Londres – A defesa de Julian Assange fez nesta sexta-feira (26) a última tentativa possível dentro do sistema judicial britânico para evitar sua extradição para os EUA, entrando com uma apelação no Tribunal Administrativo do Supremo Tribunal de Justiça. 

O Reino Unido, onde ele está preso, autorizou em junho a extradição para os EUA, onde o fundador do Wikileaks responde a 18 processos que podem valer 175 de cadeia. 

A defesa concentra agora os argumentos em motivação política, depois que a tese de risco para a saúde não foi aceita pelos tribunais britânicos. 

Novo recurso depois de visita da defesa de Assange a Genebra 

Assange é acusado de espionagem e uso indevido de computadores devido à publicação de milhares de documentos secretos e imagens mostrando a atuação das forças americanas nas guerras do Iraque e do Afeganistão.

Os promotores dos EUA argumentaram que Assange ajudou ilegalmente a analista de inteligência do Exército dos EUA, Chelsea Manning, a roubar telegramas diplomáticos confidenciais e arquivos militares que o WikiLeaks publicou mais tarde, colocando vidas em risco.

Na quinta-feira, uma equipe de advogados e a mulher de Assange, Stella, foram a Genebra para uma visita a Michelle Bachelet, que estava deixando o cargo de Alta Comissária para os Direitos Humanos Nações Unidas. 

Diante do apoio de uma alta representante da ONU, a equipe jurídica de Assange ressaltou que era o momento perfeito para apelar no tribunal superior do Reino Unido.

A apelação feita ontem pela defesa é última oportunidade dentro do sistema jurídico britânico.

Os advogados apresentaram  fundamentos de apelação aperfeiçoados perante o Tribunal Administrativo do Supremo Tribunal de Justiça em face do governo dos Estados Unidos e da Secretária de Estado do Departamento do Interior, Priti Patel.

Como as tentativas de evitar a extradição com base no risco de que ele cometa suicídio devido ao estado emocional foram rejeitadas, a argumentação se concentra no caráter político da tentativa de acusação americana e nos supostos abusos ocorridos durante a perseguição norte-americana a Assange.

Recurso por Assange é baseado em motivações políticas 

Um comunicado de imprensa do WikiLeaks explicou que os motivos apresentados na apelação incluem o fato de que ele está sendo processado e punido por suas opiniões políticas, e que sua expressão é protegida por lei. 

Outro argumento é de que o pedido americano viola o Tratado de Extradição EUA-Reino Unido e a lei internacional porque se trata de um suposto crime político, e crimes políticos não podem ser usados como justificativa para extradição. 

A defesa alega ainda que o governo dos EUA deturpou os fatos centrais do caso em suas manifestações junto aos tribunais britânicos, e que o pedido de extradição e as circunstâncias que o cercam constituem abuso processual 

O WikiLeaks indicou ainda que o apelo de Assange também aponta que a Priti Patel errou em sua decisão de aprovar a ordem de extradição porque o pedido viola o Artigo 4 do Tratado de Extradição EUA-Reino Unido.

Stella Moris, mulher de Assange, declarou:

“Desde a última decisão, surgiram evidências esmagadoras provando que a acusação dos Estados Unidos contra meu marido é um abuso criminal.

Os juízes da Suprema Corte agora decidirão se Julian terá a oportunidade de levar o caso contra os Estados Unidos a um tribunal aberto e, na íntegra, na apelação”.

Se a manobra jurídica for bem-sucedida, ela resultará na impugnação da decisão da juíza Vanessa Baraitser, proferida em janeiro de 2021. Baraitser negou o pedido de extradição por motivos de saúde de Asange, que foram derrubados por tribunais superiores a favor dos EUA depois de apresentação de garantias como a de que ele não ficaria preso em isolamento em uma prisão de segurança máxima. 

Sua decisão, no entanto, foi favorável aos EUA no mérito do pedido de extradição, o que acabou por estabelecer um precedente para os governos processarem a divulgação de informações que desejam permanecer ocultas.

Organizações de jornalismo e grupos de direitos humanos pedem à Grã-Bretanha que recuse o pedido de extradição, e aos EUA que retirem as acusações contra o fundador do WikiLeaks. 

O caso é visto como uma ameaça para o futuro da liberdade de imprensa, pois se Assange for julgado e condenado, veículos de mídia e jornalistas poderiam ser igualmente processados criminalmente por divulgar informações confidenciais, mesmo que de interesse da sociedade. 

E fontes que revelem à imprensa segredos sobre crimes e corrupção também correriam riscos, inibindo denúncias.