“Esta visita à Arábia Saudita pode ser a última oportunidade para deixar claro a Mohamed bin Salman o que os EUA querem dizer quando se trata de liberdade de imprensa e pedir reformas há muito esperadas”, disse o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire.

A entidade lembrou que poucas semanas depois de assumir o cargo de presidente, Biden tirou o sigilo de um relatório da CIA sobre a morte de Khashoggi que incriminava o príncipe saudita.

“Avaliamos que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita Muhammad bin Salman aprovou uma operação em Istambul, na Turquia, para capturar ou matar o jornalista saudita Jamal Khashoggi”, diz o documento.

“Instamos o presidente Biden a levantar como uma questão de prioridade urgente com MBS a necessidade de conceder a Raif Badawi passagem segura do país, libertar os 28 jornalistas atualmente presos e garantir justiça para Jamal Khashoggi sem mais delongas”, acrescentou Deloire.

O blogueiro Raif Badawi foi detido de forma arbitrária e ganhou a liberdade em março após cumprir uma sentença de dez anos de prisão por “insultar o Islã”. Agora, o jornalista está proibido de sair Arábia Saudita por mais dez anos, segundo a RSF.

Família de jornalista palestina pede reunião com Biden

A morte de Khashoggi  não é a única que mancha a passagem de Biden pelo Oriente Médio.

No início do mês, o governo americano divulgou um relatório apontando que a repórter da TV Al Jazeera foi morta por um tiro que partiu das forças israelenses, porém, afirma não ter sido possível descobrir se o disparo foi intencional.

A família da jornalista, que já tinha questionado essas conclusões, solicitou uma reunião com Biden para esclarecer os pontos avaliados na análise do Departamento de Estado dos EUA.

O irmão de Abu Akleh, Anton, assinou a carta que acusa a Casa Branca de favorecer o governo de Israel ao não responsabilizá-lo de forma direta pelo crime, em “uma aparente intenção de minar nossos esforços em direção à justiça e responsabilização pela morte de Shireen”.

“Os Estados Unidos estão se escondendo para apagar qualquer irregularidade das forças israelenses”, diz o texto. 

“As ações de seu governo só podem ser vistas como uma tentativa de apagar o assassinato extrajudicial de Shireen e fortalecer ainda mais a impunidade sistêmica desfrutada pelas forças e autoridades israelenses por matar palestinos ilegalmente.”

A família ainda pediu a Biden que desconsidere o relatório do Departamento de Estado e indique o FBI e outras agências do país para investigarem o caso. 

A sobrinha da jornalista, Lina Abu Akleh, disse em entrevista ao The Guardian que a família não teve resposta do governo americano para o pedido de se encontrar com Biden.

“Os EUA estão claramente tentando enterrar o caso”, ela disse. E acrescentou:

“Se Shireen fosse morta na Ucrânia, tenho 100% de certeza que a reação teria sido completamente diferente. Haveria ação desde o primeiro dia. Haveria responsabilização. Teria havido uma investigação transparente e independente. E teria havido justiça.”

Shireen Abu Akleh era um dos rostos mais conhecidos da mídia palestina e sua morte causou comoção na região. Protestos e confrontos com a polícia israelense aconteceram até mesmo em seu funeral, acompanhado por milhares de palestinos.

A visita de Biden motivou manifestações em Israel, onde ele passou primeiro por Jerusalém. Cartazes e faixas estamparam o rosto da jornalista da Al Jazeera pelas ruas e cobraram justiça.

Em Belém, ativistas também espalharam cartazes com os dizeres: “Sr. Presidente, isso é apartheid”, em referência a violência sofrida pelos palestinos que vivem naquela região, um dos territórios ocupados por Israel.

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