Alguns jornalistas e editores se defendem de críticas sobre representação de gênero, argumentando a dificuldade de encontrar fontes especializadas ou mulheres protagonistas das notícias nos setores que cobrem. Um exemplo é a indústria da música.
O setor musical é dominado por homens, o que naturalmente leva a uma baixa representação de mulheres como fontes ou personagens de pautas sobre o tema.
Uma pesquisa publicada em janeiro de 2023 pela Escola Annenberg de Comunicação e Jornalismo da USC (University of Southern California) constatou o predomínio masculino nesse setor que movimenta bilhões e é sempre destaque no noticiário.
Representação de gênero na música: mulheres são minoria
Há 11 anos os pesquisadores vêm rastreando gênero e raça de artistas, compositores e produtores musicais responsáveis pelas canções da parada Billboard Year-End Hot 100 e entre os indicados nas seis principais categorias do Grammy Awards.
De acordo com o estudo da USC, dos 160 artistas com músicas na Hot 100 em 2022, 69,4% eram homens, 30% eram mulheres e menos de 1% identificaram-se como não binários.
Embora a situação tenha melhorado desde 2012, quando a taxa de mulheres era de 22,7%, um olhar sobre a função que elas desempenham mostra a baixa representação delas como compositoras ou produtoras.
Dos 451 compositores com músicas na parada em 2022, 85,7% eram homens e 14% eram mulheres.
Houve três compositores não binários no ano. Essa porcentagem vem se mantendo desde 2012. No total, a proporção de homens para mulheres compositoras em 11 anos foi de 6,8 para 1.
Comportamento semelhante aconteceu com as mulheres produtoras, que não conseguiram ampliar sua presença na indústria.
Em 2022, 232 produtores receberam créditos por canções integrantes da parada da Billboard. Desses, 3,4% eram mulheres e 96,1% homens. Um produtor identificou-se como não binário.
O levantamento demonstra que apenas oito mulheres trabalharam na produção das músicas mais populares do ano passado nos Estados Unidos.
O estudo da universidade americana não analisa a representação na mídia, mas é possível inferir que, refletindo o perfil da indústria, as notícias e entrevistas sobre música pop tendam a dar mais espaço para os homens.
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Em 2019, a Recording Academy, que organiza o Grammy, anunciou o Women in the Mix, um compromisso de aumentar a contratação de mulheres como engenheiras e produtoras assumido pelos artistas diante da mídia.
O estudo da USC afirma que “a iniciativa falhou completamente”, já que o número de artistas presentes no Hot 100 que contratam mulheres para essas funções não mudou.
“Uma desculpa para não contratar mais mulheres é que não haveria profissionais disponíveis”, dizem os autores da pesquisa.
Eles recomendam o apoio a programas de inclusão de gênero na música como forma de aumentar a representação.
A lista do Grammy é outro calcanhar-de-aquiles da música pop na questão de igualdade de gênero. Em 2021, a Recording Academy disse que faria um estudo para aumentar a presença de mulheres entre os indicados.
Naquele ano, segundo o levantamento da USC, 28% dos listados para concorrer ao prêmio nas seis principais categorias eram mulheres, uma situação bem melhor do que em 2013, quando a taxa era de 8%.
No entanto, em 2023 o índice piorou: apenas 15% dos indicados ao Grammy são mulheres.
“O progresso visto em 2022 para mulheres artistas é uma consequência importante do ativismo de longo prazo da indústria e da resposta do público.
Agora, o desafio é traduzir essa mudança em progresso contínuo para as mulheres em todos os aspectos da indústria, principalmente em papéis criativos nos bastidores”, diz o estudo.
O estudo completo, de autoria dos pesquisadores Stacy L. Smith, Dr. Katherine Pieper, Karla Hernandez & Sam Wheeler, pode ser visto aqui.
Este artigo faz parte da edição do Especial MediaTalks sobre Representação de gênero. Leia a edição aqui
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