Londres – Um dos mais importante prêmios de fotografia do mundo, o Lens Culture Art Photography, é uma demonstração das possibilidades de explorar técnicas e linguagens diversas para contar histórias ou criar impacto.
Os 40 artistas selecionados pelo júri na edição 2023 do concurso usaram a própria fotografia, pura ou manipulada, e também colagens e gravuras em obras que vão além dos limites da documentação de cenas reais, adicionando elementos ou usando ângulos e recursos de luz e sombra para expressar ideias e sentimentos.
A competição de fotografia de arte teve a participação de fotógrafos de 20 países. Veja os trabalhos premiados.
Imagens Únicas
1º lugar – O desaparecimento, por Justin Carney, EUA
O vencedor da categoria Imagens únicas do prêmio de fotografia questiona as memórias, como elas desaparecem após a morte de um entre querido e como esse esquecimento afeta as pessoas.
“Depois de testemunhar a morte da minha avó em nossa casa, ficou claro como a vida é temporária e com que rapidez as memórias fogem do controle.
Este projeto usa fotografia, monotipia (técnica de fazer gravuras coloridas com uma única impressão) e apagamento com lixa para incorporar o processo de esquecimento, onde as memórias se sobrepõem e tornam-se obscuras e enterradas”.
2º lugar – Poston Provenance, por Jennifer Sakai, EUA
O trabalho selecionado em segundo lugar no concurso de fotografia narra a transferência da família japonesa de Sakai para o campo de concentração de Poston no Arizona (EUA).
“Meu trabalho explora o resíduo desse trauma entre as gerações que foi passado para mim e renasceu em esperança e beleza do que meus avós, tias e tios suportaram.
É repleto de objetos efêmeros, imagens e registros da família Sakai e sua vivência durante a Segunda Guerra Mundial e pós-guerra, justapostos a imagens de minha própria prática fotográfica que ecoam o que veio antes, mas com uma nova reverberação”.
3º lugar – Reflexões de Boscoe, por Kelly-Ann Bobb, Trinidad e Tobago
A obra de Bobb é um retrato da cultura de Trinidad influenciado pelo pintor contemporâneo Boscoe Holder.
“A imaginação negra e o uso da moda como veículo para destacar nossa cultura e nos referenciar levaram à criação dessa imagem”.
Séries premiadas
1º lugar – Epítome, por Vic Bakin, Ucrânia
A série ‘Epítome’ é um resumo sobre a exploração da imagem de masculinidade em tempos de guerra.
“É partida, saudade, fragilidade e dúvida. Mas também amor e esperança”.
2º lugar – Pôr do sol no supermercado, por Ousman Diallo, EUA
O trabalho de Diallo retrata o bairro do Bronx, onde ele foi criado. Ele define o local como “uma constante fonte de tensão, onde os estereótipos proliferam imperturbáveis e as oportunidades são poucas”.
“Com este projeto, espero reexaminar as narrativas profundamente enterradas na cultura urbana americana”.
3º lugar – Um dia todos os dias (2020/2022), por Zuzana Pustaiová, Eslováquia
A série premiada no concurso de fotografia examina padrões de comportamento nos grupos sociais frequentados pela fotógrafa. Visual e conceitualmente, o projeto enfoca diferentes aspectos do uso da máscara como a alegoria da ‘interpretação de papéis’, em imagens produzidas em estúdio abusando das cores fortes.
“Quantas máscaras usamos todos os dias? As máscaras são pesquisas visuais da pergunta ‘Quantos segundos eu tenho?’
“Nova axila. Às vezes penso nos pelos do nosso corpo, como nos sentimos naturais e como a sociedade conduz nossos hábitos e comportamentos”.
“Sorrisos de Gelo. Sorria, sorria, sorria. Todo mundo está sorrindo, mas é real, honesto e natural?”
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Jurados do concurso escolhem suas favoritas
Além das imagens e séries premiadas o concurso Lens Culture Art Photography dá aos jurados a oportunidade de escolherem seus trabalhos favoritos entre os inscritos, explicando o motivo da escolha.
Mulher da vida livre, por Akbar Shahbazi, Irã
A jurada Izabela Radwanska Zhang, Diretora Editorial do British Journal of Photography, selecionou uma imagem do Irã.
“Para mim esta imagem evoca muitas emoções.
É repleta de simbolismo – a liberdade do pássaro voando, que é pequeno e distante, a mão estendida da jovem, a sombra de seu coque bagunçado projetada ao fundo”.
“Fui atraída por sua simplicidade e apreciei a distorção sutil e surrealista do braço no espelho. É, claro, uma imagem relevante para o tempo em que vivemos, um símbolo claro das mulheres corajosas do Irã”.
Histórias da infância, por Daniela Guerrero, EUA
Shana Lopes, Curadora Assistente de Fotografia do Museu de Arte Moderna de São Francisco (EUA), também apontou como favorita uma imagem em preto e branco.
“Esta fotografia coloca em primeiro plano a poética das sombras como um local de possibilidades. A figura luminosa no centro existe entre os mundos: o visível e o que está além, a natureza e a humanidade”.
“Enigmática e assustadora sua imagem noturna se comporta como a cena de abertura de um romance, gerando mais perguntas do que respostas, mas chamando nossa atenção instantaneamente.
