A operação do FBI na casa de Donald Trump na Flórida nesta semana atraiu a atenção da mídia mundial para o que pode ser um dos primeiros passos de um processo judicial contra o ex-presidente dos Estados Unidos.

Mas as buscas na mansão conhecida como Mar-a-Lago não chegaram ao conhecimento da imprensa pela assessoria do governo ou por vazamentos internos. E sim por um ato altruísta de um editor de um site “hiperlocal”, como são chamados os canais de notícias que de dedicam a acompanhar acontecimentos de comunidades. 

Reconhecendo suas próprias limitações jornalísticas, Peter Schorsch abriu mão daquele que está sendo considerado um furo histórico ao publicar no Twitter a informação que descobriu por acaso.

Editor que descobriu FBI na casa de Trump já deu ‘barrigada’

Schorsch é fundador e diretor do site Florida Politics, focado na cobertura de notícias locais sobre a política do estado americano.

A página está no ar desde 2013 e tem uma equipe de 17 jornalistas, responsáveis também pela publicação de uma revista trimestral.

Assim como a maioria dos sites, o Florida Politics depende de receitas publicitárias e de patrocínios para se manter.

Mas tem dado certo e a página virou referência para quem acompanha a política local, definindo-se como uma “nova plataforma de mídia estadual que cobre campanhas, eleições, governo, política e lobby na Flórida.”

Na tarde de segunda-feira (8), Schorsch recebeu por acaso uma informação que ele sabia desde o início que era importante e verdadeira. “Furo gigante”, escreveu uma fonte conhecida do jornalista.

Em entrevista ao Washington Post, o ex-consultor político contou que ligou para a pessoa, já imaginando que poderia ser algo relacionado a Donald Trump pela euforia que a mensagem passava.

Após 20 minutos de formalidades e conversas corriqueiras, a fonte retomou o assunto da mensagem: “Ah, a propósito, você sabia que Mar-a-Lago está sendo invadida agora?”.

Schorsch rapidamente encerrou a ligação e foi confirmar com outras duas fontes.

Ele já havia dado uma “barrigada” ao reportar, em 2013, que o deputado Bill Young havia morrido quando, na verdade, ele estava vivo. Desde então, “sempre tive um pouco de medo de chegar ao topo do trampolim”, ele disse ao Post.

Mas a informação sobre as buscas do FBI na casa de Trump era verdadeira. Em cinco minutos, o editor reuniu as informações necessárias para publicar a notícia em seu próprio site, mas optou por divulgá-la no Twitter.

“Acho que não sou jornalista. Tenho sido muito inflexível sobre isso”, disse Schorsch ao Post. “Você pode possuir uma espada, mas isso não faz de você um samurai.”

Como já era noite na Flórida, Schorsch explicou que não quis sobrecarregar a sua equipe.

“Cada um já havia trabalhado em quatro matérias naquele dia”, contou ao jornal, acrescentando que, em termos de audiência, o Florida Politics também tinha ido bem no dia.

Por isso, ele decidiu compartilhar sua descoberta com outros três repórteres que conhecia e confiava para ver se eles poderiam descobrir mais informações sobre o mandado de busca. 

Enquanto isso, ele publicou na rede social para que a notícia chegasse ao maior número de pessoas o mais rápido possível:

“Furo – O FBI executou hoje um mandado de busca em Mar-a-Lago, confirmaram duas fontes ao Florida Politics. ‘Eles acabaram de sair’, disse uma.

Não tenho certeza sobre o que era o mandado de busca. Para ser honesto, não sou um repórter forte o suficiente para ir atrás disso, mas é real.”

Colegas atribuíram o crédito ao editor da Flórida

A maneira como Peter Schorsch informou sobre a operação na casa de Trump chamou a atenção não só pela notícia em si, mas também pela forma sutil como ele fez isso: sem usar emojis de sirene nem caps lock com “BREAKING”, algo amplamente usado pelos grandes veículos ao compartilhar publicações nas redes sociais.

“Não gosto de escrever em maiúsculas”, resumiu ao Post. 

O tweet foi postado às 18h36 e, um minuto depois, foi republicado para mais de 1 milhão de pessoas por Rick Wilson, um ex-consultor político republicano de Tallahassee e ativista anti-Trump. 

A publicação viralizou rapidamente e provocou um frenesi na imprensa americana para descobrir mais sobre o mandado de busca. Por se tratar de um ex-presidente, o processo é sigiloso. Mas acredita-se que tenha relação com documentos confidenciais retirados por Trump da Casa Branca ao fim do mandato.

Apenas 15 minutos após o tweet de Schorsch, o próprio Donald Trump confirmou a operação em sua rede social ao criticar o “ataque” do FBI à sua residência.

Repórteres famosos como Maggie Haberman, do New York Times, e Kaitlan Collins, da CNN, atribuíram a exclusividade da informação ao editor do Florida Politics.

“Crédito a Peter Schorsch, que teve esse enorme furo hoje à noite”, publicou o correspondente de segurança nacional da CNN, Zachary Cohen. “As notícias locais importam.”

“Esta era uma situação muito importante para não pedir ajuda [de outros repórteres]”, disse Schorsch ao BuzzFeed News.

“Há realizações pessoais menores com as quais você se sente bem. Este foi 100% o maior furo que eu provavelmente vou conseguir”, acrescentou.

Ao Post, ele disse que compartilhar a informação com os colegas não foi “uma falsa humildade”, pois divulgar a notícia era “mais importante do que obter cliques”.

“A história é muito maior do que a pessoa que a está contando”.