Londres – O prêmio de fotojornalismo World Press Photo, que já anunciou os vencedores das seis etapas regionais de sua edição 2023, reconheceu fotos e reportagens fotográficas que registram os efeitos das mudanças climáticas sobre o meio ambiente e sobre as pessoas, mas também a adaptação para lidar com elas.
A série de autoria do fotógrafo italiano Simone Tramonte, premiada como o melhor projeto de longo prazo na etapa Europa do concurso, apresenta soluções tecnológicas que já estão sendo adotadas no continente para reduzir o impacto das atividades humanas e atingir a meta de zerar emissões.
Em outras regiões do mundo, incluindo na América do Sul, problemas ambientais como secas, enchentes e escassez crônica de água transformam paisagens, vidas e economias, exigindo soluções alternativas como melhoramento de espécies para suportar temperaturas extremas.
Fotos destacam soluções europeias para o meio ambiente
A União Europeia estabeleceu como meta reduzir as emissões de gases do efeito estufa em pelo menos 55% até 2030 e eliminá-las até 2050. Simone Tramonte documenta na série ‘Transição Net-Zero’ tecnologias inovadoras que oferecem caminhos possíveis para atingir a meta de zerar as emissões, aplicadas na produção de energia, de alimentos e na economia circular.
Um operador realiza uma verificação de rotina de um fotobiorreator em uma instalação de de microalgas em Reykjanesbær, Islândia. A empresa usa algas para produzir um suplemento alimentar rico em antioxidantes.
Um trabalhador colhe tomates em uma estufa em Ostellato, Itália. A alta eficiência das luzes de LED, usando 100% de energia verde, garantem uma colheita sustentável durante toda o ano.
Trabalhadores monitoram o crescimento de mudas em uma fazenda vertical perto de Milão, Itália. A foto mostra o cultivo em pilhas verticais para aumentar a eficiência do uso da terra e reduzir o consumo de água, um dos grandes desafios para proteger o meio ambiente.
A câmara é uma central de conversão de resíduos em energia e fica em Turim. Ela alimenta a maior rede de aquecimento na Itália, servindo cerca de 9,3 mil casas e mais de 500 mil pessoas.
Esta usina solar em Fuentes, na Andalucía, Espanha, pode fornecer energia ininterrupta. Em vez da luz solar, ela usa o calor solar (que é mais facilmente armazenado) para gerar eletricidade.
Austrália: mudanças climáticas provocam inundações
A série ‘Inundações australianas em infravermelho, de Chade Ajamian, foi eleita a melhor na edição regional Sudeste da Ásia / Oceania do World Press Photo 2023.
Ela fornece uma perspectiva única sobre as inundações que devastaram áreas em Nova Gales do Sul, na Austrália em março de 2021, forçando a evacuação de 18 mil pessoas.
As fotos em infravermelho destacam a vegetação em tons de rosa e vermelho, contrastando nitidamente com os azuis, que representam a água, facilitando o trabalho das equipes de resgate e recuperação do meio ambiente.
A imagem em infravermelho permite observar a inundação ao longo do rio Hawkesbury, na via principal navegável que envolve a região metropolitana de Sydney. O nível do rio subiu mais de 13 metros.
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Ásia: escassez de água e as consequências para o meio ambiente
O projeto de longo prazo’Águas agredidas’, da fotógrafa Anush Babajanyan, foi o vencedor na região Ásia do World Press Photo, e documenta o problema da água na Ásia Central.
Quatro países sem litoral da Ásia Central estão enfrentando a crise climática e a falta de coordenação sobre o abastecimento de água que compartilham.
O Tadjiquistão e o Quirguistão, acima dos rios Syr Darya e Amu Darya, precisam de energia extra no inverno. Rio abaixo, o Uzbequistão e o Cazaquistão precisam de água no verão para a agricultura.
Historicamente, os países trocavam sazonalmente energia de combustíveis fósseis por água liberada de barragens, mas desde a queda da União Soviética e o surgimento de indústrias privatizadas, esse sistema tornou-se desequilibrado. O uso insustentável da água e as recentes secas intensas agravam os problemas.
O lodo no rio Amu Darya no Uzbequistão dá a água uma cor vermelha escura. Os níveis de água no rio continuam a diminuir.
A geleira Tuyuksu no Cazaquistão, entre as montanhas na fronteira com o Quirguistão, recuou mais de 1 quilômetro nos últimos 60 anos, afetando o abastecimento de água na região.
