Londres – Depois de mais de seis meses no ostracismo, o ex-âncora da CNN Chris Cuomo anunciou a retomada de sua carreira profissional na imprensa, abalada por um escândalo envolvendo ajuda ao irmão, o ex-governador Andrew Cuomo, que enfrentava acusações de assédio sexual e acabou renunciando.
O jornalista de 51 anos, que comandava um dos programas de maior audiência na TV americana, lançou um podcast e vai trabalhar na NewsNation, uma rede de pequeno porte que pertence ao grupo Nexstar Media. A emissora ainda não informou como será a participação, que começará em outubro.
Nesta terça-feira (26), ele deu uma longa entrevista no programa Dan Abrams Live, a primeira depois da demissão – e passou um bom tempo se explicando sobre as acusações que o tiraram da bancada da CNN.
Chris Cuomo processa CNN por quebra de contrato
Chris Cuomo foi demitido da CNN em dezembro depois que uma investigação interna revelou orientações fornecidas para ajudar seu irmão, quebrando as políticas da empresa. Ao mesmo tempo, ele foi acusado de assédio sexual.
A saída foi turbulenta e lançou a rede americana em uma crise, levando à demissão do CEO global, Jeff Zucker, em fevereiro.
O executivo pediu demissão da emissora ao revelar um relacionamento secreto que mantinha com a diretora de marketing da empresa, Allison Gollust, também demitida. Apesar de negarem que as saídas foram motivadas pelo caso dos irmãos Cuomo, ambas resultaram da investigação interna feita na CNN iniciada por causa do ex-âncora.
Cuomo não se conformou com a demissão e iniciou uma batalha jurídica para receber US$ 125 milhões, sob o argumento de rescisão indevida.
Agora, encontrou um espaço profissional em um canal menor, parte de um grupo especializado em mídia regional que nos nos últimos meses fez uma série de aquisições com o objetivo de reforçar sua presença no mercado.
Na entrevista, ele voltou a negar qualquer irregularidade, embora tenha reconhecido que falou com jornalistas que cobriam o caso de assédio sexual envolvendo seu irmão para descobrir o que eles sabiam.
“Eu nunca entrei em contato com nenhum jornalista que estivesse cobrindo o caso do meu irmão para tentar influenciar sobre a cobertura”, disse Cuomo. ‘Eu falo com as pessoas na mídia o tempo todo. Elas são a maioria dos meus relacionamentos”, afirmou.
O ex-âncora disse que havia uma diferença entre ligar para perguntar sobre a cobertura e procurar influenciar as matérias, observando: ‘Acho que vamos descobrir esta diferença durante o processo judicial”.
Embora ele continue negando, transcrições, entrevistas em vídeo e mensagens de texto divulgadas pelo Gabinete do Procurador-Geral de Nova York mostraram que Chris Cuomo usou suas conexões com a mídia dentro e fora da CNN para saber sobre histórias planejadas sobre a má conduta de seu irmão com mulheres.
Cuomo disse na entrevista que, apesar da turbulência e do litígio com a CNN ele ainda tem todo o amor por seu irmão. Ele falou de como foi duro passar pela situação que enfrentou, incluindo sair da empresa sem ter a oportunidade de se despedir da equipe.
O ex-âncora elogiou o alcance global da CNN, e disse que tinha perfeita noção da importância do trabalho que fazia.
Vida nova para o jornalista em canal pequeno
A nova casa profissional de Chris Cuomo nem chega perto do alcance da CNN. O programa dele na rede de propriedade da Warner, ‘Cuomo Prime Time’, registrou uma média de 2 milhões de espectadores noturnos em 2020.
O programa NewsNation Prime, principal atração do horário nobre do NewsNation, atraiu apenas cerca de 46 mil espectadores em média no ano passado.
Em um comunicado, Cuomo elogiou a NewsNation por ‘acreditar no trabalho’ que está fazendo com seu novo podcast, o Chris Cuomo Project.
“Estou ansioso para construir algo especial aqui – cobrir notícias onde quer que elas aconteçam e ter conversas que atendam a preocupações das pessoas comuns” , disse ele.
A NewsNation s apresenta como ‘a fonte da América para notícias imparciais’, mas é vista como tendo inclinação para a direita. Uma posição oposta à de Cuomo, que sempre foi alinhado ao partido Democrata e era um dos mais duros críticos do ex-presidente Donald Trump em seu programa da CNN.
O presidente do canal, Michael Corn, teria negociado pessoalmente a contratação do jornalista.
Corn trabalhou anteriormente no Good Morning America da ABC, onde duas ex-funcionárias o acusaram de agressão sexual e de promover um ambiente de trabalho tóxico. O processo foi arquivado no início deste ano, mais de um ano depois que ele foi contratado pela NewsNation.
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Ao lançar o podcast, Chris Cuomo também se defendeu das acusações de ter quebrado as políticas da CNN, reafirmando que ajudar o irmão era um compromisso de família.
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