Londres – Jimmy Lai, o famoso magnata da mídia pró-democracia de Hong Kong, recebeu uma nova condenação nesta terça-feira (25) que pode estender ainda mais o seu período de detenção.
Preso desde 2020, Lai é o fundador do extinto jornal Apple Daily, publicação pró-democracia famosa por suas críticas ao governo chinês editada pelo grupo Next, que foi forçado a fechar em junho do ano passado.
O jornalista já cumpre pena por diversas condenações relacionadas aos protestos pró-democracia que tomaram conta de Hong Kong em 2019. Agora, um tribunal o considerou culpado de fraude por operar uma empresa de consultoria na sede do jornal.
Jimmy Lai tem condenações forjadas, diz CPJ
A nova condenação de Jimmy Lai acontece dias após a renomeação de Xi Jinping para um terceiro mandato, confirmando as previsões de endurecimento contra dissidentes pelo líder chinês.
Jinping abriu o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês com um forte discurso sobre suas pretensões de ter o controle total de Taiwan assim como tem de Hong Kong. Lai tinha jornais nos dois locais.
A imprensa da ilha autônoma que já foi colônia britânica é duramente reprimida pelas autoridades chinesas. A Lei de Segurança Nacional imposta no território por Pequim assolou ainda mais esse cenário: desde então, ao menos 12 veículos jornalísticos independentes, incluindo os notórios Apple Daily de Lai e o Stand News, foram obrigados a fechar.
Além disso, dezenas de profissionais de imprensa e ativistas foram perseguidos, ameaçados e presos. Jimmy Lai é um deles e se tornou um símbolo da repressão vivida pela imprensa de Hong Kong.
Aos 74 anos, ele é o maior empresário de mídia da ilha, com um patrimônio estimado em US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,2 bilhões). Desde sua prisão, ele é continuamente processado pela Justiça com o objetivo de prolongar ainda mais sua pena.
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Nesta terça-feira (25), Jimmy Lai foi condenado por fraude ao supostamente violar os termos do arrendamento da sede do jornal. O empresário teria ocultado das autoridades que a empresa Dico Consultants Limited (Dico) operou nos escritórios do Apple Daily de 1º de abril de 1998 a 19 de maio de 2020 .
Wong Wai-keung, diretor administrativo da Next Digital, empresa controladora do jornal, também foi considerado culpado pelo mesmo crime. As sentenças de cada um ainda serão julgadas, mas a defesa de Lai disse que vai recorrer.
Segundo informações do Hong Kong Free Press (HKFP), o contrato de arrendamento declarava que os escritórios do Apple Daily seriam usados apenas para “publicação e impressão de jornais e revistas”.
No entanto, a consultoria Dico ocupou parte das instalações, prestando serviços a outras empresas e gerindo os bens de Lai e da sua família sem o conhecimento ou aprovação das autoridades de Hong Kong.
Os advogados de Jimmy Lei alegaram no tribunal que o caso deveria ser tratado como uma questão civil em vez de criminal. No entanto, o juiz Stanley Chan desconsiderou essa possibilidade.
Em sua decisão, o magistrado afirmou que a “única inferência possível e razoável” era que Lai estava ciente da necessidade de solicitar uma licença que permitiria a Dico operar na sede do Apple Daily, mas não o fez depois de saber que a consultoria não atenderia aos requisitos de licenciamento.
O novo julgamento para a determinação da sentença acontece em novembro, segundo o HKFP.
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O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) condenou a decisão da justiça de Hong Kong, e disse que Lai é vítima de perseguição das autoridades da ilha e da China.
“A condenação de hoje de Jimmy Lai por acusações de fraude forjadas mostra que Hong Kong não vai parar de silenciar um de seus críticos mais ferozes”, disse a presidente do CPJ, Jodie Ginsberg.
“Lai está claramente sendo alvo de seu jornalismo, e a perseguição deve parar. As autoridades de Hong Kong devem deixar Lai em liberdade e retirar todas as acusações contra ele”.
Jimmy Lai já cumpriu uma pena de prisão de 20 meses por duas outras acusações relacionadas ao seu suposto envolvimento com manifestações não autorizadas contra Pequim, em 2019.
O jornalista ainda aguarda julgamento por acusações relacionadas à segurança nacional, pelas quais pode pegar prisão perpétua.
A China foi o maior carcereiro de jornalistas do mundo em 2021, de acordo com o censo penitenciário do CPJ publicado em dezembro. No último levantamento, foi a primeira vez que jornalistas de Hong Kong foram contabilizados pelo comitê.
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