Londres – Uma criança de apenas quatro anos que estava no carro do tio, o fotojornalista Rene Joshua Abiad, tornou-se mais uma vítima da escalada de violência contra profissionais de imprensa nas Filipinas.
O carro em que Abiad viajava com familiares foi alvejado por tiros disparados por um homem usando um carro com placa adulterada em Quezon City, no dia 29 de junho. A criança não resistiu e morreu no hospital três dias depois.
Em pouco mais de um ano do governo de Ferdinand Marcos Jr. os ataques a profissionais de imprensa se intensificaram, e dois jornalistas já perderam a vida como resultado de crimes associados ao seu trabalho. O Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) investiga um terceiro caso.
Abiad, um fotojornalista de 37 anos que cobre assuntos policiais para o jornal Remate Online, foi internado e não corre risco de vida, segundo a mídia local.
Além do menino que perdeu a vida, outros dois familiares também ficaram feridos, bem como um transeunte que estava na cena do crime e foi atingido por uma bala perdida.
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Grupo investiga atos de violência contra imprensa
A Força-Tarefa Presidencial de Segurança da Mídia, uma agência estatal encarregada de resolver assassinatos de profissionais de imprensa, disse em um comunicado que Abiad serviu como testemunha em casos de drogas para a Polícia Nacional das Filipinas e a Agência de Repressão às Drogas.
A legislação local exige a presença de testemunhas – profissionais de mídia e representantes do Departamento de Justiça – durante as operações antidrogas, o que expõe jornalistas a riscos.
O Sindicato Nacional de Jornalistas das Filipinas (NUJP) apelou pelo fim da prática de recrutamento de jornalistas como testemunhas:
“Embora concordar em ser testemunha em operações antidrogas seja louvável e, sem dúvida, feito por um senso de dever cívico, o NUJP há muito alerta contra a prática que coloca os profissionais em risco”.
“Quantos jornalistas precisam ser baleados antes que o governo Ferdinand Marcos Jr. leve a sério o problema da impunidade em seu país?” disse Shawn Crispin, representante do CPJ no Sudeste Asiático.
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Insegurança para jornalistas nas Filipinas
Jornalistas, editores e ativistas disseram ao CPJ que, embora Marcos Jr. tenha contestado o antagonismo aberto em relação à mídia praticado por seu antecessor, Rodrigo Duterte, essas “mudanças retóricas” não foram acompanhadas de ações efetivas para melhorar as condições da imprensa, que segue alvo de atos de violência.
“As autoridades filipinas não devem parar até encontrar e responsabilizar os responsáveis por atirar no jornalista Joshua Abiad e seus familiares, bem como os culpados por todos os outros atentados a jornalistas nos últimos anos.”
O porta-voz da polícia, Redrico Maranan Jr., disse na sexta-feira que a polícia criou um grupo especial de investigação para apurar o caso.
As autoridades revisaram as imagens de vigilância do local do incidente, que mostraram um homem vestindo uma jaqueta preta disparando vários tiros no carro de Abiad, enquanto um motociclista dava cobertura.
As Filipinas ficaram em sétimo lugar no mais recente Índice de Impunidade do CPJ, que destaca países em todo o mundo onde profissionais de imprensa são mortos em atos de violência e os assassinos são libertados.
O país é também notório pelo assédio judicial a jornalistas de oposição, movimento que não poupou sequer Maria Ressa, dona do site Rappler, que ganhou em 2021 o Prêmio Nobel da Paz por sua luta contra a censura e pela liberdade de imprensa.