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De Pelé a Neymar: exposição em Londres celebra a beleza do futebol brasileiro

Pelé foto bicicleta

Londres – A participação do Brasil na Copa do Mundo do Catar contagiou a Embaixada do Brasil em Londres, que reuniu em seu espaço cultural um conjunto de fotos dos melhores momentos do futebol do país, de Pelé e Garrincha a Ronaldinho e Neymar.  

A curadoria da mostra, composta por 42 imagens históricas, foi feita pelo fotógrafo e antropólogo Alcyr Cavalcanti, presidente da Arfoc (Associação Brasileira de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos).

Veja a seguir algumas das mais tocantes. 

Pelé e a foto perfeita 

Logo na entrada da exposição, o visitante é brindado com uma foto gigante do Rei Pelé, congelado no espaço, flutuando enquanto executa uma perfeita bicicleta num Maracanã lotado com mais de 150 mil torcedores, em uma partida contra a Bélgica em 1965. O Brasil venceu por 5 a 0. 

Foto Pelé Copa do Mundo exposição futebol
Foto: Alberto Ferreira

Para o curador da exposição, Alcyr Cavalcanti, a imagem eternizada por Alberto Ferreira é insuperável:

“É o instante decisivo, o clique exato, feito pelo maior editor de Fotografia que o Brasil já teve. 

A fotografia da bicicleta do Pelé foi feita em condições extremamente desfavoráveis, em uma época da luz mortiça no Maraca, com câmeras de controle manual e limitação de cliques.

Ainda não havia sido inventado o autofoco, nem o fotômetro através da objetiva nem o motor drive que têm sido a salvação de muitos “gênios” com nariz empinado.”

Em 2021, a imagem foi colocada à venda em um leilão de NFT. O filho de Ferreira, Carlos, contou que o pai estampou a imagem em camisetas e levou na bagagem quando cobriu a Copa do Mundo na Inglaterra no ano seguinte. E trocou-as por lembranças de futebol de outros países, fazendo a foto rodar o mundo.

Um vídeo editado pela Arfoc mostra a montagem e os destaques da exposição. 

Foto mostra Pelé em sua primeira Copa 

Como não poderia deixar de acontecer numa exposição que celebra a beleza do futebol e as conquistas do Brasil em Copas do Mundo, o destaque são as fotos de Pelé. Afinal, até hoje é o único jogador a ter conseguido a façanha de ganhar três Copas.

E acompanha a do Catar do hospital onde está internado. De lá, mandou várias mensagens de apoio para os jogadores brasileiros. 

Na foto da Agência Globo, Pelé aparece acariciando aquela que seria apenas a sua primeira conquista, na Copa da Suécia, em 1958.

Foto: Agência Globo

Pelé quase ficou de fora daquela Copa, depois de sofrer uma lesão grave no tornozelo direito no último amistoso da Seleção, contra o Corinthians. Entrou só no terceiro jogo, contra a União Soviética. Nas quartas-de-final contra País de Gales, Pelé foi a sensação, marcando o gol da vitória.

A semifinal era contra a França, do temível artilheiro Fontaine. Mas quem desequilibrou a partida no segundo tempo foi… ele mesmo: Pelé, com três gols. Na final, Pelé marcaria mais dois, um deles com outro lençol dentro da área, num dos gols mais bonitos de todas as Copas.

Pelé, Garrincha, Zito, Didi e Vavá na Copa de 1958

O menino Pelé estava acompanhado de craques na Suécia, entre eles Garrincha, Zito, Didi e Vavá. Também tinha Nilton Santos, que sabia tanto do jogo que era chamado de “Enciclopedia do Futebol”.

Foto: Acervo Arfoc

O ataque tinha ainda Zagallo, que se tornaria campeão do mundo não só como jogador (em 58 e 62), mas também como técnico (em 70) e coordenador-técnico (em 94). Foi essa seleção que chutou para escanteio o trauma da derrota para o Uruguai na final da Copa de 1950 e abriu caminho para as conquistas que viriam a seguir.

