Londres – Uma série de imagens dramáticas da crise na Venezuela mostrando migração forçada, violência e degradação ambiental foi a vencedora da etapa América do Sul do prêmio de fotojornalismo World Press Photo na categoria Projetos de Longo Prazo.
O trabalho, de autoria da fotógrafa e jornalista venezuelana Fabiola Ferrero, destaca a decadência do país e também a resiliência do povo ao longo dos últimos anos.
Outras questões sociais e ambientais também foram premiadas pelo júri do prêmio de fotojornalismo, um dos mais importantes do mundo, que este ano recebeu mais de 60 mil trabalhos de profissionais de 127 países.
Os vencedores do prêmio de fotojornalismo
O prêmio de fotojornalismo World Press Photo é dividido em seis regiões (África, Ásia, Europa, América do Norte/Central, América do Sul e Sudeste Asiático/Oceania).
Em cada uma, são premiados os melhores trabalhos nas categorias Foto Individual, Séries, Projetos de Longo Prazo e Formato Aberto, para projetos multimídia. Em abril serão anunciados os vencedores globais em cada uma delas.
Em 2022, o brasileiro Lalo de Almeida foi um dos premiados, com uma série sobre a Amazônia.
Veja o trabalho completo de Fabíola Ferrero retratando a crise na Venezuela e os demais fotojornalistas premiados na América do Sul.
Crise na Venezuela
Não consigo ouvir os pássaros, por Fabíola Ferrero, Fundação Magnum
Sete milhões de venezuelanos deixaram seu país para viver no exterior, impulsionados pelo colapso econômico, agitação política, alto desemprego e extrema desigualdade social.
Por volta da virada do milênio, a Venezuela era rica em petróleo e próspera, mas sua sorte declinou após a queda dos preços do petróleo, má administração econômica e instabilidade política. Os jovens, principalmente, começaram a sair do país.
“Eu fui uma dessas pessoas, mas voltei em busca de vestígios da Venezuela da minha memória”, disse Fabiola.
Um homem carrega uma mulher pelo rio Táchira, na fronteira da Venezuela-Colômbia. Pontes foram fechadas devido à pandemia da covid-19.
Uma venezuelana na migração colombiana mostra a cicatriz de um ataque de um homem que exigiu sexo como pagamento por uma tatuagem, em Maicao, na Colômbia.
Integrantes da Milícia Civil Bolivariana da Venezuela fazem ato para lembrar o quarto aniversário da morte do presidente Hugo Chávez, no Quartel de la Montaña, Caracas.
Polícia prende um homem durante uma manifestação de protesto de um referendo para destituir o presidente Maduro do cargo, em Caracas, Venezuela.
Homem dispara sua arma para homenagear parentes mortos em um ritual do grupo étnico ameríndio Wayuu, no deserto de Guajira, na fronteira Venezuela-Colômbia.
O lago Maracaibo, em Zulia, na Venezuela, está poluído por petróleo. Cerca de 1 mil barris vazam diariamente no local devido à infraestrutura antiga e sem manutenção, de acordo com a organização ambiental Azul Ambientalistas.
Um tanque de óleo está abandonado no Lago Maracaibo, em Zulia, Venezuela. Manutenção precária, combinada com falta de investimentos e recursos humanos fizeram a produção de petróleo da Venezuela atingir um mínimo histórico.
Crianças brincando em um local abandonado
Um casal dança tango no pátio do Parque Central, em Caracas, Venezuela. O complexo agora é mal conservado e inseguro.
O terceiro andar da Biblioteca Geral da Universidade de Oriente, em Sucre, Venezuela. Falta de investimento, estrutura desmoronando, saques e incêndios devastaram a biblioteca.
Melhor Foto
Derramamento de óleo em Lima, por Musuk Nolte, Fundação Berta
Uma dramática imagem em preto e branco documentando o trabalho de contenção de um vazamento de óleo em Lima, no Peru, considerado pelo governo o maior desastre ecológico do país, foi a vencedora da etapa América Latina do prêmio de fotojornalismo World Press Photo na categoria foto individual.
