500 milhas, perseguindo lacunas de claridade entre as nuvens no céu, para capturar a Aurora Boreal acima do que restou de um navio encalhado que virou um ponto turístico em Gardur, na Islândia.

© Carl Gallagher

Magia Elétrica, por Shane Turgeon

A Aurora Boreal é refletida nas águas tranquilas de um lago em Alberta, no Canadá.

© Shane Turgeon

Energia Eólica Solar, por Esa pekka isomursu

Uma vívida Auora Boreal atrás da turbina eólica dá a ilusão de uma interação entre os dois, como se a turbina fosse acionada pelo vento solar ou estivesse dispersando a aurora. O registro foi feito durante uma forte aparição da aurora boreal no norte da Finlândia.

© Esa pekka isomursu

Poluição atmosférica, pesadelo para a fotografia astronômica

Para quem não tem a oportunidade de viajar para lugares remotos ou utilizar telescópios, a fotografia astronômica tem um inimigo: a poluição. Mas ele não foi suficiente para derrubar pelo menos um dos competidores do concurso do Observatório de Greenwich. 

Finalista da categoria de jovem fotógrafo do ano, Zezhen Zhou, teve que superar a poluição luminosa em Shaoxing, na China, para registrar o Triângulo de Pickering, parte da Nebulosa do Véu na constelação de Cygnus.

© Zezhen Zhou

Misturando amor pela ciência e um pouco de poesia, ele disse:

“Se você está em uma cidade, isso não significa que as estrelas estão deixando você.

Acho que esta imagem não apenas mostra a beleza do céu noturno, mas também nos diz que não devemos perder nosso amor pela astronomia por causa do ambiente ruim.”


Fotos publicadas com autorização do concurso de fotografia astronômica do Observatório de Greenwich. Direitos reservados aos autores. 


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