Londres – Dando argumentos aos que concordam com as críticas do príncipe Harry e Meghan Ryan sobre o mau comportamento da imprensa, um artigo assinado por um apresentador de TV sobre as revelações da série da Netflix publicado no tabloide The Sun conquistou o posto de campeão histórico de reclamações no órgão regulador de mídia britânico.
O autor do texto é Jeremy Clarkson, uma das figuras mais conhecidas da mídia do país, especializado em automobilismo, que atualmente apresenta o programa Quem Quer Ser um Milionário? na emissora ITV.
No artigo publicado na sexta-feira (16), ele expressa ódio “em nível celular” por Meghan e diz estar “sonhando com o dia em que ela seja obrigada a desfilar nua pelas ruas de todas as cidades da Grã-Bretanha enquanto a multidão gritará ‘Que vergonha!’ e jogará excrementos nela”.
O texto gerou revolta por ter sido considerado um ato de incitamento ao ódio contra a duquesa de Sussex.
O IPSO (Independent Press Standards Organization) recebeu mais de 20,8 mil reclamações até as 17h de terça-feira (20). O número também superou o total de queixas recebidas em todo o ano passado, que foi de 14.355.
O artigo foi retirado do ar a pedido do autor, que em um tuíte no domingo tentou se justificar dizendo que ter feito “uma referência desajeitada a uma cena em Game of Thrones e isso pegou mal com muitas pessoas”.
Ele prometeu ser mais cuidadoso no futuro. Mas não se desculpou.
Oh dear. I’ve rather put my foot in it. In a column I wrote about Meghan, I made a clumsy reference to a scene in Game of Thrones and this has gone down badly with a great many people. I’m horrified to have caused so much hurt and I shall be more careful in future.
— Jeremy Clarkson (@JeremyClarkson) December 19, 2022
Tabloides na mira de Harry e Meghan
Clarkson não foi o único a criticar as declarações de Harry e Meghan feitas no programa da Netflix, com seis capítulos exibidos em duas etapas nos dias 8 e 15 de dezembro.
A imprensa britânica condenou em peso o que considerou ataques injustos a si própria e a membros da família real, principalmente ao príncipe William, depois que o programa da Netflix foi ao ar.
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Mas o artigo do apresentador da ITV recebeu condenação geral.
No texto, Clarkson se diz desesperado por ver que “os mais jovens, principalmente as meninas, acham Meghan muito legal”.
Ele acrescentou que “todo mundo da minha idade pensa da mesma maneira”.
O The Sun, onde a coluna foi publicada, pertence ao grupo de mídia de propriedade do magnata Rupert Murdoch, com histórico de confusões na mídia britânica.
Em 2011, outro jornal de sua propriedade, o News of The World, fechou as portas depois de ter sido confirmada a prática de escutas telefônicas de celebridades e políticos.
Mas o empresário continua com forte influência no jornalismo, detendo títulos com o The Sun, o The Times, a TalkRadio e a TalkTV.
Rebekah Brooks, que era editora do News of the World e foi a primeira mulher editora do The Sun, hoje comanda o conglomerado de Murdoch no Reino Unido, o grupo NewsCorp.
Embora Clarkson seja objeto da maioria das críticas, está sendo criticado por ter permitido a publicação do artigo.
Políticos condenam tabloide The Sun
O caso chegou aos meios políticos, como tudo o que envolve a família real. Mais de 60 parlamentares escreveram ao editor do The Sun condenando a coluna.
A carta, apresentada pela deputada conservadora Caroline Nokes, exige que a publicação tome medidas contra Clarkson.
O texto diz que o artigo “odioso” sobre Meghan Markle contribuiu para um “clima inaceitável de ódio e violência”. E menciona o processo editorial que permitiu a publicação da coluna.
I welcome Jeremy Clarkson's acknowledgement that he has caused hurt #notanapology– but an editorial process allowed his column to be printed unchallenged pic.twitter.com/pFhdSGn071
— Caroline Nokes (@carolinenokes) December 20, 2022
Questionado, o primeiro-ministro Rishi Sunak foi econômico nas palavras, sem condenação direta a Jeremy Clarkson:
“Para todos na vida pública, a linguagem é importante.”
Já a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, foi mais longe. Ela é mencionada em um dos trechos do artigo de Clarkson sobre o programa de Meghan e Harry no tabloide The Sun.
Para dar a medida de seu ódio contra a duquesa, ele diz odiá-la mais do que a raiva nutrida pela assassina em série Rose West e pela primeiro-ministro da Escócia.
Em uma entrevista de rádio, Sturgeon classificou os comentários de “horríveis” E comentou:
“Devo dizer que, dando um passo para trás, meu sentimento avassaladora sobre pessoas como Jeremy Clarkson é pena.
O que torna alguém tão distorcido pelo ódio a ponto de acabar escrevendo essas coisas?”
O parlamentar do partido Scottish National Party (SNP) John Nicolson também escreveu aos executivos-chefes da ITV após os “comentários grotescos”.
Ele disse que o artigo de Clarkson havia “passado dos limites” e acreditava que a emissora não deveria deixá-lo “voltar às nossas telas”.
Até a filha de Clarkson, Emily, que apresenta o podcast Should I Delete That?, foi às redes sociais para condenar os comentários de seu pai sobre Meghan na coluna do tabloide The Sun.
Em um post no Instagram, ela disse:
A ITV também entrou na linha de tiro, pressionada para tirar Jeremy Clarkson do elenco de apresentadores.
Um diretor da emissora, Kevin Lygo, foi confrontado com a situação do apresentador durante um evento do Broadcasting Press Guild em Londres na terça-feira.
Ele tentou afastar o caso das atividades de Clarkson na empresa, afirmando que a ITV não tem controle sobre o que ele escreve em uma coluna de jornal e que no momento não havia planos de afastá-lo do programa de perguntas e respostas.
Mas admitiu que o que Clarkson disse “foi horrível”, e que não representa os valores da ITV.
Meghan e Harry haviam perdido popularidade depois do lançamento da série da Netflix.
O episódio com o tabloide The Sun pode fazer com que alguns repensem suas opiniões, já que as queixas sobre discurso de ódio e racismo praticados contra ela ganharam um forte elemento de confirmação.