Londres – Em mais um movimento para manter o apoio à Ucrânia na guerra com a Rússia após mais de quatro meses de conflito, a primeira-dama do país, Olena Zelensky, falou no Congresso dos EUA nesta quarta-feira (20), pedindo mais armas para defender seu país. 

O discurso aconteceu no segundo dia da visita ao país, com uma agenda movimentada que incluiu um encontro afetuoso com a primeira-dama americana, Jill Biden, na Casa Branca. As duas já tinham se encontrado na Ucrânia. 

Assim como o presidente Volodymyr Zelensky, que foi ator antes de entrar para a política, Olena também fez uma carreira na mídia. Ela era roteirista de programas, incluindo a série “Servidor do Povo”, em que seu marido representava um professor que chegava à presidência do país quase que por acaso. 

Mulher de Zelensky na mobilização por seu país

A ofensiva de charme que a Ucrânia vem empreendendo é importante em um momento em que o noticiário sobre a guerra começa a diminuir e as atenções do mundo se voltam para outros assuntos.

E isso pode influir sobre decisões a respeito de ajuda de guerra, apoio humanitário e sanções à Rússia por parte de países como os EUA, um aliado fundamental por sua importância e pelo potencial de fornecer armamentos. 

Olena Zelensky vem exercendo com maestria este papel. Desde o início da guerra, ela usa as redes sociais para se manifestar sobre o sofrimento inflingido pela invasão russa à população do país, sobretudo crianças. 

Esse foi o tom de seu discurso no Congresso americano, em que pediu que o país fornecesse mais armas para seu país e classificou a invasão de “jogos vorazes da Rússia”. 

Antes de começar a falar, ela foi aplaudida de pé pelos congressistas. Fez o discurso em ucraniano, e começou destacando o fato de ser a primeira-dama de um país a falar na casa legislativa.

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A primeira-dama exibiu cenas de vítimas civis de ataques aéreos russos, e disse que as forças invasoras de Moscou estão “destruindo nosso povo”.

Uma das imagens mais fortes foi a da menina Liza, morta no início do mês por um míssil russo. Ela lembrou ter conhecido a criança alegre e brincalhona antes do Natal e usou as redes sociais no dia do funeral para protestar contra a crueldade. 

“Liza tinha apenas quatro anos, ela não está mais conosco”, disse a primeira-dama aos congressistas. 

Zelensky então narrou imagens de outras crianças e famílias massacradas pelas forças russas durante a invasão de quase cinco meses, incluindo 16 homens e mulheres que foram mortos em um ataque a um shopping center em Kremenchuk no final de junho.

Uma vítima destacada pela mulher de Volodymyr Zelensky, Borys Romanchenko, de 96 anos, sobreviveu a quatro campos de concentração nazistas – mas não conseguiu escapar do bombardeio russo em Kharkiv.

As imagens não eram novas, mas os congressistas se demonstraram comovidos.  

“Uma guerra terrorista invasiva não provocada está sendo travada contra meu país, a Rússia está destruindo nosso povo”, disse a primeira-dama, observando que Moscou lançou mais de 3 mil mísseis  desde que a invasão começou em 24 de fevereiro.

“Estes são os ‘Jogos Vorazes’ da Rússia, caçando pessoas pacíficas em cidades pacíficas da Ucrânia”, acrescentou.

A primeira-dama se referiu também à propaganda russa que tomou conta da mídia estatal.

“Eles nunca transmitirão isso em seus noticiários – é por isso que estou mostrando aqui.”

Zelenska enfatizou que a Ucrânia apreciou a ajuda que Washington forneceu até agora, dizendo:

“Estamos gratos, muito gratos por os Estados Unidos estarem conosco nesta luta por nossos valores compartilhados sobre vida humana e independência”.

Mas pediu que o apoio não cesse, e quase se desculpando, afirmou que o país precisa de armas. 

“Estou pedindo algo agora que nunca gostaria de pedir. Estou pedindo armas.

Armas que não seriam usadas para travar uma guerra na terra de outra pessoa, mas para proteger a casa de alguém e o direito de acordar vivo nessa casa.”

Ela reforçou a necessidade de  “sistemas de defesa aérea” para combater os ataques de mísseis da Rússia. 

Se os congressistas vão atender ao pedido votando por mais ajuda não se sabe, mas pelo menos o presidente Joe Biden demonstrou simpatia pela passagem da mulher de Zelensky pelos EUA.

No Twitter oficial da presidência no dia da visita da primeira-dama à Casa Branca, ele disse que ela tem a mesma tenacidade e resiliência que a sua nação. 

Olena Zelensky, o lado humano da guerra  

Elegante, carismática e experiente em lidar com a mídia, Olena Zelensky virou uma celebridade global, funcionado como a face humana da guerra, enquanto o presidente se concentra em temas mais áridos, como as ações militares e a economia. 

Olena e Volodymyr Zelensky se casaram em 2003. Os dois se conheceram na faculdade e têm dois filhos, de 9 e 14 anos. 

Diversos meios de comunicação já fizeram longas entrevistas e perfis mostrando a história da mulher de Zelensky. Um dos mais recentes foi na edição Américas do jornal espanhol El País. 

A mulher de Zelensky mantinha uma postura discreta depois que o marido se tornou presidente. Há comentários na mídia de que ela não teria sido favorável à sua candidatura. 

Mas depois que a guerra começou, ela se tornou um importante instrumento de relações públicas do país.

O primeiro grande movimento foi uma carta aberta denunciando crimes cometidos pelo exército russo no país, vista por milhões de pessoas no Instagram e reproduzida na imprensa global. 

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