A morte de um dos mais respeitados jornalistas paquistaneses, Arshad Sharif, ex-âncora da emissora ARY News, gerou uma onda de protestos liderados por sindicatos do país.

Sharif, de 49 anos, foi morto pela polícia do Quênia na noite de domingo (23) após ultrapassar uma barreira policial perto da capital, Nairóbi.

O apresentador era um dos rostos mais conhecidos do Paquistão, mas precisou deixar o país em agosto após ser acusado de sedição contra as autoridades depois que a emissora onde trabalhava exibiu uma entrevista com um político da oposição.

Jornalista paquistanês era perseguido pelo governo

Arshad Sharif foi âncora da ARY News por oito anos. A emissora estava bastante alinhada com o ex-primeiro-ministro Imran Khan, que saiu do governo com a chegada do novo premiê, Shehbaz Sharif, em abril.

Uma polêmica entrevista com um assessor de Khan, Shahbaz Gill, exibida pela emissora no início de agosto, colocou um alvo nas costas de alguns funcionários da empresa, incluindo Arshad Sharif.

Durante a entrevista, Gill fez comentários críticos aos militares, considerados “sediciosos” e uma “ameaça à segurança nacional” pelo novo governo paquistanês.

Além do próprio assessor do ex-premiê, o proprietário da ARY, Salman Iqbal, o vice-presidente da empresa, Ammad Yousaf, e ao menos três outros funcionários foram acusados ​​de “sedição”, “cumplicidade em motim” e “conspiração”, segundo a agência de notícias AFP.

Após essa entrevista, o jornalista Arshad Sharif foi afastado da emissora e deixou o Paquistão no mesmo mês. Seu paradeiro não era conhecido publicamente, e a maioria de seus familiares e amigos sabiam apenas que ele havia passado algum tempo em Dubai e depois em Londres, de acordo com informações da Al Jazeera.

Por isso, a morte de Sharif no Quênia foi uma surpresa para a sua família e colegas de profissão paquistaneses. Segundo a polícia queniana, o jornalista foi baleado em uma estrada a caminho de Nairóbi por não parar em um bloqueio policial montado para identificar um carro roubado que teria crianças sequestradas.

Os policiais dispararam nove vezes contra o veículo de Sharif, que foi atingido por uma bala na cabeça. Ele estava acompanhado de outro paquistanês, Khurram Ahmed, que ficou ferido, mas não corre risco de morte.

As autoridades quenianas lamentaram a morte de Sharif e alegaram que o assassinato foi um acidente devido a um caso de “identidade equivocada” durante uma busca por “um carro semelhante” ao dirigido pelo jornalista paquistanês. 

A polícia abriu uma investigação para apurar o caso.

Entidades cobram autoridades

A morte de Sharif foi alvo de protestos e pedidos de investigação de jornalistas, sindicatos e organizações da sociedade civil. No Paquistão, a União Federal de Jornalistas do Paquistão (PFUJ) realizou diversos protestos em todo o país exigindo uma investigação independente, transparente e completa sobre o assassinato de Sharif e indenização para sua família.

“A PFUJ tem sérias preocupações com o assassinato suspeito do famoso âncora Arshad Sharif e exige que as autoridades conduzam uma investigação transparente e abrangente”, disse a organização, em nota.

“A morte de Arshad Sharif não é o assassinato de um jornalista, é o assassinato do jornalismo paquistanês. Uma comissão independente de apuração de fatos envolvendo liberdade de imprensa, organizações internacionais de direitos humanos e a PFUJ deve ser estabelecida para investigação.”

Associações de imprensa do Quênia também se manifestaram contra a morte do profissional paquistanês. A União de Jornalistas do Quênia (KUJ) condenou, em comunicado, o assassinato de Sharif e questionou a ação da polícia.

“No registro policial, há mais do que aparenta na morte de Sharif e exigimos uma investigação completa para desvendar o motivo do tiroteio.

Além disso, exigimos a prisão imediata dos agentes envolvidos neste incidente e que sejam acusados ​​em tribunal pela morte de Sharif. Enviamos nossas sinceras condolências à família de Sharif e à fraternidade da mídia paquistanesa”.

O secretário-geral da Federação Intencional de Jornalistas (FIJ), Anthony Bellanger, à qual os dois sindicatos locais estão afiliados, disse:

“Os jornalistas devem poder viver sem medo de represálias políticas ou assassinatos. A FIJ condena veementemente o assassinato de Arshad Sharif e exige uma investigação completa sobre sua morte”.