Twitter volta a vender ‘selo azul’ de autenticidade por US$ 8 e dissolve Conselho de Segurança no mesmo dia

Elon Musk em reunião com funcionários do Twitter / XElon Musk, em reunião com funcionários (Foto: Twitter Elon Musk)

Londres – No mesmo dia em que o Twitter relançou o controvertido “blue tick” , um selo de autenticidade concedido mediante pagamento de US$ 8 por mês, a plataforma dissolveu seu Conselho de Confiabilidade e Segurança minutos antes de uma reunião previamente agendada. 

O conselho era formado por cerca de uma centena de acadêmicos e representantes de organizações não-governamentais ligadas a temas críticos nas redes sociais, como discurso de ódio, pornografia infantil e liberdade de imprensa. 

Um dos que protestou contra a decisão foi o CPJ (Comitê de Proteção a Jornalistas), que tuitou dizendo-se “profundamente preocupado” com a eliminação de um mecanismo “destinado a mitigar danos potenciais aos usuários do Twitter, incluindo profissionais de imprensa”. 

Twitter havia confirmado reunião do Conselho de Segurança 

A reunião tinha sido confirmada há quatro dias, seguida por uma  “conversa aberta” e sessão de “perguntas e respostas” com a equipe do Twitter, incluindo a nova chefe de confiança e segurança, Ella Irwin.

Mas alguém mudou de ideia em cima da hora, e a conta do Conselho foi apagada. 

O email enviado aos membros do conselho tinha apenas a marca “Twitter” na assinatura. Desta vez, Elon Musk não assumiu diretamente a autoria da medida, e nem se referiu a a ela em sua conta na plataforma. 

O Conselho existia desde 2016, e nas últimas semanas perdeu alguns membros importantes, que desistiram de continuar colaborando no ambiente em que o Twitter se transformou desde a aquisição por Musk por US$ 44 bilhões. 

Na semana passada, três membros do conselho renunciaram por meio de um comunicado conjunto publicado no Twitter que alertava que “ao contrário das afirmações de Elon Musk, a segurança e o bem-estar dos usuários do Twitter estão em declínio”.

A carta que anunciou o fim do Conselho de Segurança do Twitter

O texto enviado aos participantes do Conselho de Segurança diz que, na nova fase do Twitter, o grupo “não é a melhor estrutura para trazer insights externos ao processo de desenvolvimento de produtos e políticas”. 

O “Twitter” que assina o texto diz que ideias continuarão a ser bem-vindas, em reuniões bilaterais ou em pequenos grupos.

E sugere que os integrantes do grupo extinto continuem a interagir com seus pontos de contato regionais.

O problema vai ser encontrá-los, já que a demissão em massa promovida pelo empresário e medidas subsequentes que estimularam desligamentos voluntários teriam deixado a empresa com cerca de 1 mil funcionários, segundo estimativas de sites de tecnologia.  

Ameaças a ex-chefe de Segurança do Twitter

Não são apenas os usuários que encontram-se sob risco. Também nesta segunda-feira, o ex-chefe de segurança do Twitter, Yoel Roth, foi obrigado a deixar sua casa na California junto com o companheiro.

Tudo por conta de ameaças recebidas desde que Elon Musk tuitou, na semana passada, trechos de trabalhos acadêmicos produzidos por ele. 

Musk vem tuitando o que batizou de “Twitter Files”, documentos internos anteriores à aquisição da plataforma, que divulgados seletivamente tentam referendar algumas de suas próprias posições.

Uma das discussões divulgadas é sobre a remoção da conta de Donald Trump, que mostra algumas opiniões contrárias à decisão que a plataforma finalmente tomou. 

O caso de Roth, no entanto, está tendo consequências práticas, e isso é o que temem os que se alarmaram com o relaxamento das regras de moderação adotado pelo novo dono do Twitter. 

Inicialmente, Roth parecia contar com a admiração do novo chefe, que chegou a fazer elogios ao seu trabalho.

Mas não aguentou e acabou pedindo demissão em novembro. Em um artigo no New York Times, disse que não havia necessidade de uma função como a dele em “uma empresa onde as políticas são definidas por decreto”.

https://twitter.com/yoyoel/status/1593686891965992961?s=20&t=9WmE1d9CsSqvYG6–jtsug

O Washington Post comparou os comentários de Musk sobre Roth aos do movimento QAnon, que acusa membros do Partido Democrata de comandarem uma rede de abuso sexual infantil. 

“Parece que Yoel está defendendo que crianças possam acessar serviços de Internet para adultos em sua tese de doutorado”, tuitou Musk no sábado, anexando uma captura de tela da dissertação do ex-executivo. 

Mas o texto do ex-funcionário defendia estratégias de segurança para aplicativos de namoro gay, a fim de permitir seu uso por adolescentes sem expulsá-los, considerando que acabam usando as plataformas de qualquer maneira. 

Autenticidade vendida no Twitter 

O controverso selo de autenticidade do Twitter voltou a ser comercializado nesta segunda-feira (13), com a promessa de solução para os problemas registrados na primeira tentativa e recursos como o botão de edição e vídeos de melhor qualidade. 

Antes da compra por Musk, o selo era concedido pelo Twitter gratuitamente a contas de alto perfil, como de políticos e celebridades. 

A plataforma foi invadida por contas falsas, incluindo algumas do próprio Elon Musk, já que qualquer um passou a poder comprar um ‘blue tick’ sem verificação da autenticidade do dono da conta. 

Para ter o selo azul, é necessário comprar o aplicativo na  web ou na Apple Store (nesse caso, por US$ 11).

A novidade vale apenas para usuários nos EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido.

Não houve explicação sobre o motivo de o preço ser diferente na Apple Store.

Mas em novembro, Elon Musk teve uma discórdia pública com a Apple, acusada de ameaçar bloquear o Twitter na loja de aplicativos e de parar de anunciar na plataforma – o que fizeram centenas de outras corporações. 

Além de uma suposta verificação de autenticidade por parte da equipe do Twitter – o que não aconteceu na primeira fase – , o selo azul vai garantir aos usuários visibilidade maior de suas postagens do que as dos não pagantes, segundo o Twitter.

“Em breve” o recurso estará disponível, elevando posts dos assinantes para o topo das respostas, menções e pesquisas. 

Os usuários também terão acesso ao botão de edição, uma ideia polêmica que não agrada a quem teme a desinformação na plataforma. Um tweet pode ser alterado depois de amplamente compartilhado. 

Quem tinha o selo antes da compra da plataforma pelo novo dono continua com ele, mas não se beneficiará dos recursos adicionais. No futuro, os selos terão cores diferentes – dourado para empresas ou cinza para autoridades, por exemplo. 

No novo sistema, os assinantes que alterarem seus nomes ou exibirem fotos perderão o visto azul até que a conta seja revisada pelo Twitter.

Redação MediaTalks
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