Na Copa de 62, sai Pelé, entra Amarildo

A c0mpetição de 62 seria a primeira disputada pelo Brasil defendendo o título de campeão.

E logo na segunda partida, contra a Tchecoslováquia, ocorreu outra lesão de Pelé, que o tiraria da Copa. Ele foi substituído por Amarildo, que deu conta do recado e terminou como vice-artilheiro. A foto da Agência Estado registra os dois craques em 1962.

Foto: Agência Estado

Deus escreve certo pelas pernas tortas de Garrincha

Muito se discute sobre qual o melhor jogador brasileiro depois de Pelé. Mas há um fato incontestável: a seleção brasileira nunca perdeu quando pôde contar com Pelé e Garrincha em campo.

Nesta foto, Garrincha, entortava mais uma defesa, desta vez a da então Tchecoslováquia, no primeiro jogo entre as duas seleções na Copa de 62, no Chile. O segundo encontro ocorreria na final, com vitória do Brasil por 3 x 1, de virada.

Foto: Agência Estado

Garrincha acabou eleito o melhor jogador da competição. E terminou a Copa como artilheiro, ao lado de Vavá, com quatro gols cada.

A Taça Jules Rimet é nossa

O soco no ar de Pelé, uma das comemorações de gol mais icônicas de todos os tempos, foi eternizado nesta foto de Orlando Abrunhosa, que capta ao fundo Tostão e Jairzinho, que naquela competição foi apelidado de “Furacão da Copa”.

Foto: Orlando Abrunhosa

O apelido de Jairzinho foi merecido: ele marcou pelo menos um gol em cada um dos seis jogos disputados pelo Brasil na Copa de 70, no México. Até hoje, nenhum outro jogador conseguiu marcar em todos os jogos de uma Copa.

Essa foto foi tão marcante que serviu de base para o selo lançado pelos Correios em comemoração à conquista definitiva da taça Jules Rimet, com a bandeira do México ao fundo.

 

 

O Brasil conquistou o direito de ficar para sempre com a Jules Rimet por ter sido o primeiro país a conquistar três Copas. Mas esse privilégio durou apenas 13 anos. A taça acabaria desaparecendo depois de roubada durante uma exposição no Rio de Janeiro em 1983.

Na Copa de 70 o Brasil tornou-se a primeira equipe a ter 100% de aproveitamento não só nas Eliminatórias mas em todos os jogos da Copa. A competição foi a primeira fora da América do Sul e Europa e ficou marcada por lances geniais de Pelé que não terminaram em gol.

Um deles ocorreu contra a Inglaterra, a então detentora do título. Uma cabeçada de Pelé só não entrou por conta de uma impressionante defesa de Gordon Banks, que conseguiu colocar sua mão por baixo da bola e mandá-la por cima do travessão, no que ficou conhecida como a “Defesa do Século”. 

Foto Erno Schneider/ O Globo/ Acervo ARFOC. 1970

A imagem foi registrada por Erno Schneider, um dos mais importantes fotojornalistas do Brasil, que morreu em março passado aos 87 anos de idade. 

A final colocou frente à frente dois bicampeões mundiais e quem ganhasse conquistaria a hegemonia. Deu Brasil, 4 a 1. Essa Copa foi a última disputada por Pelé. Retirou-se marcando gols em todas as quatro que disputou, um feito só superado por Cristiano Ronaldo e Messi. Com a diferença que eles não ganharam Copas.

Primeira Copa decidida nos pênaltis

Depois de 24 anos de jejum, o Brasil conquistava sua primeira Copa sem Pelé. E com direito ao suspense dos pênaltis. O destaque foi Romário, eleito o melhor jogador da Copa. Autor de cinco gols, ficou a um da artilharia da competição. 

A final colocou mais uma vez Brasil e Itália frente a frente, cada um com três títulos mundiais, lutando novamente pela hegemonia. E mais uma vez deu Brasil. A alegria do contestado capitão Dunga foi captada por Ivo Gonzalez.

