Londres – Retratos dos efeitos das mudanças climáticas deixaram de ser apenas aquelas fotografias distantes da realidade da maioria da população, mostrando geleiras desabando nos pólos e ursos ilhados em blocos de gelo.
Ao longo de 2022, fotógrafos documentaram como o aquecimento global afeta cada vez mais a vida de pessoas comuns, provocando perdas materiais, humanas – como as registradas na onda de frio que assola os EUA -, destruição de colheitas e migração forçada.
A plataforma de tendências visuais da Getty Images apontou que incêndios, secas e enchentes foram os assuntos que mais movimentaram 2022, inclusive no Brasil, como aponta Pancho Bernasconi, Vice-Presidente de Notícias da Getty.
“Outro aspecto que chama atenção é o fato de que, principalmente no Brasil, as imagens e vídeos mais procuradas incluem pessoas, o que pode refletir o impacto que os eventos relacionados ao clima têm no cotidiano do público”.
Bernasconi reflete sobre o papel da fotografia jornalística no contexto das mudanças climáticas:
“Somos fotojornalistas e não cientistas, então nossa missão é mostrar como a mudança do clima afeta todo o espectro de interações humanas com o meio ambiente.
É importante retratarmos a grande escala da mudança climática, mas igualmente importante é o foco em seu impacto em cada indivíduo.”
Confira a seleção de imagens produzidas por fotógrafos da Getty Images, que falam mais do que as palavras escritas nos acordos por enquanto pouco promissores para travar as emissões que ameaçam o futuro do planeta e dos que vivem nele.
Muree, Paquistão, 8 de janeiro
Exército e equipes civis trabalham para resgatar turistas presos após uma forte tempestade de neve em Murree, Paquistão. Mais de 20 turistas perderam a vida depois que seus veículos ficaram presos devido a uma forte nevasca na estação montanhosa perto da capital, Islamabad. (Foto de Stringer/Agência Anadolu via Getty Images)
Honório Bicalho (MG), 12 de janeiro
Elias Aurelio reage após limpar o carro que foi inundado pelo transbordamento do Rio das Velhas em 12 de janeiro de 2022 em Honório Bicalho, Minas Gerais.
As fortes chuvas causaram deslizamentos e alagamentos na região.
Segundo as autoridades, 10 pessoas morreram em dois dias e o número de pessoas afetadas era superior a 17 mil pessoas no momento em que o registro foi feito pelo fotógrafo. As chuvas que caíram em Minas Gerais em janeiro de 2022 deixaram quase a metade dos municípios em situação de emergência.
Dungay, Austrália, 2 de março
John Lawrence e Payton Campbell (atrás do marido), com seus filhos Harlow e Aria, caminham sobre uma estrada inundada perto de sua casa, em Dungay.
Várias cidades da região foram evacuadas após tempestades sem precedentes e as piores inundações enfrentadas pela Austrália em uma década.
Mirzapur, Índia, 20 de maio
As pessoas enchem seus baldes de um caminhão-tanque fornecido pela prefeitura na vila de Lahuriya, a 65 km de Mirzapur, Uttar Pradesh, Índia.
Uma forte onda de calor causou condições semelhantes às de uma seca em vastas áreas do centro agrícola da Índia, de Norte a Sul, já que as chuvas que geralmente chegam antes da prolongada temporada de monções do país não se materializaram em muitas regiões.
A Índia é particularmente vulnerável à seca, pois seu setor agrícola depende fortemente de ciclos climáticos naturais ininterruptos e oportunos para sua sobrevivência.
Cerca de 150 aldeias na região de Mirzapur enfrentaram uma crise extrema de água. A maior parte da água é fornecida por caminhões-pipa e há uma cota diária de 15 litros por pessoa. Muitos moradores acabam bebendo água de fontes pouco higiênicas, sofrendo de doenças como diarréia.
