Londres -Na semana passada, o grupo alemĆ£o Alex Springer tornou mais concreta a ameaƧa que assombra o jornalismo hĆ” tempos: a perda de empregos devido ao uso da inteligĆŖncia artificial (IA).

A IA nĆ£o Ć© novidade nas redaƧƵes. PublicaƧƵes de vĆ”rios paĆ­ses jĆ” a utilizam de forma pontual para processos como redaĆ§Ć£o de notas com resultados de eleiƧƵes a partir de comunicados oficiais ou produĆ§Ć£o de textos com base em releases de administraƧƵes locais. 

O movimento do Alex Springer foi diferente. O grupo dono do Bild, tabloide mais vendido na Europa, e do Politico, entre outros tĆ­tulos importantes, anunciou o corte de 200 vagas para economizar ā‚¬ 200 milhƵes, atribuindo parte das demissƵes Ć  oportunidade de utilizar mĆ”quinas para tarefas hoje executadas por humanos. 

Foi a primeira vez que um grande grupo de mĆ­dia assume que a adoĆ§Ć£o da IA resultarĆ” em cortes.

Embora o Axel Springer tenha tentado amenizar o choque, sinalizando depois que apenas ‘algumas funƧƵes’ seriam afetadas pela IA, o anĆŗncio Ć© um marco, capaz de dar a outras empresas jornalĆ­sticas confianƧa para seguir os passos.

Empregos sob risco na era da IA

Jornalistas nĆ£o sĆ£o os Ćŗnicos sob risco de perder o emprego para a IA generativa, que se tornou hype hĆ” menos de um ano com o lanƧamento do ChatGPT.

Embora ele seja a face mais pop, nĆ£o Ć© o Ćŗnico com potencial de ameaƧar empregos. 

Nesta semana, o Deepgram, plataforma de transcriĆ§Ć£o de Ć”udio, anunciou a ferramenta Speech Summarization. Mais do que transcrever, o sistema faz um resumo do que foi transcrito. 

O exemplo usado no lanƧamento foi o de uma ligaĆ§Ć£o de call center.

Um longo diĆ”logo entre um cliente e o serviƧo de atendimento de uma marca de automĆ³veis, em que dĆŗvidas sobre o modelo sĆ£o esclarecidas e um test-drive Ć© agendado, virou um resumo de cinco linhas com tudo o que importava ser registrado no sistema.

O Deepgram nĆ£o sugere que a novidade seja usada para cortar atendentes, e sim que proporciona mais tempo para “contatos estratĆ©gicos”.

Mas nĆ£o Ć© difĆ­cil imaginar que o efeito colateral da reduĆ§Ć£o de tempo pode ser reduĆ§Ć£o da equipe. 

Sem querer alarmar mais ainda, esse tipo de sistema bem pode ser usado no jornalismo, para transcriƧƵes de lives, discursos ou mesmo entrevistas, resumidas de forma Ć”gil. 

O jornalista nĆ£o seria dispensado. AlguĆ©m precisa pautar, avaliar o texto final ‘sugerido’ pelo robĆ“ e editar. Mas hĆ” um processo intermediĆ”rio entre a pauta e o texto bruto que pode ser encurtado. 

Sistemas como o ChatGPT e as soluƧƵes do Deepgram baseadas em IA  tambĆ©m sĆ£o capazes de causar perda de empregos na comunicaĆ§Ć£o corporativa e nas agĆŖncias, como produĆ§Ć£o de anĆ”lises de cobertura de mĆ­dia e de conversas nas redes sociais. 

A ansiedade por IA

A intenĆ§Ć£o nĆ£o era mesmo alarmar. Mas se isso tiver acontecido, Ć© bom saber que os preocupados com a IA generativa ao alcance de todos nĆ£o estĆ£o sozinhos. 

Depois da ansiedade climĆ”tica, jĆ” temos a “ansiedade por IA”. Em um artigo sobre o tema no portal de textos acadĆŖmicos The Conversation, a pesquisadora de CiĆŖncia do Comportamento e Psicologia da Universidade das NaƧƵes Unidas Sanae Okamoto descreve o sentimento. 

Ela compara o medo da IA a outros transtornos de ansiedade relacionados Ć  dificuldade de lidar com incerteza e ambiguidade. 

Entre os motivos para essa ansiedade estĆ£o o medo da desinformaĆ§Ć£o, alĆ©m do Ć³bvio temor de perder o emprego. 

Ainda nĆ£o hĆ” remĆ©dio, mas Okamoto dĆ” quatro conselhos. 

Um deles Ć© fazer uma pausa da IA, usando sistemas como o Digital Detox. Isso nĆ£o significa, no entanto, que a IA vai embora.

Ɖ isso que ela diz em outro conselho: “admita que a inteligĆŖncia artificial jĆ” estĆ” entre nĆ³s”, em situaƧƵes corriqueiras como a seleĆ§Ć£o de um programa na Netflix ou uso do Google Maps. 

Outra recomendaĆ§Ć£o que pode gerar tensĆ£o Ć© a de acompanhar a legislaĆ§Ć£o, que ainda engatinha no mundo. Isso pode causar mais ansiedade. 

O quarto conselho Ć© o mais importante e necessĆ”rio: “prepare-se para novas perspectivas de carreira”, aprendendo a usar a IA em seu trabalho e investindo ā€œnas habilidades humanas que ela nĆ£o pode ainda [o grifo nĆ£o Ć© meu] substituirā€. 

NĆ£o Ć© tĆ£o fĆ”cil controlar a ansiedade por IA. 

Na semana passada, o grupo alemĆ£o de mĆ­dia Alex Spring to

Ainda nĆ£o hĆ” remĆ©dio, mas Okamoto dĆ” quatro conselhos – nem todos possĆ­veis de serem seguidos. 

Um deles Ć© fazer uma pausa da IA, usando sistemas como o Digital Detox. O problema Ć© que vocĆŖ pode pausar, mas ela continuarĆ” lĆ”. 

Ɖ isso que ela diz em outro conselho: “admita que a inteligĆŖncia artificial jĆ” estĆ” entre nĆ³s”, em situaƧƵes corriqueiras como a seleĆ§Ć£o de um programa na Netflix ou o uso do Google Maps. Isso torna difĆ­cil colocar em prĆ”tica o outro conselho. 

Outra recomendaĆ§Ć£o difĆ­cil Ć© acompanhar a legislaĆ§Ć£o, que ainda engatinha no mundo e isso pode causar mais ansiedade. 

O quarto conselho Ć© o mais importante e necessĆ”rio: “prepare-se para novas perspectivas de carreira”, aprendendo a usar a IA e investindo nas habilidades humanas que a IA nĆ£o pode ainda (o grifo nĆ£o Ć© meu) substituir.  Por enquanto, nĆ£o vai ser tĆ£o fĆ”cil controlar a ansiedade.