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Dia do Orgulho LGBTQIA+: imagens raras mostram a luta por direitos antes e depois de Stonewall

Londres – O Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ é celebrado em 28 de junho em homenagem ao episódio que se tornou marco na história do movimento contra a discriminação: a Rebelião de Stonewall. 

Nessa data, em 1969, a polícia de Nova York invadiu o bar gay Stonewall Inn, no bairro de Greenwich Village, desencadeando manifestações de membros da comunidade LGBTQIA+ e de pessoas que apoiavam a causa. A foto que faz parte do arquivo histórico da Getty Images mostra o momento em que uma multidão tenta impedir as prisões e foi estampada em jornais da época.

Foto ataque à boate Stonewall é uma das fotos do arquivo da Getty Images sobre a história do movimento LGBTQ
Ataque à boate Stonewall em 28 de junho de 1969 / Foto: NY Daily News / Archive Getty Images

 

A história do movimento LGBTQIA+ em imagens

Mas a luta começou bem antes de Stonewall, com pioneiros que desafiaram convenções sociais e até leis que criminalizavam o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. 

Para homenagear o Dia do Orgulho LGBTQIA+, a curadora do Hulton Archive da Getty, Melaine Llewellyn, vasculhou a coleção para encontrar imagens que retratam personagens e abordagens importantes para a história do movimento LGBTQIA+ no mundo, desde o século 18. 

“Apesar de o Hulton ser um dos maiores arquivos privados de fotografia do mundo, foi um desafio rastrear histórias LGBTQA+ no acervo”, disse a curadora da Getty Images. 

O Hulton fica em Londres, capital do país em que até 1967 homossexualismo era crime. “A representação autêntica e aberta de vidas LGBTQIA+ são escassas – os poucos registros eram produzidos longe da atenção pública”, diz Llewellyn. 

A revolta em Stonewall foi um ato de coragem, como mostra esta a de um grupo em pose desafiadora que não teve medo de se expor do lado de fora do bar,  fechado após os tumultos que duraram seis dias e catalisaram o movimento por direitos de pessoas LGBTQIA+ nos EUA.

Foto: Fred W. McDarrah / Coleção MUUS / Getty Images

Desafiando noções de gênero e sexualidade no século 18

Um dos primeiros registros encontrados no Hulton Archive é de uma personalidade que rompeu com as noções de gênero e sexualidade no fim do século 18: o diplomata francês, soldado e espião do século XVIII Chevalier d’Éon.

Ele nasceu Charles Geneviève Louis Auguste André Timothée d’Éon de Beaumont. Lutou na Guerra dos Sete Anos e foi um espião bem-sucedido antes de passar a se apresentar em público como mulher. 

“Seu legado era tão grandioso que o termo ‘Eonismo’ foi usado antes mesmo de a palavra transgênero ser criada, em 1965, diz a curadora da Getty. 

Na imagem, publicada na London Magazine em 1777, o aventureiro e diplomata francês Chevalier d’Éon aparece vestido parcialmente de mulher.

Foto: Hulton Archive / Getty Images

Essa busca por definição e compreensão além do binarismo pode ser observada no artigo ‘Chevalier d’Éon era homem ou mulher?’, publicado em 16 de abril de 1916. Foi escrito mais de um século depois de sua morte, em 1810, e recentemente descoberto no Hulton Archive.

A matéria do jornal britânico The News Of The World fala sobre a vida do diplomata que tinha características físicas andróginas e vivia tanto como homem quanto como mulher.

Foto: Hulton Archive/Getty Images

Retratos de uma geração LGBTQIA+

Nas coleções mais antigas da Getty Images estão registros feitos pelas primeiras agências de fotografia do mundo, incluindo retratos em estúdio com representações LGBTQIA+ produzidos feitos muito antes de os movimentos organizados surgirem. 

A London Stereoscopy Company, fundada em 1854, foi uma das primeiras empresas a licenciar imagens para uso comercial. Essa fotografia, de 1870, foi digitalizada a partir de um negativo original em chapa de vidro, deixando à mostra a pátina da emulsão envelhecida.

 O registro das duas mulheres mostra como as “transformistas masculinas” estavam presentes na cena artística em plena Inglaterra vitoriana. 

Foto: London Stereoscopic Company / Hulton Archive / Getty Images

“Ao atuarem trajando roupas masculinas em um período que só homens podiam usar calças compridas, essas mulheres subversivas e satíricas se tornaram extremamente populares”, explica Melanie Llewellyn.

Anos mais tarde, em 1930, quando mulheres já podiam usar calças mas um traje a rigor masculino não era ainda comum, a cantora de blues e pianista Gladys Bentley posou para um retrato nos bastidores do Ubangi Club, no Harlem (Nova York), desafiando as convenções.

