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Para escapar de prisão perpétua, jornalistas de Hong Kong admitem ter praticado ‘conluio’

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Redação do Apple Daily foi invadida pela polícia em 2021 e vários jornalistas foram presos (Divulgação/ Apple Daily)

Londres – Sob risco de serem condenados à prisão perpétua, seis profissionais de imprensa que trabalhavam no Apple Daily declararam-se culpados de acusações de conluio no Supremo Tribunal de Hong Kong dias antes do julgamento do fundador do jornal, Jimmy Lai. 

Um deles prestará depoimento na sessão que decidirá o destino de Lai, marcada para 1º de dezembro. O bilionário magnata da mídia, que era dono do grupo Next, está preso desde 2020. O grupo fechou as portas em 2021, depois de pressões financeiras e perseguições à equipe. 

A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) condenou a “perseguição legal arbitrária” à equipe do Apple Daily e pediu que as autoridades de Hong Kong retirem todas as acusações contra os profissionais.

Editor de Hong Kong na prisão desde 2020

O caso de Jimmy Lai está sendo acompanhado com atenção pela mídia internacional e por organizações de defesa dos direitos humanos. E seu desfecho acontece na semana em que a China enfrenta violentos protestos contra o governo desencadeados pela política de controle da covid-19. 

Com 74 anos, o bilionário foi preso em 2020, depois de acender uma vela durante uma comemoração pública do massacre de 1989 na Praça da Paz Celestial.

No entanto, a postura crítica do Apple Daily é que estava no alvo do governo de Hong Kong, pois mesmo após a prisão do empresário as perseguições continuaram, com operações policiais na redação, ameaças e detenção de jornalistas. 

 Em outubro o fundador do jornal foi condenado por fraude por sublocar a sede do escritório da empresa jornalística.  

Os seis funcionários do Apple Daily que admitiram culpa estão sendo processados sob a Lei de Segurança Nacional, imposta em reação aos protestos por democracia que tomaram conta do território depois que a China retomou o controle de Hong Kong. 

Em uma audiência no Tribunal Superior em 22 de novembro, o ex-CEO da Next Digital, controladora do Apple Daily, os ex-editores, Ryan Law, Lam Man-chung e Fung Wai-kong; o editor associado, Chan Pui-man, e o redator de opinião, Yeung Ching, se declaram culpados das acusações de conluio com potências estrangeiras por seu trabalho no jornal. 

Fung Wai-Kong chegou a tentar escapar do país, mas foi impedido de viajar e está entre os presos que se declararam culpados. 

Eles foram acusados ​​de conspiração em conjunto com o fundador do Apple Daily por reportagens e artigos pedindo sanções a Hong Kong e à China por causa da repressão ao movimento pró-democracia.

De acordo com o processo judicial, a promotoria listou pelo menos 161 textos para fundamentar a tese de que o Apple Daily cometeu sedição e encorajou membros do público a participarem de protestos antigoverno.

Segundo a IFJ, a participação dos réus Cheung, Law, Lam, Chan e Yeung em reuniões com a presença de Lai foi apontada pela promotoria como conluio.  

A sessão foi conduzida por um painel de três juízes frequentemente selecionados para casos de segurança nacional, os ministros Ester Toh, Susana D’Almada Remedios e Alex Lee, conforme relatos da mídia local. 

A sentença para todos os seis, incluindo a decisão sobre abrandamento das penas em compensação pela confissão de culpa, será definida após o julgamento de Lai.

Hong Kong vai julgar Jimmy Lai em 1º de dezembro

A confissão complica ainda mais a situação de Jimmy Lai. O jornal Observer, edição dominical do The Guardian, publicou no domingo (27) um editorial de opinião criticando a “fraca resposta” do Reino Unido no caso, pois o empresário tem cidadania britânica.

O texto fez referência à condenação na semana passada do cardeal Joseph Zen e de cinco outros ativistas, classificada como “demonstração do pouco respeito que a China de Xi Jinping tem pelas liberdades pessoais e obrigações legais sob a declaração conjunta sino-britânica de 1984″. 

A Federação Internacional de Jornalistas produziu um relatório sobre a destruição do jornalismo independente e o colapso da liberdade de imprensa após a imposição da Lei de Segurança Nacional de Hong Kong.

O documento conclui que pelo menos 12 empresas jornalísticas independentes, incluindo Apple Daily e Stand News, fecharam permanentemente, com muitos profissionais e ativistas detidos, ameaçados e encarcerados em meio a uma “repressão brutal à sociedade civil e à mídia”.

Em nota sobre a confissão de culpa, a IFJ disse: 

“A Lei de Segurança Nacional de Hong Kong continua a ser usada para silenciar arbitrariamente vozes independentes e críticas e reprimir a liberdade de expressão.

À medida que o julgamento de Jimmy Lai se aproxima, as declarações de culpa da equipe do Apple Daily estabelecem mais um precedente sombrio que legitima a destruição da mídia independente e da liberdade de imprensa pelo governo de Hong Kong.”

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