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Confiança nas notícias é menor na cobertura política no Brasil, EUA, Índia e Reino Unido

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Foto: Ozan Safak

Londres – Uma pesquisa realizada em quatro países, entre eles o Brasil, mostra que em todos eles a confiança nas notícias é consideravelmente menor quando se trata de cobertura de assuntos políticos.

O estudo, realizado pelo Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo, entrevistou pessoas nos Estados Unidos, Reino Unido e Índia, além do Brasil e mostrou que as notícias políticas são vistas como particularmente suspeitas, despertando mais desconfiança do público. 

O índice médio de confiança nas notícias nos quatro países foi de 56%, mas quando a cobertura é política, esse percentual cai para 45%. A maior queda acontece no Brasil, com o índice de confiança nas notícias em geral caindo de 46% para 27% quando se trata de confiança nas notícias políticas.

No Brasil, confiança nas notícias políticas é 40% menor do que nas notícias em geral

Dos quatro países analisados, os brasileiros são os que apresentam os menores índices de confiança tanto nas notícias em geral como nas notícias políticas.

Os brasileiros são os que apresentam também a maior queda entre os índices de confiança das notícias gerais e políticas. A confiança nas notícias políticas é mais de 40% menor do que nas notícias em geral.

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Entre os quatro países analisados, o que apresentou os maiores índices de confiança tanto nas notícias em geral como nas notícias políticas foi a Índia.

A queda da confiança nas notícias políticas em relação às notícias em geral foi semelhante tanto na Índia como no Reino Unido e nos Estados Unidos, girando em torno de 15% – quase três vezes menor do que a queda no Brasil.

Confiança nas notícias dos mais jovens é maior do que a dos mais velhos

A pesquisa estratifica a confiança por idade, e verificou que os mais jovens, com menos de 35 anos, tendem a confiar mais nas notícias em geral do que os mais velhos, com mais de 35 anos.

Os brasileiros são os que menos confiam nas notícias tanto na comparação entre os mais jovens como entre os mais velhos. Os indianos são os que confiam mais, nas duas camadas etárias.

O Brasil é o único entre os quatro países analisados em que os índices de confiança nas duas faixas de idade são menores do que 50%.

O Brasil é o país com a maior queda, de sete pontos, nos índices de confiança nas notícias dos mais jovens e dos mais velhos. O país em que esses índices mais se aproximam é o Reino Unido.

Confiança das notícias dos diplomados é maior do que a dos sem diploma

Quando a estratificação é feita pelo nível de escolaridade, a confiança nas notícias de quem tem um diploma de curso superior é maior do que a dos sem diploma nos quatro países analisados.

O Brasil é o que apresenta o menor índice de confiança nas notícias entre os portadores de diploma de curso superior. Já os norte-americanos são os que menos confiam nas notícias entre os sem diploma.

Os indianos são os que apresentam os maiores índices de confiança nas notícias em geral nos dois grupos pesquisados.

Os norte-americanos são os que apresentam a maior diferença entre os índices de confiança dos dois grupos. O percentual dos diplomados que confiam nas notícias é 50% maior do que os sem diploma.

Mais da metade dos entrevistados acredita que os jornalistas tentam manipular o público para servir a políticos

No mínimo 50% dos entrevistados em cada país acredita que os jornalistas tentam manipular o público para servir às agendas de políticos poderosos. Essa percepção é mais acentuada na Índia, onde quase seis em cada dez dos entrevistados disseram acreditar nisso.

O estudo afirma que essas percepções negativas são frequentemente concentradas entre aqueles que apresentam menor confiança nas notícias, principalmente no Reino Unidos e nos Estados Unidos.

Esse padrão foi diverso no Brasil e na Índia, onde as pessoas com maior confiança nas notícias não só tinham maior probabilidade de ter percepções positivas dos jornalistas, mas também negativas. Para os pesquisadores, esse fato pode refletir a desconexão entre a confiança na informação e o que as pessoas pensam sobre as práticas jornalísticas.

Brasileiros com as menores percepções negativas dos jornalistas

Além de uma suposta atuação a serviço dos políticos poderosos, a pesquisa avaliou outras percepções negativas em relação aos jornalistas. E os brasileiros se apresentaram como os menos críticos dos jornalistas em relação aos demais países pesquisados.

Os mais críticos quanto à atuação dos jornalistas foram os indianos, apesar de terem sido justamente os que apresentaram os maiores índices de confiança nas notícias.

A maior crítica em relação aos jornalistas foi a de que estariam mais preocupados em chamar atenção do que com os fatos. Essa opinião foi compartilhada por mais da metade das pessoas dos países pesquisados, à exceção do Brasil, onde também obteve o maior índice (47%) entre as percepções negativas avaliadas.

Quanto às outras duas percepções negativas, o Brasil seguiu um padrão diferente dos demais países. Mais brasileiros acham que os jornalistas são descuidados e desleixados com o que escrevem ou reportam do que os que estão convencidos de que os jornalistas só estão na profissão pelo dinheiro.

Nos outros três países analisados, os que acham que os profissionais de imprensa estão na profissão pelo dinheiro superam os que os veem com uma atuação desleixada ou descuidada.

O maior índice dos que acham que os jornalistas estão mais interessados no dinheiro foi percebido entre os indianos, ecoando, segundo o estudo, as preocupações contínuas no país sobre notícias pagas.

Maiores percepções positivas dos jornalistas na Índia e no Brasil

Brasileiros e indianos apresentaram visões contrastantes dos jornalistas, tanto positivas quanto negativas. Nos dois países foram verificados os maiores índices de percepção positiva dos profissionais de imprensa, entre os quatro analisados.

As percepções positivas foram mais baixas no Reino Unido e nos EUA, onde menos de 40% dos entrevistados disseram acreditar que os jornalistas verificam independentemente as informações que relatam ou que se esforçam para evitar que suas opiniões distorçam as notícias.

Os números do estudo refletiram o fato de que os indivíduos que confiam nas notícias são mais propensos a ter percepções positivas dos jornalistas.

Por exemplo, na Índia, 59% dos que confiam nas notícias e apenas 36% dos que não confiam nas notícias compartilham a percepção positiva de que os jornalistas tentam evitar que suas opiniões distorçam as notícias.

Nos Estados Unidos, o contraste é ainda mais chocante. Uma parcela de 54% dos que confiam nas notícias acredita que as notícias não são distorcidas pelas opiniões dos jornalistas. Já entre os que não confiam nas notícias o percentual que compartilha essa percepção cai pela terça parte, para apenas 18%.

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