Londres – Donald Trump não se dá por vencido: mesmo depois de a empresa responsável por sua rede social formalizar junto à autoridade de valores mobiliários dos EUA preocupações com o futuro da rede social do ex-presidente, ele usou nesta segunda-feira (29) a própria Truth Social para culpar a mídia por “criticar e desmerecer” o projeto. 

Depois de um início desastrado, com a entrada em operação adiada por três meses, além de uma onda de insatisfação gerada por problemas técnicos que impediam a instalação do aplicativo, a Truth Social teve um aumento de interesse na semana da ação do FBI na residência de Trump na Flórida.

Mas ao mesmo tempo, o empreendimento enfrenta problemas como audiência em queda desde o lançamento, uma derrota na tentativa de registrar a marca Truth Social e uma dívida de US$ 1,6 milhão com o provedor de hospedagem. 

Trump contra-ataca na rede Truth Social 

Para completar, veio à tona um relatório pessimista formulado pela empresa contratada para a abertura de capital do projeto de Trump protocolado na semana passada na Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos.

No documento, revelado pelo jornal Washington Post, a empresa de consultoria contratada, a Digital World Acquisition (DWAC), admitiu à autoridade reguladora que se o ex-presidente se tornar “menos popular” ou tiver “mais controvérsias que prejudiquem sua credibilidade”, a Truth Social “poderá sofrer”. 

Como a abertura de capital da Trump Media & Technology Group (que além da rede social pretente atuar em outros negócios de mídia) é o principal projeto da DWAC, ela também acabou afetada pelo imbroglio: suas ações vêm caindo 75% desde março, incluindo um tombo de 9% só na segunda-feira desta semana.

Para Donald Trump, nada disso importa.

Depois das notícias ruins que circularam no fim de semana, na madrugada de segunda-feira ele fez uma postagem na Truth Social direcionada aos seus seguidores, afirmando que ela é “a nossa voz” e pedindo a seus apoiadores que se inscrevam na rede. 

O ex-presidente, que durante seu mandato se notabilizou por ataques diários à imprensa, utilizou a narrativa de culpar a “mídia fake news”, que estaria “devastada” pelo sucesso da Truth Social. 

Donald Trump rasgou em 'fake news' sobre uma série de dificuldades enfrentadas por sua plataforma Truth Social depois que surgiram relatos de que ele devia US $ 1,6 milhão ao serviço de hospedagem e seu pedido de marca registrada foi negado

Ele salientou o aumento de 550% nos downloads na semana após a operação do FBI em sua residência de Mar-a-Lago no início de agosto.

O aplicativo subiu 66 posições na Apple App Store, de 76º para 15º em 9 de agosto, um dia depois que os agentes revistaram sua casa. Eles estavam procurando caixas de documentos confidenciais levados para lá depois que seu mandato chegou ao fim.

No entanto, os números de audiência não são favoráveis. Segundo a empresa de monitoramento Similarweb, a audiência caiu 80% em seis meses, de 1,5 milhão de visualizações por dia em fevereiro para 300 mil por dia em julho. 

Depois de banido das grandes redes, plateia de Trump encolheu 

Antes de ser banido das grandes plataformas de mídia social após a invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, o ex-presidente era um fenômeno nas redes sociais. Apenas no Twitter, a rede mais influente entre políticos, ativistas e jornalistas, tinha 89 milhões de seguidores. 

A primeira tentativa de voltar a dialogar com seguidores foi uma espécie de blog dentro de seu site, com posts muito parecidos com tweets e que em tese seriam compartilhados nas redes sociais por seus seguidores. Mas a ideia fracassou menos de um mês depois, sem os esperados compartilhamentos. 

Em outubro, Trump anunciou a Truth Social, um empreendimento grandioso que captaria recursos de investidores para desafiar o que o ex-presidente chamou de “tirania das Big Techs”. 

Logo após o anúncio, um hacker expôs a fragilidade tecnológica do projeto: invadiu a versão beta, criou contas falsas (uma do próprio Trump) e postou a imagem de um porco defecando na conta do ex-presidente. 

A entrada em operação, prevista para novembro, foi adiada. Em dezembro Trump tentou sinalizar o sucesso do projeto ao mercado, destacando a suposta captação de US$ 1,25 bilhão como um sinal de força diante das grandes plataformas. 

O aplicativo foi finalmente lançado em fevereiro, somente na Apple Store. Mais de 2 milhões de downloads foram feitos, mas ainda assim um número muito distante dos quase 90 milhões de seguidores que o político tinha no Twitter. 

Os problemas técnicos de outubro não foram embora, resultando em uma fila de mais de 1,5 milhão de usuários sem conseguir entrar na Truth Social. 

Mais de um mês depois, nem o próprio dono da rede havia postado nela ainda.

Ainda é cedo para avaliar o impacto residual da ação de busca e apreensão do FBI em Mar-a-Lago, mas o impacto das postagens de Trump está distante do patamar a que ele estava acostumado no Twitter. 

Muitos usuários postaram mensagens furiosas sobre o FBI, incluindo o próprio Trump, que considerou a operação “injustificada”. Mas o número de compartilhamentos foi de menos de 18 mil um dia após a publicação. 

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Segundo o Washington Post, Trump tem menos de 4 milhões de seguidores na Truth Social. E os trending topics mais ativos da rede, incluindo #DefundTheFBI, mostraram apenas alguns milhares de pessoas postando neles nos últimos dias.

Já o Twitter diz que tem cerca de 37 milhões de pessoas nos EUA usando ativamente a plataforma diariamente. 

Dívidas e litígio sobre nome da Truth Social 

A queda de audiência não é a única dor de cabeça para Trump. Uma reportagem da Fox Business na semana passada revelou que a Truth Social trava uma batalha com seu provedor de hospedagem, a empresa RightForge, que estaria sem receber pagamentos desde março. 

A conta espetada, segundo a Fox, é de US$ 1,6 milhão. E o fornecedor estaria ameaçando entrar com um processo para receber a dívida.

 A RightForge preferiu não comentar a discórdia sobre o pagamento e emitiu um comunicado assinado pelo presidente-executivo, Martin Avila, demonstrando confiança no projeto da Truth Social: 

‘A RightForge acredita na missão da plataforma de liberdade de expressão do presidente Trump e deseja continuar apoiando o presidente em seus esforços de mídia.’

O nome da rede social é outro problema.

Também segundo a Fox Business, o pedido de registro da marca Truth Social foi recusado pelo Escritório de Patentes e Marcas Registradas dos Estados Unidos (USPTO) sob a Seção 2d da Lei de Marcas, por “risco de confusão” com outras empresas que já possuem marca registrada.

A decisão do USPTO diz que o nome Truth Social é “confusamente semelhante às marcas registradas The Truth Network e Vero – True Social.”

“Em primeiro lugar, todas as marcas [são] uma variação da palavra ‘truth’ ou ‘true’, o que significa que todas as marcas parecem e soam semelhantes ao consumidor médio”, disse o órgão. 

 A Truth Social ainda pode recorrer da decisão.