Londres – No terceiro aniversário dos protestos pró-democracia em Hong Kong, reprimidos pelo governo da China com uma escalada de perseguição a dissidentes e ao jornalismo independente, um jornalista japonês foi impedido de entrar no território. 

Nesta sexta-feira (30/6), Yoshiaki Ogawa foi detido ao desembarcar no aeroporto, interrogado e mandado de volta para Tóquio. Em dezembro de 2022, o mesmo havia ocorrido com uma fotógrafa japonesa.

Jornalista cobriu protestos de 2019 em Hong Kong

Ogawa, de 54 anos, é um jornalista freelancer que cobre Hong Kong desde 2014, incluindo os protestos pro-democracia de 2019. No dia 1º de julho daquele ano, uma marcha reuniu 500 mil pessoas. 

Autor do livro “Crônicas dos protestos de Hong Kong”, ele planejava investigar a situação na cidade depois que a lei de segurança nacional imposta por Pequim entrou em vigor, segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas.

A repressão severa ao jornalismo que se seguiu à lei levou ao fechamento dos principais veículos independentes, prisão e fuga de profissionais de imprensa

A imprensa do Japão relatou que Yoshiaki Ogawa foi detido no aeroporto e levado para uma sala, onde foi interrogado durante uma hora.

Ele foi forçado a assinar uma notificação de impedimento de entrada e a voltar ao Japão imediatamente. 

Os motivos para a recusa por parte das autoridades não foram informados. Pedidos de informação feitos por organizações de defesa da liberdade de imprensa não foram atendidos. 

Ao chegar ao Tóquio, o jornalista disse: 

“(Este incidente) me fez sentir como Hong Kong realmente mudou… isso seria impensável antes.”

O ato despertou protestos de organizações internacionais. Iris Hsu, representante do Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) na China, disse: “bloquear o acesso a jornalistas estrangeiros reflete as tentativas vergonhosas das autoridades de Hong Kong de sufocar reportagens críticas.”

Assim como o jornalista, a fotógrafa impedida de entrar em Hong Kong no fim do ano passado, Michiko Kiseki, também era conhecida por ter documentado os protestos de 2019. 

Sam Yip, ex-conselheiro distrital de Hong Kong e porta-voz da Japan-Hong Kong Democracy Alliance, que vive em Tóquio, considera o caso um exemplo do agravamento das condições de liberdade no território sob o domínio da China. 

As manifestações pró-democracia 

O território de Hong Kong passou 156 anos como colônia britânica por força do tratado de Nanquim, que encerrou a Guerra do Ópio entre os dois países, em 1842.

Sob o domínio britânico, Hong Kong se tornou um grande centro de negócios e uma cidade cosmopolita, com liberdade de imprensa e de expressão. A devolução para a China aconteceu em 1997. 

O acordo previa que as condições continuariam, com um modelo chamado “um país, dois sistemas”, significando que as restrições e leis repressivas do território chinês não seriam adotadas em Hong Kong após a devolução. 

Mas não foi o que aconteceu, e as liberdades foram sendo gradativamente suprimidas.

Em julho de 2019 eclodiu uma revolta popular que tomou conta das ruas por vários dias, reprimida com firmeza pelo governo local administrado pela China. 

Em 2020, entrou em vigor uma nova Lei de Segurança Nacional, sob a qual ativistas, dissidentes e jornalistas foram perseguidos, presos e condenados. Muitos se exilaram para não serem capturados. 

O caso mais notório de perseguição é o de Jimmy Lai, um bilionário magnata da mídia asiática, dono do extinto conglomerado Next.

 Seu jornal principal, o Apple Daily, foi fechado. O grupo teve que encerrar as operações

Lai foi alvo de vários processos judiciais movidos pelo governo. Ele está preso, condenado por fraude, e  aguarda mais um julgamento, que pode estender sua pena. 

A acusação é de conspiração com forças estrangeiras, com base na lei de Sedição, da era colonial. 

Atualmente, Hong Kong ocupa a 140ª posição no índice de liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras, que tem 180 nações listadas. Antes classificado de  “um bastião da liberdade de imprensa” passou a ser considerado “um espaço que silencia vozes independentes”.

A China está no penúltimo lugar desse ranking, à frente apenas da Coreia do Norte.