Jurupa Valleu, Califórnia (EUA), 17 de junho
Sylhet, Bangladesh, 24 de junho
Soldado distribui ajuda a pessoas ilhadas pelas fortes chuvas. Em maio e junho, a região nordeste de Bangladesh, particularmente as áreas de Sylhet, Sunamganj e Netrokona, foram severamente afetadas por enchentes .
Albergaria Velha, Portugal, 13 de julho
Um residente tenta apagar um incêndio com um galho de árvore ao ver as florestas ao redor de sua casa queimando em 13 de julho de 2022 em Albergaria a Velha, Portugal.
Incêndios florestais como o registrado na fotografia ficaram mais devastadores como efeito das mudanças climáticas, segundo cientistas. Em Portugal, eles varreram a parte central do país, impulsionados por temperaturas superiores a 40 graus Celsius.
Leeds, Inglaterra, 19 de julho
A cena parece feliz, mas reflete uma realidade nova para quem vive em locais outrora frios durante a maior parte do ano: as ondas de calor, para as quais casas e até o transporte público não estão preparados.
Na foto, residentes de Leeds dão um mergulho em uma piscina infantil para se refrescar fora de casa. Nesse dia, as temperaturas ultrapassaram os 40°C em partes da Inglaterra, depois que o país teve seu primeiro alerta vermelho de calor extremo. Temperaturas recordes foram alcançadas em todo o Reino Unido este ano.
Mariposa, Califórnia (EUA), 23 de julho
Bombeiros tentam debelar o incêndio de carvalhos nos arredores do Parque Nacional de Yosemite.
O fogo forçou pessoas a deixarem suas casas, carbonizou mais de 11.500 acres de floresta e destruiu várias casas.
La Poterie, França, 11 de agosto
Sob a névoa da manhã, trabalhadores colhem uvas Sauvignon Blanc no que sobrou do vinhedo da Ad Vium, uma vinícola que perdeu vários hectares de videiras nos incêndios florestais do mês anterior.
A França sofreu seu julho mais seco já registrado e as temperaturas na Europa subiram novamente graças a uma nova onda de calor que se disseminou pelo continente.
Tando Jam, Paquistão, 26 de agosto
Pessoas deixam suas casas em direção a um lugar mais seguros devido à inundação na cidade de Tando Jam, em Sindh.
Migração forçada é um dos mais pungentes efeitos das mudanças climáticas, levando pessoas a abandonarem para sempre as localidades onde sempre viveram e a perderem sua identidade.
Fort Myers, Flórida (EUA), 29 de setembro
Furacões não são novidade para a região do Caribe e sul dos EUA, mas a intensidade e frequência deles se torna maior como efeito das mudanças climáticas.
Brenda Brennan senta-se ao lado de um barco que ‘encalhou’ em seu apartamento quando o furacão Ian passou pela área, trazendo ventos fortes, tempestades e chuvas que causaram graves danos e mais de 100 mortes.
Matlacha, Flórida (EUA), 1º de outubro
Um homem caminha sobre um trecho rachado da Pine Island Road após o furacão Ian em Matlacha, Flórida, em 1º de outubro de 2022. Foi uma das mais poderosas tempestades que já atingiu o país.
Helena, Arkansas (EUA), 19 de outubro
Pessoas caminham sobre um banco de areia exposto pela maré baixa no rio Mississippi. A falta de chuva no vale do rio Ohio e ao longo do Alto Mississippi fez com que o rio ao sul da confluência do Rio Ohio descesse a níveis recordes.
O fenômeno prejudicou o tráfego de balsas, elevando os preços do transporte e ameaçando as exportações de safras e os embarques de fertilizantes, assim como as colheita da soja e milho.
Jaen, Espanha, 24 de novembro
Um trabalhador sacode uma oliveira durante a colheita. Devido às ondas de calor extremas e à seca que se seguiu, produtores da região da Andaluzia na Espanha – a maior região produtora de azeite do mundo – devem registrar a metade dos rendimentos este ano.
As fotografias retratando os efeitos das mudanças climáticas foram cedidas pela Getty Images e não podem ser reproduzidas sem autorização.
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