Musuk Nolte, nascido no México e radicado no Peru, sintetizou em seu registro o impacto do derramamento de quase 12 mil barris de óleo de uma refinaria da Repson, na praia Cavero, que poluiu praias, em janeiro de 2022.
O desastre matou animais selvagens e afetou meios de subsistência. Os efeitos do acidente ecológico devem durar 10 anos.
Melhor Série
Alpaqueros, por Alessandro Cinque, Pulitzer Center e National Geographic.
Vitais para a subsistência de muitas pessoas nos Andes peruanos, as alpacas enfrentam novos desafios devido à crise climática. Com as pastagens naturais encolhendo e as geleiras recuando, esses animais lutam cada vez mais para pastar e se hidratar.
As comunidades de alpaqueros (criadores de alpacas), por sua vez, podem ser forçadas a se mudar para altitudes mais altas ou a abandonar seus estilos de vida.
Para combater essas dificuldades, os cientistas esperam resolver o problema criando raças mais resistentes a temperaturas extremas.
Alina Surquislla Gomes, que faz parte da terceira geração de alpaqueras, segura uma bebê alpaca em Oropesa, Peru.
Alpacas descansam ao ar livre em Oropesa, Peru. Muitos criadores não podem construir abrigos para os animais, apesar das temperaturas congelantes.
Margaret Pilsen faz trabalhos manuais com lã de alpaca, em Cusco, Peru.
Felimon Paxi Menezes instala uma vagina de plástico em uma alpaca ‘fake’ para coletar sêmen no The Quimsachata Research and Production Center.
Família de criadores de alpaca executa o ritual para a ‘pachamama’ (Mãe Terra), em Tisco, Peru.
Equipe médica prepara uma alpaca para a cirurgia de fertilização em vitro, no Quimsachata Research and Production Center, o maior centro genético de alpacas de raças em todo o mundo.
O feto de uma alpaca é analisado no Quimsachata Research and Production Center. As pesquisas buscam criar raças mais resistentes ao clima extremo.
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Melhor projeto em Formato Aberto
Mudança, por Johanna Alarcón, Magnum Foundation e Panos Pictures
Valentina é uma jovem de 13 anos que sonha em se tornar uma fotógrafa e cuja mãe está presa por porte de maconha. A atual crise carcerária do Equador e a política de sentenças punitivas para drogas significam que a separação entre pais e filhos tem sido especialmente angustiante.
O tema abordado pela fotojornalista equatoriana Johanna Alarcón ficou com primeiro lugar na categoria Formato Aberto do prêmio de fotojornalismo World Press Photo.
“O vídeo e as imagens neste projeto multimídia giram em torno da imaginação e das experiências de Valentina como uma jovem artista, cujo rico mundo interior não é definido pelo encarceramento de sua mãe, mesmo enquanto ela aguarda o reencontro”.
A fotojornalista conheceu Valentina e sua mãe enquanto trabalhava em projetos com prisioneiros. Membros de sua própria família foram presos.
A combinação de fotografia analógica e digital com vídeo, animação e áudio mostra uma visão especial da vida interior de uma jovem artista que dá sentido ao mundo através de sua fotografia.
Menção honrosa
Além dos vencedores nas cinco categorias, o júri destacou o registro da vitória da Argentina na Copa do Mundo feito pelo fotojornalista Tomás Francisco Cuesta, da Agência France-Press, com menção honrosa.
Estima-se que cinco milhões de pessoas foram às ruas para participar do desfile e se juntar aos membros da seleção nacional em uma das maiores manifestações públicas da história da Argentina.
Fãs comemoram a vitória da Argentina na Copa do Mundo Fifa 2022 no Obelisco, no cruzamento das ruas 9 de Julho e Avenida Corrientes, em Buenos Aires.
Uma cena de como os argentinos comemoraram a volta da seleção do país após a conquista do título.
Para o atacante e craque Lionel Messi, a vitória consolida seu legado como um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos.
A imagem d0cumenta a celebração e a alegria da seleção argentina, apesar da crise social e econômica do país.
As imagens foram divulgadas pela organização do prêmio de fotojornalismo World Press Photo Contest 2023 e não podem ser reproduzidas sem autorização dos organizadores.
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