Embora orientados para a narrativa, são atributos formais clássicos da fotografia – luz, composição e gama tonal – que fazem com que esta imagem se destaque”
Boa esperança, por Carla Liesching, África do Sul
Selecionada pela jurada Elisa Medde, Editora-chefe da revista FOAM, dos Países Baixos, a imagem “Good Hope” (Boa Esperança) de Liesching é, segundo Medde, “um corpo de trabalho multifacetado, que explora narrativas em torno do Cabo da Boa Esperança na África do Sul”.
“As imagens construídas pela artista levam o jardim e os espaços dentro e ao redor do Cabo para esculpir narrativas não lineares de tais locais históricos”.
Ao reunir camadas ou materiais cumulativos e organizá-los para criar conversas entre eles, ela é muito bem sucedida em expressar uma forte crítica ao colonialismo branco sempre presente ao longo do tempo e expor a confusão e as impossibilidades de narrativas lineares nesse sentido, criando um espaço para críticas e avaliação”.
Venha me encontrar, por Arrayah Loynd, Austrália
A Diretora Executiva do Museu Giffin, nos EUA, Crista Dix, jurada do prêmio de fotografia, explicou porque escolheu a série de colagens do artista Loynd.
“O trabalho é uma narrativa visual multifacetada, hipnotizante, desestabilizadora e cheia de perguntas para as quais não consigo encontrar respostas”.
“A melhor parte de ver um trabalho que me envolve é questionar minha própria clareza de quem eu sou. O trabalho de Loynd não é algo para desviar o olhar, é algo para se encontrar.”
O trabalho de colagem, as repetições de viver um sonho indefinidamente para que fim, mudanças de padrão, tudo levando à beira da loucura. Ou clareza. Para mim, isso me mantém voltando a este trabalho, encontrando algo novo para explorar cada vez que o vejo”.
Estupro no estacionamento, por Eve Weiner, EUA
A série ‘Estupro no estacionamento’, de Eve Weiner, foi a escolhida por Renée Mussai, Diretora Artística da The Walther Collection, da Alemanha. Ela comenta:
“Comovente, desorientador, humilhante, aterrorizante – fui assombrada pela série de autorretratos de Eve Weiner, por dias, semanas e continuei voltando a esse ritual corajoso e convincente de reconstituição fotográfica”.
“Eu não queria, mas senti a responsabilidade de olhar, olhar de perto e olhar de novo, reconhecer, observar ouvir – reconhecê-la e vê-la.[…]
Não só corporificação, mas também a forma como estas fotografias explicitamente coreografadas evocam de forma tão cândida, ameaçadora e brutal a violência do ato na sua materialidade, imposta pela mão do artista: um fazer e desfazer deliberadamente simbólicos de dor/sofrimento infligido, as cicatrizes, os rasgos, os cortes, os arranhões, as rupturas.
Estes são retratos crus, sem verniz e corretivos que falam do horror da violência de gênero – imagens que obrigam, comprometem, confundem – eles constituem uma comemoração, uma assombração, mas também uma potente reivindicação de espaço”.
Os jardins dos caminhos que ser bifurcam, por Elizabeth Casasola, México
A imagem da fotógrafa Elizabeth Casasola, escolhida por Leslwy A. Martin, Diretora Criativa da Aperture Foundation e jurada do prêmio de fotografia LensCulture, convida o espectador a passear por um labirinto de imagens e cores.
“Comprimida, mas multidimensional, esta imagem oferece uma explosão de prazer visual que seduz o espectador, atraindo-o, ao mesmo tempo em que obscurece partes de si mesma para que não sejam vistas. Uma justa homenagem a um dos padrinhos do multiverso, Jorge Luiz Borges”.
Vulcão Etna, por Lorenzo Zoppolato, Itália
“Muitas vezes é um mistério por que alguém é atraído por uma determinada obra de arte. Zoppolato me afeta de forma quase magnética, atraindo e prendendo minha atenção.
O que é? Talvez seja a justaposição de uma erupção vulcânica ativa com uma fotografia muito estática de uma perna nua pendurada sobre uma dispersão de rochas vulcânicas.
Adoro a infinidade de cinzas e pretos, e gosto da clareza e nitidez em contraste com o borrão do movimento”, disse Jim Casper, Editor-Chefe da LensCulture.
Permanências, por Diego Moreno, México
“A homenagem fotográfica de Moreno à sua avó materna ‘ultracatólica’, Clemencia, cativa e encanta”, comentou o jurado da competição, Brian Paul Clamp, Diretor da galeria Clamp em Manhattan (EUA).
“A colaboração lúdica entre artista e sujeito não apenas fala sobre seu forte vínculo emocional, mas também reflete sua cultura mexicana. A bravura e a confiança de Diego e Clemencia são surpreendentes e emocionantes”.
Conheça também algumas das imagens finalistas do prêmio de fotografia
Família perdida, por Gulnara Samoilova, EUA
Na série Família Perdida a fotógrafa usa colagem e tinta a óleo em imagens mostrando fotografias de antigos álbuns de família.
Um homem reconectado, por Henri Blommers, Holanda
A série mostra em dez imagens os temas devastação, destruição, extinção, redução, ressurreição, interconexão, proteção, solução, reconstrução e regeneração.
As imagens do LensCulture Art Photography foram divulgadas pela organização do prêmio de fotografia e não podem ser reproduzidas sem autorização.
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