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Austrália | Iniciativa promove fontes mulheres para aumentar representação na cobertura

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Jullia Gilliard, ex-primeira-minbistra australiana, chegou a ter sua imagem transformada em brinquedos para cachorros

Liz Lacerda

Sydney – Um estudo publicado em fevereiro de 2023 pela organização Women in Media revelou que 70% das fontes da imprensa do país são do sexo masculino, o que explica a baixa representação feminina na cobertura da imprensa australiana.

Entre os ‘especialistas’, os homens também dominam, com um percentual equivalente.

Foram analisadas mais de 18 mil reportagens de jornal, rádio e TV em julho do ano passado.

Igualdade de gênero só em 2034

Uma das descobertas é que os homens têm mais espaço na mídia mesmo em matérias sobre indústrias nas quais as mulheres respondem pela maioria da força de trabalho.

As mulheres se sobressaem como fontes em áreas tipicamente “femininas”, mas são renegadas em temas como negócios, defesa e mobilidade, além do óbvio esporte.

Com base nos resultados, a organização estima que, até pelo menos 2034, a igualdade de gênero na mídia australiana não vai passar de uma aspiração.

Por outro lado, boas iniciativas para aumentar a representação feminina estão acontecendo na Austrália.

O Instituto de Liderança da Mulher criou o Women for Media, um portal para conectar jornalistas e fontes do sexo feminino.

A plataforma lista profissionais experientes e especialistas em diversas áreas, com o objetivo de promover a diversidade e a igualdade de gênero, facilitando o contato e ampliando a visibilidade das mulheres.

Aumentando representação feminina no país com com histórico de sexismo

A valorização das mulheres como fontes é uma necessidade em um país como a Austrália, com histórico de sexismo e misoginia da mídia, principalmente em relação às mulheres no poder.

Nos três anos e três dias em que Julia Gillard atuou como primeira-ministra, de 2010 a 2013, a imprensa comentou o caimento do seu casaco e o tamanho do seu bumbum.

Também falou do corte do seu cabelo, o tom da sua voz, a legitimidade da sua administração e – ecoando o comentário de um político – se ela tinha escolhido ser “deliberadamente estéril”.

Embora estivesse determinada a não deixar seu gênero ser uma distração, teve que lidar com cartazes que estampavam o slogan “Livre-se da Bruxa” ou que ressaltavam certas partes de sua anatomia.

E até brinquedos para cachorros morderem feitos com a sua imagem. 

Um pouco antes de deixar o cargo, o partido de oposição serviu o “Kentucky Fried Codorna Julia Gillard” em um evento de arrecadação de fundos: “peitos pequenos e coxas grandes em um balde vermelho”.

O sexismo era visceral e, por vezes, grotesco.


Este artigo faz parte da edição especial sobre representação de gênero na mídia 

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