Londres – Presa em abril e enviada para um hospital psiquiátrico na Sibéria, a jornalista russa Maria Ponomarenko, mais uma vítima da censura do regime Putin sobre vozes dissidentes, revelou em uma audiência judicial que tentou tirar a própria vida depois de ser colocada numa cela de isolamento com as janelas lacradas. 

A informação foi anunciada na sexta-feira pelo portal de notícias RusNews, para o qual a jornalista trabalhava.

Na audiência, ela teve negado o recurso pedindo prisão domiciliar e ficará sob custódia policial até pelo menos o dia 29 de setembro. 

Censura sob Putin

Ponomakenko é acusada pelo governo Putin de publicar informações falsas” em seu canal no Telegram, “No Censorship”, afirmando que os militares russos atacaram um teatro de teatro em Mariupol, na Ucrânia.

O ataque foi amplamente documentado pela mídia internacional independente, mas o Ministério da Defesa da Federação Russa negou a autoria. 

De acordo com o RusNews, Ponomarenko admitiu que escreveu o post, mas não concorda com a qualificação do “crime”. 

A jornalista foi presa em São Petersburgo e enviada para a a cidade siberiana de Barnaul, onde nasceu e trabalhou para o RusNews, em um tipo de punição que lembra a repressão e censura na antiga União Soviética. 

Ponomarenko disse em julho que foi levada à força para a clínica, onde foi obrigada a passar por uma “avaliação psiquiátrica” e injetada à força com substâncias desconhecidas quando exigia seus pertences pessoais ou itens de higiene.

Segundo a ONG de direitos humanos OVD -Info, o protocolo de avaliação psiquiátrica de suspeitos de crimes não inclui nenhuma injeção.

Na audiência, realizada no dia 16 de setembro, a prisão da jornalista alvo de censura do regime Putin foi prorrogada até pelo menos o fim de setembro.

O advogado Dmitry Shitov havia requisitado a transferência para prisão domiciliar, já que a investigação do caso criminal sobre a disseminação de “falsas” sobre o exército russo “mudou para outro estágio”, bem como por causa do estado psicológico do cliente.

No início de setembro, a jornalista russa havia sido colocada em uma cela solitária como punição por tentar quebrar uma janela coberta por papel, segundo relatou a OVD-Info. 

Participando por vídeo, ela disse que sofre de depressão, claustrofobia e transtorno de personalidade, e que não está recebendo tratamento adequado. Por isso, pediu para ser transferida para prisão domiciliar a fim de ser tratada e ficar com as filhas. 

“Considero tortura ser colocada em uma cela com janelas cobertas de papel.

Eu não represento nenhum perigo para a sociedade. A única pessoa a quem eu poderia infligir danos por causa da depressão sou eu mesma”.

A jornalista pode ser condenada a até 10 anos de prisão pela postagem no Telegram, sob a lei russa aprovada no início de março que criminaliza a disseminação de informações “falsas” que supostamente “desacreditam as forças armadas”.

Na primeira semana de setembro, o jornalista especializado em assuntos de guerra Ivan Safronov foi condenado a 22 dois anos de reclusão em uma colônia penal por “alta traição”.