Sob o pretexto de ‘doxxing’ no caso do jatinho, Musk suspende contas de jornalistas críticos

Londres – Autoproclamado “absolutista da livre de expressão”, o empresário Elon Musk perdeu a paciência com alguns jornalistas críticos de sua gestão do Twitter e suspendeu sem aviso prévio as contas de pelo menos nove deles na noite desta quinta-feira (15), sob a alegação de prática de “doxxing”, o ato de compartilhar localização de pessoas com fins maldosos. 

Os jornalistas que tiveram as contas suspensas estavam entre os que noticiaram o banimento da conta @Elonjet, que rastreava seus voos de jatinho e foi banida na quarta-feira (14) após o carro com o filho do empresário supostamente ter sido alvo de uma perseguição.

“Eles postaram minha localização exata em tempo real, divulgando basicamente coordenadas de assassinato, em (óbvia) violação direta dos termos de serviço do Twitter”, escreveu Musk, que nesta madrugada tuitou dizendo que as contas que publicarem localização serão suspensas por sete dias e não banidas, como se imaginou a princípio. 

As contas suspensas por Musk no Twitter 

Os banidos são Ryan Mac do The New York Times, Donie O’Sullivan da CNN, Drew Harwell do The Washington Post, Matt Binder do Mashable, Micah Lee do The Intercept, Steve Herman do Voice of America e os jornalistas independentes Aaron Rupar, Keith Olbermann e Tony Webster.

Todos são críticos regulares dos passos do empresário desde que adquiriu o Twitter por US$ 44 bilhões, em outubro. 

Eles relataram não ter recebido explicações ou qual a extensão da punição. Na madrugada desta sexta-feira (16), Elon Musk tuitou dizendo que as contas que praticaram doxxing ficariam suspensas por sete dias, mas não especificou se todas. 

A fúria de Musk começou na quarta-feira, quando o perfil @Elonjet, que rastreava as viagens de jatinho do empresário, e a conta de seu autor, Jack Sweeney, de 19 anos, foram suspensas depois da perseguição, que aconteceu em Los Angeles.

O empresário atribuiu o “stalking” à divulgação das informações de seu trajeto. 

O assunto virou notícia rapidamente no mundo, com o compartilhamento do link para o perfil banido ou imagens relativas à história.

Mas somente nove jornalistas que escrevem regularmente sobre o Twitter tiveram as contas suspensas, sem aviso prévio ou explicações. 

Horas depois da suspensão, Elon Musk participava de um debate pelo Twitter Space com mais de 30 mil ouvintes, no qual explicava a última mudança de regra do Twitter sobre contas que rastreiam jatos particulares, implementada na quarta-feira.

Mas ele saiu rapidamente quando um dos jornalistas banidos conseguiu entrar na transmissão e o confrontou. O empresário disse:

“Seu doxx, você foi suspenso. Fim da história. É isso.”

No início da semana, o Twitter havia dissolvido seu Conselho de Segurança, formado por cerca de 100 especialistas e representantes de organizações da sociedade civil, pouco antes de uma reunião.

Os novos movimentos confirmam que as decisões de moderação serão tomadas pelo empresário conforme sua própria visão. Nas últimas semanas, contas banidas no passado, como a de Donald Trump, foram reativadas.  

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Musk parece também incomodado com a concorrência. A conta da rede social Mastodon no Twitter foi suspensa.

E segundo a americana NBC, jornalistas da rede não conseguiram ontem tuitar links para páginas da Mastodon.

Reação a Musk por suspensão das contas 

Alguns dos banidos  reagiram lembrando que eles não tuitaram a localização do avião, e sim a notícia sobre o banimento da conta.

E que o link para a @Elonjet não estava mais ativo, já que o perfil foi suspenso na quarta-feira, um dia antes da suspensão das contas dos jornalistas. 

Matt Binder, do canal de notícias de tecnologia Mashable, defendeu-se dizendo que não havia postado localização, e  sim a captura de tela de um post do jornalista Donie O’Sullivan. O post mostrava uma declaração do Departamento de Polícia de Los Angeles enviada na quinta-feira a vários meios de comunicação.

Tratava-se de um comunicado do órgão informando que estava investigando o caso da perseguição, mas que nenhum relatório criminal havia sido registrado.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas emitiu uma nota expressando preocupação com as suspensões:

“Se confirmadas como retaliação pelo trabalho, isso seria uma grave violação do direito dos jornalistas de relatar as notícias sem medo de represálias”. 

A CNN disse em um comunicado que “a suspensão impulsiva e injustificada de vários repórteres, incluindo Donie O’Sullivan, da CNN, é preocupante, mas não surpreendente”. 

E acrescentou que a “a crescente instabilidade e volatilidade do Twitter devem ser uma preocupação incrível para todos que usam a plataforma”. 

O New York Times chamou as suspensões de “questionáveis ​​e infelizes”