Piloto de Sonunbek Kadyrov em seu táxi aquático. Ele atende a aldeia de Kyzyl-Beyit, no Quirguistão. O acesso à estrada principal foi bloqueado por uma inundação durante a construção da represa Toktogul na década de 1960.
Crianças brincam em um parque infantil ao ar livre perto do rio Naryn, em Ak-Kyya, no Quisguistão. O Naryn, que alimenta o rio Syr Darya, fornece energia hidrelétrica para a região.
Mulheres visitam uma fonte termal que brota no leito seco do Mar de Aral, perto da aldeia de Akespe, no Cazaquistão. Quarto maior lago do mundo, o Mar de Aral perdeu 90 % do seu conteúdo desde que a água do rio passou a ser desviada.
Visitantes fotografam a barragem de Rogun, no leste do Tadijiquistão, onde está sendo construída uma hidrelétrica. A barragem, de 335 metros de altura, tem conclusão prevista para 2028/2029.
África: oásis são proteção contra desertificação
Os oásis dependem de um delicado equilíbrio de três elementos – abastecimento abundante de água, solo de boa qualidade e tamareiras – para funcionarem como ilhas de biodiversidade e barreiras contra a desertificação.
Eles são o tema da série escolhida como a melhor no World Press Photo África em 2023, de autoria do fotógrafo M’hammed Kilito. Ele explica a gravidade da crise no meio ambiente retratada nas fotos.
No Marrocos, a atividade humana destrutiva e o aquecimento global estão destruindo esse ecossistema. Aproximadamente dois terços do habitat de oásis do Marrocos desapareceram no século passado, devido a fatores como aumento das temperaturas, incêndios e escassez de água.
A degradação dos oásis, por sua vez, afeta os habitantes, causando diminuição da produção agrícola, pobreza, deslocamento e danos ao meio ambiente.
Esta é a única fonte de água no oásis Tighmert, no Marrocos. O nível do lençol freático caiu drasticamente no local nos últimos cinco anos.
Os depósitos de água são transferidos aos usuários por meio de divisores de pedra e canais de terra no oásis Figuig, no Marrocos.
A vegetação ressecada pelo calor e pela falta de água no oásis de Tighmert representa uma ameaça de incêndio. Recentemente o fogo destruiu casas, centenas de tamareiras e hortas e matou cerca de 400 cabeças de gado.
Um homem verifica o nível de água de um poço no oásis de Merzouga, no Marrocos. Poços profundos podem esgotar o lençol freático, deixando os agricultores que não têm acesso a eles sem abastecimento.
A carcaça de um dromedário que morreu de sede depois de se perder no deserto, perto do oásis de Tighmert.
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EUA: clima mais quente prejudica colônias de abelhas
Uma imagem que sintetiza o impacto da crise climática sobre as abelhas que produzem mel e polinizam plantações, demandando soluções alternativas, valeu a Jonas Kakó o prêmio de melhor foto única do World Press Photo América do Norte/Central.
Uma diminuição substancial no fluxo do rio Colorado, causada pela falta de chuva e aumento da demanda por água, exige que esses trabalhadores em uma colmeia próxima ao deserdo de Wenden, no Arizona, forneçam água para as abelhas em bebedouros.
O calor e a seca enfraquecem as abelhas, tornando-as mais suscetíveis a patógenos e parasitas, e afetam as plantas das quais se alimentam.
Entre 2019 e 2020, as colônias de abelhas diminuíram 43,7% nos EUA.
América do Sul: as alpacas e a crise climática
Na América do Sul, o fotógrafo Alessandro Clinque retratou os desafios enfrentados por criadores de alpacas na região andina do Peru. A série foi eleita a melhor pelo júri do World Press Photo na região.
Vitais para a subsistência de muitas pessoas nos Andes peruanos, as alpacas têm dificuldades para pastar e se hidratar diante do recuo das geleiras e encolhimento das pastagens.
Para combater essas dificuldades, os cientistas esperam resolver o problema criando raças mais resistentes a temperaturas extremas.
Alpacas descansam ao ar livre em Oropesa, Peru. Muitos criadores não podem construir abrigos para os animais, apesar das temperaturas congelantes. Alguns estão sendo forçados a se mudar para atitudes mais altas ou abandonar a atividade
O feto de uma alpaca é analisado no Quimsachata Research and Production Center. As pesquisas buscam criar raças mais resistentes ao clima extremo.
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