Há mais de 600 representantes do lobby da indústria de combustíveis fósseis na conferência climática Cop27 , um aumento de mais de 25% em relação ao ano passado, superando qualquer grupo afetado pela crise climática.

São 636 lobistas das indústrias de petróleo e gás registrados para participar do evento da ONU em Sharm el-Sheikh, que está acontecendo no Egito. 

Em Glasgow, o número era de 503, que superava em número a delegação de qualquer país. Este ano, o único país com uma delegação maior são os Emirados Árabes Unidos, anfitriões da Cop28 do ano que vem, que tem 1.070 delegados registrados, contra 176 no ano passado.

Influência do lobby dos combustíveis fósseis nas decisões 

Na COP27, “a influência dos lobistas dos combustíveis fósseis é maior do que os países e comunidades afetadas. Delegações de países africanos e comunidades indígenas são ofuscadas por representantes de interesses corporativos”, disse o grupo Kick Big Polluters Out, que faz campanha contra a influência de lobistas de combustíveis fósseis nas negociações climáticas.

Os dados sobre lobistas, compilados pelas organizações Corporate Accountability, Global Witness e Corporate Europe Observatory, mostram a crescente influência dos interesses de petróleo e gás nas negociações climáticas. 

Embora muitos grupos ambientalistas que esperam encorajar a transição dos combustíveis fósseis digam que pode ser benéfico trazer os interesses privados para a mesa de negociações, esses benefícios correm o risco de serem superados pelo tamanho das delegações e pelas suspeitas de que os responsáveis pelo lobby do setor participem das negociações para retardar o progresso em vez de discutir a limitação de suas próprias indústrias.

Grupos da sociedade civil temem que a crescente presença de lobistas de combustíveis fósseis arrisque as negociações em um momento essencial, em meio aos esforços para manter o aumento da temperatura global dentro dos 1,5°C, que os cientistas concordam ser necessário para evitar mudanças climáticas catastróficas.

“A explosão no número de delegados da indústria presentes nas negociações reforça a convicção da comunidade de justiça climática de que a indústria vê a COP como uma espécie de carnaval, e não um espaço para lidar com a crise climática em andamento e iminente”, disse Kwami Kpondzo, da Amigos da Terra Togo.

Em uma recente manifestação junto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – o órgão que supervisiona a COP– para discutir o papel das empresas privadas nas negociações, uma coalizão de grupos da sociedade civil disse que a ação climática “continuará a falhar em abordar significativamente a crise do clima enquanto os poluidores tenham acesso total aos processos de formulação de políticas e possam influenciar e enfraquecer indevidamente o trabalho crítico da UNFCCC”.

Em resposta, o Conselho de Negócios Internacionais dos Estados Unidos rejeitou qualquer sugestão de que deveria haver limites aos interesses corporativos nas negociações climáticas, dizendo que isso “prejudicaria e retardaria a implementação [e] marginalizaria um dos grupos mais centrais no processo da UNFCCC. ”.


Este artigo foi publicado originalmente no The Guardian e está sendo republicado pelos integrantes da rede de jornalismo ambiental Covering Climate Now