Londres – Na mesma semana em que causou indignação no mundo com a execução de quatro ativistas contrários ao regime militar, Mianmar seguiu com a repressão à imprensa condenando mais um jornalista – o terceiro em apenas um mês. 

No dia 29 de julho, um tribunal da cidade de Hpa-an sentenciou Maung Myo, repórter da agência de notícias Mekong, a seis anos de prisão sob a acusação de violar a Lei de Combate ao Terrorismo, segundo a organização de defesa da liberdade de imprensa Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ). 

O editor da agência de notícias, Nyan Linn Htet, confirmou ao CPJ que Maung Myo foi condenado por posse de fotos e entrevistas com membros das Forças de Defesa do Povo, formadas por insurgentes adversários do governo militar de Mianmar.

Repressão a jornalistas em Mianmar 

As atividades da agência noticiosa Mekong sofreram restrições depois do golpe militar de fevereiro de 2021, segundo o editor.

Ela foi mais uma entre as muitas organizações jornalísticas alvejadas pela censura, em uma escalada de repressão a jornalistas que levou alguns a fugirem do país e outros a serem presos e condenados por terem desafiado o regime. 

Nyan Linn Htet disse ao CPJ que Maung Myo está detido na prisão Taung Kalay e pretende apelar de sua condenação.

“A condenação e prisão do jornalista Maung Maung Myo é cruel e incomum, e é uma retaliação injusta por seu trabalho como repórter independente”, disse Shawn Crispin, representante do CPJ no Sudeste Asiático.

“A junta de Mianmar deve parar de igualar jornalismo com terrorismo e permitir que jornalistas façam suas reportagens sem medo de prisão.”

Maung Myo, que também é conhecido como Myo Myint Oo, foi preso no dia 10 de maio no posto de controle da ponte do rio Salween, perto de Hpa-an, depois que as autoridades descobriram que ele havia compartilhado conteúdo da agência de notícias Mekong em sua página pessoal no Facebook.

Ele trabalhava para a Mekong desde junho de 2020 e cobriu vários assuntos políticos, incluindo o avanço da covid-19, protestos contra o golpe e confrontos entre o governo militar e grupos de resistência armada. 

Outros dois jornalistas condenados em Mianmar 

Pelo menos dois outros jornalistas de Mianmar foram condenados em julho por suas reportagens, como parte da repressão patrocinada pela junta militar. 

No dia 7, um tribunal de Wetlet Township na região noroeste de Sagaing sentenciou o jornalista da Voz Democrática da Birmânia (DVB) Aung San Lin a seis anos de prisão com trabalhos forçados.

Ele pegou quatro anos sob a Lei de Combate ao Terrorismo e dois anos sob o Código Penal, que criminaliza o incitamento e a disseminação de “notícias falsas”.

Aung San Lin foi preso em 11 de dezembro de 2021 por cerca de 20 soldados que invadiram sua casa na região de Sagaing.

Ele tinha acabado de publicar uma reportagem alegando que forças militares cometeram ataques incendiários nas casas de três apoiadores da Liga Nacional para a Democracia, derrubada pelo golpe, em Wetlet Township.

A reportagem do DVB disse que ele estava detido na prisão Shwebo, perto da cidade central de Mandalay.

E em 14 de julho, um tribunal municipal de Insein em Yangon, condenou Nying Nying Aye, uma repórter freelance que contribui regularmente para o site de notícias local Mizzima, a três anos de prisão com trabalhos forçados com base no Código Penal, segundo relatos da mídia local. 

Nying Nying Aye, também conhecido como Mabel, começou a escrever sobre política nacional para o Mizzima logo após o golpe, de acordo com o editor-chefe do veículo, Soe Myint. Ela está detida desde 15 de janeiro.

O Ministério da Informação de Mianmar não respondeu ao pedido enviado pelo CPJ para comentar as condenações e sentenças dos jornalistas.

Mianmar foi o segundo pior carcereiro de jornalistas do mundo, atrás apenas da China, com pelo menos 26 atrás das grades quando a organização realizou seu mais recente censo penitenciário, em 1º de dezembro de 2021.

Repressão a ativistas e políticos 

No dia 25 de julho, a junta que governa Mianmar sob regime de repressão intensa anunciou a execução de quatro homens. Foram as primeiras ocorridas no país em 30 anos. 

Os mortos foram Phyo Zeya Thaw, 41; Kyaw Min Yu, conhecido como “Ko Jimmy”, 53; Hla Myo Aung; e Aung Thura Zaw, todos condenados após julgamentos fechados que ficaram muito aquém dos padrões internacionais, segundo a Human Rights Watch.

 Um tribunal militar condenou Ko Jimmy e Phyo Zeya Thaw à morte em 21 de janeiro sob a ampla Lei de Contraterrorismo de Mianmar de 2014. Hla Myo Aung e Aung Thura Zaw foram condenados em abril de 2021 por supostamente matarem um informante militar.

As execuções despertaram protestos em todo o mundo e foram classificadas como crimes contra a humanidade.