Foto: Michael Ochs / Archives / Getty Images

Oscar Wilde e a repressão de pessoas LGBTQIA+ 

O autor e dramaturgo irlandês, Oscar Wilde, que viveu entre 1854 e 1900,  foi amplamente celebrado por seu trabalho literário. Esse retrato, de 28 de maio de 1889, feito por W. & D. Downey é um sinal de seu status social, com roupas elegantes e pose nobre. 

´Foto: W. D.. Downey / Hulton Archive / Getty Images

No entanto, o prestígio e reconhecimento não o protegeram da discriminação.

Seis anos depois, Wilde foi preso e condenado por “indecência” em razão de sua homossexualidade, que tentou manter em segredo até que um romance com um membro da aristocracia inglesa se tornou público. A sentença e o trabalho pesado durante seu aprisionamento contribuíram para a sua morte precoce, aos 46 anos. 

Quase 30 anos após a morte de Wilde, outra escritora inglesa, Marguerite Radclyffe Hall (na foto com a escultura e tradutora Lady Una Trowbridge, com quem teve um longo relacionamento), abandonou os simbolismos e as metáforas para escrever abertamente sobre homossexualidade em seu romance ‘The Well of Loneliness’ (O Poço da Solidão), publicado em 1928. 

Foto: Fox Photos / Hulton Archives / Getty Images

Na época o livro foi banido da Grã-Bretanha por sua abordagem simpática à homossexualidade feminina. Radclyffe Hall chocou a sociedade ao se vestir como homem, namorar mulheres e usar o nome de John. 

Pessoas transgênero na mídia: quebrando barreiras para o movimento LGBTQIA+

Esta folha de contato (provas em miniatura de fotografia analógica antes da ampliação) retrata Roberta Cowell, que nasceu em 1918 e morreu em 2011. Piloto de corrida de automóveis e de aviões militares durante a Segunda Guerra, ela foi a primeira mulher a se submeter a uma cirurgia de redesignação sexual na Grã-Bretanha, em 1948.

Foto: Maurice Ambler/Picture Post/ Hulton Archive/Getty Images

Cowell foi capa da edição de 13 de março de 1954 da revista Picture Post, contando sua própria história. 

Foto: Maurice Ambler / Picture Post / IPC Magazines / Getty Images

A estrada para a aceitação de pessoas LGBTQTIA+ mostrou-se longa e cheia de obstáculos.

Três anos de Stonewall, em abril de 1966, um barman do Juliu’s Bar, em Nova York, é flagrado pelo fotógrafo Fred McDarrah recusando-se a servir  bebidas para John Timmins, Dick Leitsch, Craig Rodwll e Randy Wicker, membros da Mattachine Society, um dos primeiros grupos americanos de direitos gays, que protestavam contra leis que impediam o atendimento a clientes homossexuais. 

Foto: Fred W. McDarrah / Coleção MUUS / Getty Images

O desafio organizado do grupo, que fazia visitas a bares par denunciar a discriminação, deu resultado. A Comissão de Direitos Humanos decidiu que os homossexuais tinham o direito de serem servidos nos estabelecimentos. 

A era das paradas do movimento LGBTQIA+  

A primeira edição da Pride, a parada do orgulho gay em Londres, aconteceu em 1972 e reuniu 2 mil pessoas. Parece pouco para os dias de hoje, em que o evento paralisa o centro da cidade, mas é notável considerando que ser gay deixara de ser crime apenas cinco anos antes.

Esta imagem do arquivo da Getty Images mostra uma cena icônica, muitas vezes reproduzida em jornais e revistas: uma alegre Marilyn Monroe carrega com orgulho a bandeira do arco-íris em 1994. 

Foto: Steve Eason / Hulton Archive / Getty Images

Quatro anos depois, celebridades se uniram contra um retrocesso para o movimento LGBTQIA+: o Parlamento britânico aprovou uma emenda proibindo que autoridades locais (equivalente a prefeituras) ‘promovessem’ a homossexualidade.  O dispositivo só foi revogado em 2003. 

Foto: Steve Eason/ Hulton Archive/Getty Images

Entre os presentes estão o escritor e comediante Simon Fanshawe, o ator Michael Cashman, a comediante Rhona Cameron e a ativista Peter Tatchell.

Legislações que aumentam discriminação contra pessoas LGBTQIA+ ou restringem seus direitos não ficaram no passado, tornando o movimento por direitos que teve em Stonewall um marco cada vez mais necessário.

Em 2022, o estado da Flórida (EUA) aprovou a controvertida lei “Don’t Say Gay”, proibindo aulas sobre gênero e orientação sexual nas escolas até o terceiro ano do ensino fundamental. 

Após a aprovação, a ONG Center for Countering Digital Hate publicou um relatório apontando aumento de 400% em narrativas falsas sobre pessoas LGBTQI+ no Facebook e Twitter. 

 


As imagens sobre a história do movimento LGBTQIA+ foram publicadas com a autorização do Hulton Archive /Getty Images e não podem ser reproduzidas.


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