Foto: Ivo Gonzalez

Dunga, aliás, foi quem bateu o quarto pênalti pelo Brasil. Naquele momento, as cobranças estavam empatadas em 2 x 2. Massaro tinha acabado de bater o quarto pênalti italiano… defendido por São Taffarel! Dunga bateu e marcou. Na sequência, Baggio, chutou por cima e decretou o início da comemoração brasileira.

Na foto de Anibal Phillot, Parreira é jogado para o alto pelos jogadores. Em primeiro plano aparece Ronaldo, que não entrou em campo e ainda não tinha o apelido de Fenômeno, mas que brilharia na conquista seguinte da seleção.

Foto: Anibal Phillot

A Copa da redenção de Ronaldo Fenômeno

A conquista de 2002 compensou a derrota da Copa anterior, para a França. E as sagas de 98 e 2002 tiveram o mesmo protagonista: Ronaldo Fenômeno, que na véspera da final na França teve uma convulsão que abalou a seleção e o país, a ponto de ter rendido, por incrível que pareça, uma CPI no Congresso Nacional!

Apesar do problema médico, Ronaldo fez questão de entrar em campo, mas sua presença não foi suficiente para evitar a derrota por 3 x 0 para os franceses, numa tarde inspirada de Zidane.

A foto de Sérgio Moraes mostra um dos momentos daquele jogo, com o goleiro Barthez se atirando por cima de Ronaldo.

Foto: Sérgio Moraes

Para piorar a situação, em abril de 2000 Ronaldo sofreria a lesão mais grave de sua carreira. O jogador tinha apenas 23 anos, e teve que passar por nova cirurgia. O médico que o operou, o francês Gérard Saillant, foi realista: “Não posso dizer que voltará a jogar futebol”.

Mas no primeiro jogo da Copa de 2002, Ronaldo estava lá, participando de todos os jogos disputados na Coreia e no Japão.

E devidamente acompanhado por craques como Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Cafu, Roberto Carlos 

O Fenômeno marcou oito gols, um deles foi o salvador na semifinal contra a Turquia. A dificuldade desse jogo pode ser sentida no flagrante de Alaor Filho, com Denilson fugindo pelos cantos do campo, para fazer passar o tempo, perseguido por quatro adversários.

Foto: Alaor Filho / Agência Estado

Foram sete vitórias em sete jogos, com 100% de aproveitamento. Ronaldo terminou como artilheiro da Copa e o melhor desempenho de um goleador desde 1970. Só não foi eleito o melhor jogador da Copa porque o goleiro alemão Oliver Kahn foi escolhido numa votação realizada antes da final.

Brasil, único a participar de todas as Copas

Com suas cinco Copas, o Brasil não apenas é o país com mais conquistas, como também é o único que participou de todas as Copas, o momento máximo de um esporte que congrega na FIFA mais países do que a própria Organização das Nações Unidas.

As expectativas este ano foram depositadas em Neymar. 

O craque estreou em Copas em 2014, quando se lesionou nas quartas-de-final contra a Colômbia e abandonou a competição. Até então, tinha marcado quatro gols. O flagrante de Sérgio Moraes mostra o craque em ação contra o México, em Fortaleza. O jogo terminou empatado em 0 x 0.

Foto: Sérgio Moraes

Em 2018, Neymar também se despediu nas quartas, dessa vez com a eliminação do Brasil pela Bélgica. 

A fé dos torcedores 

A exposição reserva um local de honra para os torcedores.

O flagrante da torcida, captado pelas lentes de Sérgio Moraes, foi registrado durante o jogo contra a Suíça, na Copa de 2018. O sentimento continua o mesmo, renovado a cada quatro anos: Fé.

Foto: Sérgio Moraes

Em seu texto de apresentação da exposição, Alcyr Cavalcanti, que também é antropólogo, diz:

“Parafraseando Clifford Geertz, o futebol não é a chave para entender a vida diária de nossos 215 milhões de torcedores. 

Mas esse esporte maravilhoso nos ajuda a entender melhor um pouco da alma do povo brasileiro, nossas decepções e, principalmente, nossa felicidade”.


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