Depois de cinco meses da prisão do jornalista franco-afegão Mortaza Behboudi, detido em circunstâncias consideradas absurdas, organizações internacionais elevam a pressão sobre o governo do Afeganistão para libertá-lo. 

Nesta quarta-feira (7), entidades de defesa da liberdade de imprensa, organizações de jornalismo e profissionais do setor participaram de uma mobilização nas redes sociais cobrando do regime Talibã uma solução para o caso do jornalista detido. 

Para o Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o incidente é “kafkaniano”. Assim como em “O Processo”, de Franz Kafka, a prisão de Behboudi ocorreu sem acusações nem causas evidentes.  

Jornalista detido sob suspeitas de ‘espionagem’ 

Mortaza Behboudi iniciou a carreira a0s 16 anos como fotojornalista no Afeganistão. Ele deixou seu país natal aos 21 anos, após receber ameaças. 

Acolhido na França, fundou o site de notícias Guiti News, que cobria acontecimentos em Cabul, capital de onde foi exilado. Manteve em paralelo uma carreira como repórter freelance, com trabalhos premiados na área de conflito e imigração.

manifestantes pedem libertação de jornalista detido há cinco meses no afeganistão sem motivo aparente
(Foto: Aleksandra Mostovaja/Acervo Pessoal/Facebook)

O jornalista foi detido em 7 de janeiro deste ano, 48 horas após sua chegada ao Afeganistão, quando se dirigia ao Ministério de Relações Internacionais para buscar sua credencial de imprensa.

Desde então, Behboudi permanece atrás das grades sob suspeita de espionagem, porém sem evidências nem inquérito oficial apresentado pelas autoridades, segundo a RSF.

Em nota, o secretário-geral da ONG, Christophe Deloire, exigiu que o governo de Cabul “encerrasse esse caso absurdo” de uma vez por todas:

“As autoridades do Talibã não apresentaram nenhuma evidência para explicar a prisão de Mortaza Behboudi, um jornalista que está claramente pagando pelo seu profissionalismo.”

O repórter e fotógrafo recebeu duas vezes o Premio Bayeux para Correspondentes de Guerra — primeiro pela cobertura sobre a vida sob o Talibã e em seguida, pela participação em uma reportagem sobre famílias que vendiam suas filhas para sair da pobreza.

Jornalistas de vários países, principalmente da França, aderiram à campanha para pressionar o governo Talibã. A mulher do jornalista também se manifestou nas redes sociais. 

Aleksandra Mostovaja escreveu: “Durante esse tempo [de prisão], vivo na ausência de amor, porque não há amor sem a liberdade do meu marido. E não haverá liberdade se não lutarmos por ela”.

‘Jornalista está bem’, dizem autoridades

Em fevereiro deste ano, Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã, confirmou que o jornalista havia sido detido pela Diretoria Geral de Inteligência (DGI), segundo a agência de notícias estatal dos EUA Voice of America.

A DGI tem papel fundamental na censura, perseguição e prisão de jornalistas no país. 

O representante também declarou à agência que o caso não poderia vir à público, mas que Behboudi “estava bem e sendo bem tratado”. 

Imediatamente após a detenção, o repórter buscou ajuda de diversos ativistas de direitos humanos, não chegando a aparecer no local combinado e com seu celular inacessível.

Desde a prisão, entidades e jornalistas iniciaram uma campanha pela libertação de Behboudi, que contou com show solidário e um apelo coletivo assinado por 25 veículos de imprensa franceses. 

Atualmente, o Afeganistão ocupa a 152ª posição entre 180 nações no Índice de Liberdade de Imprensa da RSF.

Segundo a ONG, a tomada de poder pelo Talibã agravou a situação do jornalismo independente e segurança de jornalistas — especialmente mulheres.