Londres – O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, protestou contra a Rússia por proibir que jornalistas independentes acompanhassem a inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) à central nuclear de Zaporíjia, que começou nesta quinta-feira (1). 

A usina está ocupada por forças russas desde o início da guerra, e a missão tem como objetivo avaliar os riscos de um desastre nuclear devido aos intensos bombardeios no local. 

Em um post em seu canal no Telegram e em entrevistas a repórteres, Zelensky abriu nova batalha com Vladimir Putin ao afirmar que “os ocupantes não deixaram os jornalistas entrarem, mas organizaram uma massa de seus propagandistas”. Imagens da visita foram publicadas pela mídia estatal russa. 

Acesso à inspeção na Ucrânia teria sido dificultado AIEA

O presidente da Ucrânia criticou também a postura da AIEA, que a seu ver não se empenhou para que a inspeção fosse acompanhada também por jornalistas ocidentais e ucranianos: 

“Infelizmente, os representantes da AIEA não protegeram os representantes da mídia independente.”

Zelensky saudou a chegada da missão, “apesar de todas as provocações dos militares russos e do cínico bombardeio de Energodar e do território da central”, dizendo que seu país fez de tudo para que a visita acontecesse.

Mas lamentou que “os ocupantes estejam tentando transformar a missão da AIEA – realmente necessária – em um passeio infrutífero pela central”.

Ele afirmou que a proibição de acesso aos jornalistas contraria o acordo feito com Rafael Grossi, diretor-geral da agência, durante um encontro preparatório em Kiev. 

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Zelensky e Grossi, no encontro em Kiev (reprodução Twitter Rafael Grossi)

“Acordamos que a missão seria acompanhada por jornalistas da mídia ucraniana e internacional. Jornalistas independentes. Para o mundo ver a verdade. Eu vi o que realmente estava acontecendo. Infelizmente, embora prometido, isso não foi feito.”

Embora Volodymyr Zelensky tenha reclamado da Rússia por dificultar o trabalho da imprensa independente, um projeto de lei de mídia apresentado pelo país para se adequar às exigências da União Europeia foi recebido em agosto com reservas, por supostamente permitir censura a jornalistas e a veículos. 

 

Maior central nuclear da Europa, a usina de Zaporíjia está sob o controle dos militares russos desde os primeiros dias da guerra. 

Após a primeira inspeção, Rafael Grossi, anunciou em um video no Twitter a decisão de estabelecer uma presença contínua na central na Ucrânia. Ele disse que a integridade física da usina foi violada. 

Os bombardeios na região da usina são frequentes, e em linha com a guerra de informação e desinformação que marca a guerra da Ucrânia, os dois países se acusam mutuamente pelos ataques. 

Segundo o site de notícias independente Meduza, funcionários ucranianos de Zaporíjia relataram a repórteres detenções e torturas por parte das forças de segurança russa. 

Na madrugada de sexta-feira, após a inspeção, houve mais um ataque próximo à central nuclear da Ucrânia.

O episódio foi noticiado pela agência estatal de notícias Tass, citando um informe do comando militar russo na região:

“Na noite de 1 para 2 de setembro, os sistemas de defesa aérea das Forças Armadas russas derrubaram mísseis da classe HIMARS, com os quais as Forças Armadas da Ucrânia atacaram a infraestrutura civil. Os mísseis caíram em um campo fora de Melitopol, resultando em incêndio.

Segundo a Tass, o fogo foi eliminado, não houve vítimas e as instalações de infraestrutura civil não foram danificadas.

O risco de uma catástrofe nuclear associada aos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia foram previstos antes da guerra pelos painel de cientistas que todos os anos estabelece a hora do “Relógio do Apocalipse”, um símbolo para indicar ameaças ao futuro da humanidade e do planeta.