Londres – Um tribunal de Connecticut, nos EUA, condenou nesta quarta-feira (12) o teórico da conspiração Alex Jones, apresentador de rádio, a pagar uma indenização de US$ 965 milhões (R$ 5,1 bilhões) a um agente do FBI e a oito famílias de crianças vítimas do massacre na escola de Sandy Hook, o maior da história do país.
Jones é um conhecido conspiracionista que floresceu durante o governo de Donald Trump, atraindo seguidores da extrema-direita e construindo um império comercial que inclui mídias online e venda de produtos.
Depois do tiroteio, ocorrido em 2012, que deixou 26 mortos, ele afirmou repetidas vezes em seu programa de rádio Infowars que o tiroteio escolar mais mortal da história dos EUA havia sido obra de ativistas que defendem o controle de armas, utilizando atores parar criar as cenas.
Alex Jones, teórico da conspiração, foi alvo de vários processos
A escola de Sandy Hook onde aconteceu a tragédia, em dezembro de 2012, ficava no estado de Connecticut, e foi demolida. O atirador, Adam Lanza, matou vinte crianças e seis adultos a tiros, e depois tirou a própria vida. Antes, havia assassinado a mãe.
Processos foram movidos em 2018 por dois grupos de famílias inconformadas com as mentiras de Alex Jones e pelo agente do FBI, e acabaram sendo transformados em uma só ação judicial, encerrada hoje.
O julgamento levou quatro semanas e a decisão foi tomada por um júri formado por seis pessoas. As famílias receberam indenizações diferentes, totalizando os US$ 965 milhões.
Segundo a queixa, as mentiras provocaram assédio implacável contra os autores da causa e agravaram a agonia emocional de perder seus entes queridos.
As famílias das vítimas contaram ao júri que as afrimações falsas de de Jones não apenas aprofundaram sua dor, mas também levaram seus seguidores a persegui-los pessoalmente e online.
Alguns relataram terem se mudado de casa cinco ou seis vezes para escapar do assédio, mas que os seguidores do teórico da conspiração continuavam os encontrando “para renovar seu tormento”.
Os advogados haviam pedido uma indenização de pelo menos meio bilhão de dólares “pela mutilação permanente à vida de seus clientes”.
O número representaria as mais de 550 milhões de impressões sobre o massacre de Sandy Hook que Alex Jones supostamente recebeu em suas publicações online no YouTube, Twitter e Facebook.
O assédio por parte de seguidores de Alex Jones continou até mesmo durante o julgamento. O canal Law & Crime, que divulgou a audiência final e o momento do veredito ao vivo, teve que desativar os comentários por causa de ataques.
Alguns familiares ficaram emocionados ao ouvir a sentença.
O teórico da conspiração é dono da empresa Free Speech Systems, controladora da organização de mídia Infowars. Após depor na Corte, ele falou a repórteres diante do tribunal afirmando que a condenação era inútil, pois sua empresa está quebrada e decretou falência.
Em agosto, ele havia sido condenado por um tribunal do Texas a pagar US$ 45,2 milhões (R$ 230 milhões) à família de uma vítima do tiroteio em Sandy Hook.
Jones foi ao tribunal de Connecticut apenas uma vez para testemunhar, e arrumou confusão, chamando o julgamento de “tirania”, tendo sido repreendido e ameaçado de penalidade por desrespeitar a Corte.
Ele chegou a declarar que já tinha se desculpado várias vezes por suas afirmações falsas sobre a suposta farsa de Sandy Hook, acrescentando que havia admitido “anos atrás” que o massacre realmente aconteceu.
Mas os jurados viram gravações de programas em que ele voltou atrás, dizendo ter passado a ver tanto Sandy Hook quanto o julgamento por difamação como “fabricados”.
Depois da aparição turbulenta, ele optou por “boicotar” o julgamento. O advogado informou que as restrições do juiz sobre o que ele poderia dizer aos jurados o colocaram em uma “posição insustentável” que violava seus direitos de liberdade de expressão.
O que é o Infowars
O negócio comandado pelo teórico da conspiração Alan Jones não é pequeno. O site foi fundado em 1999 e é reconhecido por veicular fake news, desinformação e teorias conspiratórias.
Sua base fica em Austin, no Texas, onde o processo contra ele foi movido pela família de Jesse Lewis, que ganhou a indenização em agosto. A operação é obscura, sem uma sede conhecida, mas ele teria recebido mais de 10 milhões de visitas mensais em 2017.
Jones enfrenta também acusações de assédio moral e sexual, e já foi obrigado a retirar conteúdo do ar diversas vezes por determinação judicial. O canal está banido da maioria das redes sociais.
Em suas transmissões e no site, o teórico da conspiração vende produtos diversos, uma prática comum entre teóricos da conspiração.
Durante o julgamento em Connecticut, um funcionário de Jones calculou seus ganhos totais com a venda de suplementos alimentares, livros e equipamentos de sobrevivência em US$ 100 milhões a US$ 1 bilhão desde o tiroteio, com US$ 810.000 em vendas em um único dia em 2020.
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