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Em carta, mais de 30 órgãos de imprensa globais pressionam Rússia por libertação de repórter americano

Rússia jornalista americano preso Evan Gershkovich

Londres  – Uma carta assinada por mais de 30 diretores e editores de empresas jornalísticas de vários países tenta pressionar a Rússia a libertar o jornalista americano Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, preso pelo serviço secreto russo (FSB) na quinta-feira (30)

Filho de russos radicados nos EUA, o jornalista de 31 anos foi detido na cidade de Yekaterinburg, acusado de espionagem quando fazia uma reportagem sobre  um complexo de fabricação de tanques. 

A carta foi endereçada ao embaixador russo nos EUA, Anatoly Antonov. Entre os signatários estão Associated Press, The New York Times, The Washington Post, BBC, revista Time, Euronews, Bloomberg News, Sky News, The New Yorker, The Economist, The Guardian e The Times, que presente ao mesmo grupo editorial do Wall Street Journal, News Corp, de propriedade do magnata da mídia Rupert Murdoch. 

‘Jornalista americano preso na Rússia não é espião’

É a primeira vez que um jornalista americano é preso sob acusações de espionagem pela Rússia desde a Guerra Fria.

Também assinam a organizações de direitos humanos e de jornalismo, como a ANJ (Associação Nacional de Jornais) do Brasil, presidida por Marcelo Rech. 

“Gershkovich é um jornalista, não um espião, e deve ser libertado imediatamente e sem condições”, disse a carta, organizada pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas. 

O texto ataca a política de censura e perseguição a jornalistas e veículos de imprensa empreendida pelo regime de Vladimir Putin, que começou bem antes da guerra com a Ucrânia e se intensificou desde então. 

“A prisão injustificada e injusta de Gershkovich é uma escalada significativa nas ações anti-imprensa de seu governo”, diz a carta.

“A Rússia está enviando a mensagem de que o jornalismo dentro de suas fronteiras é criminalizado e que os correspondentes estrangeiros que procuram fazer reportagens sobre a Rússia não desfrutam dos benefícios do estado de direito.”

A carta assinala que o jornalista é cidadão dos Estados Unidos e tem um longo histórico profissional, tendo morado em Moscou por vários anos e sendo credenciado no Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

E pede, como um primeiro passo urgente, que ele tenha acesso imediato a um advogado fornecido por seu empregador.

“Também exigimos a confirmação de seu bem-estar e que ele possa se comunicar com sua família”, diz o texto. 

Jornalista refém de Putin, diz Post

Na sexta-feira, a Casa Branca se manifestou sobre o caso, que deve agravar as tensões entre Rússia e EUA. 

O secretário de Estado, Antony Blinken, disse em um comunicado:

“Nos termos mais fortes possíveis, condenamos as contínuas tentativas do Kremlin de intimidar, reprimir e punir jornalistas e vozes da sociedade civil.”

A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, classificou as acusações de espionagem de “ridículas”.

O direcionamento de cidadãos americanos pelo governo russo é inaceitável”.

Na avaliação do editor de opinião internacional do Washington Post, Jason Rezaian, “Putin não agiu simplesmente para expulsar os jornalistas estrangeiros como um grupo”. 

Em vez disso, afirma o jornal “ele pegou um, tomou-o como refém e agora, com toda a probabilidade, o sujeitará a um longo julgamento de fachada.”

O jornal comparou o caso ao da jogadora de basquete Britney Greener, que foi libertada na Rússia em uma troca de prisioneiros. 

Evan Gershkovich já fez várias reportagens sobre aliados de Vladimir Putin na guerra, como esta sobre Ramzan Kadyrov. O fato de ser um jornalista de um grande veículo americano que já trabalhou para outros dois – New York Times e Washington Post o fazem um refém perfeito, pela repercussão do caso. 

Ao anunciar a prisão do repórter Evan Gershkovich, o FSB reconheceu que ele tinha credenciamento do Ministério das Relações Exteriores da Rússia para trabalhar como jornalista.

Mas a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, disse que Gershkovich estava usando suas credenciais como proteção para “atividades que nada têm a ver com jornalismo”.

O comunicado do governo diz que ele foi apanhado “em flagrante” quando espionava. 

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